Uma vez dei uma porrada na Suely no meio de um show de Caetano. Péra lá: não foi uma agressão. Depois explico direito. Com Regina, discuti sobre Caetano ao longo dos dez anos de casamento. Discutíamos sobre tudo, e então, para discutir mais, cada vez que ela ficava mais caetanista, eu me dizia mais chiquista. Mais tarde usei Caetano na fase de conquista de Mary – e com Mary nunca briguei muito sobre Caetano, assim como não briguei sobre coisa alguma: em paz, nós dois nos deleitamos com a genialidade dele.
Uma vez, muitíssimos anos atrás, me peguei pensando nisso: até mesmo os grandes amores da vida passam. Passam, não são esquecidos, permanecem sempre, de alguma maneira, mas mudam; para alguns, podem se transformar em ressentimento, mágoa; para mim, permanecem como amizade, admiração profunda – e, agora, saudade eterna.
Caetano não passa nunca.
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Nunca tive a oportunidade de ver um show de Caetano ao lado de Suely, Regina e Mary juntas e ao vivo. Regina já havia nos deixado quando, em 2005, Caetano fez um show em São Paulo, num daqueles lugares grandes, acho que o Tom Brasil da Vila Olímpia, ao lado de Milton Nascimento. Eles haviam feito em parceria a trilha do filme O Coronel e o Lobisomem, e então fizeram uma série de shows – e felizmente fui ver, entre minha primeira e minha terceira mulher, mais minha filha. Foi uma das boas emoções que tive na vida, ver Caetano e Milton juntos e ao vivo ao lado delas. (No YouTube, os dois cantam “A Terceira Margem do Rio”.)
Lá numa determinada hora, Mirtão cantou um solo, exagerando aquele vozeirão exageradamente grande dele. Ao final da canção, Caetano pegou o microfone e fez uma declaração solene:
– “Puta que pariu!”
A imensa platéia viemos abaixo.
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Caetano é um caso raríssimo de pavão que consegue pavonear os outros.
Pavão, consciente de seu imenso talento, de sua imensa importância, talvez o maior pavão que este país já teve, ao lado de Fernando Henrique (e, por uma grande coincidência, os dois vão ficando cada vez mais belos, ao envelhecer), Caetano sempre adorou dar crédito aos outros. Está gravado para a eternidade, no discurso irado que ele proferiu no Tuca, ali pertinho de casa, em 1968, quando a platéia enfurecida não deixou que ele cantasse sua “É proibido proibir”, na fase classificatória do Festival Internacional da Canção de 1968 – aquele mesmo festival que terminaria com o público Fla-Flu vaiando Chico e Tom porque o júri deu o primeiro lugar a “Sabiá”, deixando a preferida “Caminhando” de Vandré em segundo lugar.
“Foi Gilberto Gil e fui eu”, ele berrava para a platéia que, se fosse em política como era em estética, provaria que estávamos fodidos neste país.
Recentissimamente, Caetano, um pavão que adora uma polêmica tanto quanto um holofote, entrou numa briga contra uma construtora poderosíssima, não importa se a OAS ou a Oderbrecht, que estava lançando em Salvador um milionário empreendimento com o nome de Tropicália. Queria impedir que a construtora usasse o nome do movimento que ele caetaneou, perdão, capitaneou. Pavão que adora dar crédito aos outros, escreveu belíssimo artigo em O Globo dizendo que fazia aquilo em nome de Nara Leão, pois Nara jamais admitiria aquele absurdo.
Pavão que às vezes parece humilde – o que é um absoluto contra-senso, um oxímoro –, nas entrevistas para o extraordinário documentário Uma Noite em 67, sobre o festival da Record em que ele cantou “Alegria, Alegria”, Gil, “Domingo no Parque”, e Chico, “Roda Viva” (e foram os três derrotados por Edu Lobo e Capinan com “Ponteio”), fala mais de Chico do que dele mesmo.
Nas entrevistas para esse mesmo documentário imperdível, Caetano – sem realçar o fato – fala sobre uma das poucas vezes em que ele e seu eterno colega camarada cúmplice Gilberto Gil estiveram em fronts opostos.
O filme fala bastante da absurda, ridícula passeata contra a guitarra elétrica na música brasileira, encabeçada por Elis Regina, e que teve a participação de Gil. Gil, em seu depoimento, tenta tirar o dele da reta, dizendo que foi à passeata porque Elis pediu. Caetano se lembra de ter olhado a passeata de uma janela do Hotel Danúbio (o hotel fica na Brigadeiro, bem perto do Teatro Paramount onde acontecia o festival, e muitos dos músicos que vinham do Rio se hospedavam lá), ao lado de Nara, e Nara dizia para ele: “Parece coisa de fascista!”
Caetano sempre mostrou admiração por Nara. Na capa do disco-manifesto Tropicália, de 1968, Gil segura uma foto de Capinan, Rogério O Homem do Plá Duprat, um penico e Caetano, uma foto de Nara, que comparece no disco cantando “Lindonéia”, dele e de Gil.
