A democracia de Dilma

Os aeroportos do Galeão, no Rio, e de Confins, região metropolitana de Belo Horizonte, leiloados na sexta-feira, alcançaram valores recordes superiores a R$ 20 bilhões. Mais: ambos foram arrematados por gente para lá de experiente.

Os alemães vão tocar o de Minas, e o da Ilha do Governador, hoje em frangalhos, será operado pelo mesmo grupo que gerencia o aeroporto de Cingapura, tido como o melhor do mundo.

Melhor, quase impossível.

Um contexto que não comporta o azedume da presidente Dilma Rousseff. Em vez de conectar o sucesso do leilão com serviços de primeiro mundo que os usuários poderão ter no futuro, a presidente preferiu a revanche: “todos aqueles pessimistas, aqueles incrédulos, hoje vão ter um dia de amargura, porque não deu errado”.

Não que o dito de Dilma tenha surpreendido. Torcer contra está no DNA do petismo. Retorceram o nariz para a Constituição de 1988, espinafraram o Plano Real, demonizaram as privatizações, esconjuraram o ajuste fiscal.

E medem todos pela mesma bitola. Crêem, fielmente, que os críticos ao governo que ocupam há 11 anos querem que o Brasil naufrague. Assim como apostaram na derrocada do País antes de chegarem ao poder.

Têm dificuldade de imaginar que a maior parte das pessoas, mesmo aquelas que discordam dos métodos petistas para se perpetuar no poder, quer apenas ter serviços melhores, que compensem a fortuna paga em impostos e taxas – as da Infraero, caríssimas.

No caso dos aeroportos, torcem mesmo é para se livrar da ineficiência do governo. Dos apagões, de saguão sem ar condicionado, banheiros quebrados, sem papel ou descarga, cena cotidiana do Galeão; dos puxadinhos intermináveis de Confins.

E é didático lembrar. Depois de deixar de ser do contra – e hoje, sabe-se, de passar a fazer o diabo – o PT chegou lá. E foi incapaz de mudar o que diziam discordar na Constituição. Rezam pelo evangelho que acusavam ser neoliberal, e, para o bem do País, privatizam e concessionam bens e serviços públicos. Dizem-se pais da estabilidade econômica, a mesma que estão colocando em risco.

Aqui mora o perigo. O êxito do leilão dos aeroportos é muito bem-vindo, mas não conseguirá esconder a inflação que insiste em bater no teto na meta, muito menos o descalabro das contas públicas. Alertar para isso, ao contrário do que quer fazer crer a presidente, é torcer a favor e não contra.

Talvez por ser avessa a privatizações e ter sido obrigada a se render a elas, ou por não entender o mundo fora da dicotomia do “nós”, os bons, e “eles”, o resto que não nos apoia, Dilma perdeu a chance de pelo menos parecer que governa para todos e não apenas para aqueles que com ela concordam.

Na democracia de Dilma, quem não se alia a ela está contra o País.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 24/11/2013. 

2 Comentários para “A democracia de Dilma”

  1. 12 ANOS DE PODER, O PÚBLICO INEFICIENTE ENTREGUE AO PRIVADO. O PT NÃO COSEGUIU SER EFICIENTE, PREFERIU ADERIR A PRIVATIZAÇÃO.OS SERVIÇOS NOS AEROPORTOS CONTINUARÃO INEFICIENTES, SÓ QUE MAIS CAROS, TAL COMO A TELECOMUNICAÇÃO, A ENERGIA, AS ESTRADAS, O MINÉRIO, O PETRÓLEO, ETC…RESTAM AINDA O BBE A PETROBRÁS. VIVA O MERCADO. SALVE O PT.

  2. Devagar com a empolgação, Zaidan. Desde que a Light apagou Copacabana e Leme em 2001, por não ter investido adequadamente, morreu qualquer expectativa de melhoria plena dos serviços, operados por gente “pra lá de experiente” em atuar num país em proveito próprio.

    O fato de que o Aeroporto da Ilha do Governador será explorado pelo mesmo grupo que gerencia o aeroporto de Cingapura pouco significa. Afinal, podemos perceber a diferença entre o serviço da Telefónica aqui e o serviço prestado en España, que os brasileiros nem sonham em alcançar, graças à Anatel.

    Não há nenhum motivo para esperar que tal aeroporto alcance a metade da qualidade daquele de Cingapura.

    As privatizações poderão não ser mais demonizadas, se forem menos lesivas ao patrimônio estatal e dos brasileiros (CVRD irresponsavelmente negociada por R$ 3 bi – R$ 0,7 bi).

    A eficiência nos serviços não deve custar-nos dezenas de bilhões em minérios. Ponto.

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