De maneira oposta, Caetano e Elis nunca se bicaram muito. Elis gravou Caetano pouquíssimas vezes; na verdade, só me lembro de uma canção dele gravada por ela, “Não tenha medo” – aliás, pouco conhecida e extraordinária. Elis se dava bem com Gil e com Milton, gravou músicas deles quando eram jovens estreantes, e por isso os dois sempre foram gratos a ela, mas nunca se deu muito nem com Nara, nem com Caetano, nem com Chico.
Nossa tentação brasileira de transformar tudo em Fla-Flu sempre opôs Nara a Elis, Chico a Caetano, assim como o mundo transformou em Chelsea-Real Madrid a dupla Lennon-McCartney. Sem querer entrar em Fla-Flu, mas entrando, digo que, na minha opinião, a admiração de Caetano por Nara e sua pouca simpatia por Elis prova que o pavãozão prefere o bom caráter.
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Uma vez escrevi, ou só pensei (será que escrevi?), que Caetano deveria ser colocado, mesmo que à força, dentro de um estúdio com a obrigação de ficar cantando e gravando tudo possível e imaginável. Todas as belas canções que já foram feitas no mundo. Tudo, absolutamente tudo.
Tudo o que Caetano canta fica lindo. Se Caetano gravasse “Parabéns pra você”, seria lindo.
Há de absolutamente tudo, na música popular. Há os cantores de voz poderosa, forte, ampla, como Milton, Jean Ferrat, Cat Stevens, Virgínia Rodrigues, Elvis Presley, Renato Russo, que, se fizessem treinamento específico, poderiam estar na ópera. Há os cantores de voz teatral, que interpretam as palavras realçando cada fonema, cada sílaba, cada significado, como Jacques Brel, Gilbert Bécaud, Ute Lemper, Maria Bethânia (às vezes o Milton também entra aqui). Há os tonitroantes, como Vicente Celestino, Nélson Gonçalves, Francisco Alves às vezes. Há os perfeitos, time raro, augusto, excelso: Bing Crosby, Frank Sinatra, Orlando Silva, João Gilberto, Ella Fitzgerald, Joan Baez, Sergio Endrigo, Eva Cassidy, Art Garfunkel. Há os taquara-rachada, como Fagner, Emmylou Harris, Neil Young – eu, pessoalmente, adoro todos. Há os de voz a rigor pequena, mas maravilhosa, como Fred Astaire, Maurice Chevalier, Nara, Mário Reis, Henri Salvador, James Taylor. Há os compositores de voz não tão bela, que a rigor não deveriam cantar, mas cantam genialmente, como Woody Guthrie, Bob Dylan, Leonard Cohen, Chico Buarque.
(E aproveito para dizer que os adoradores da bossa-nova inventaram a idéia de que só a bossa-nova criou o estilo cool de cantar. Bobagem imensa. Muito antes e além de João Gilberto já havia e haveria Fred Astaire, e Maurice Chevalier, e Mário Reis, e Chet Baker, e Julie London, só para citar alguns.)
Mas então: há de tudo, na música popular. Há tudo isso que falei aí atrás, e seguramente muito mais. E há ainda os especialíssimos, os que fazem o que querem com a voz, os que conseguem transformar “Parabéns pra você” em obra de arte maior.
Nessa categoria, na minha opinião, estão Paul Simon e Caetano Veloso.
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O fantástico é que, pavão, Caetano é também um camaleão.
Caetano faz o que quer com a voz que Deus lhe deu.
Quando começou, no disco Domingo, de 1967, dividido com Gal Costa, sua irmã siamesa musical, era um seguidor fiel de João, vozinha pequena, correta, bem colocada. (As antenas de artista genial, antenas tão poderosas como somente as de Nara, fizeram com que seu disco de estréia tivesse arranjos dos jovens Dori Caymmi e Francis Hime. Jovens promissores, aqueles, como o tempo mostraria.)
Mas, diante de uma voz mais ampla, mais possante, mais poderosa que a dele, o filho da mãe grita Shazam! e vira super-herói. Isso me impressionou demais quando ele fez dueto com Milton numa composição dos dois, gravada no disco anima, de 1982, “As Várias Pontas de uma Estrela”. Diante do desafio de enfrentar o vozeirão de Milton, Caetano sobe léguas acima do que normalmente pratica, e fica de igual para igual com o cabra.
Gritou Shazam! também quando gravou dueto com Virgínia Rodrigues, uma velha baiana cem por cento que ele descobriu e lançou em disco, para encanto de muita gente boa, inclusive Bill Clinton, que se declarou encantado por ela. Virgínia tem uma daquelas vozes que, sozinhas, fazem a gente se sentir pequenininho, como se ela estivesse cantando numa igreja muito, muito grande, a Saint-Peter de Londres, a Saint-Patrick de Nova York, a Sé de São Paulo (nunca estive na Basílica de São Pedro em Roma). Pois Caetano, para acompanhá-la em “Jeito Faceiro”, canção do Olodum que ela transforma em peça de câmara, o filho da puta dá um jeito de tirar do estômago uma voz de catedral.
Ele grita Shazam! a hora que quer, quando quer.
Pavãozão descomunal (quem será mais pavão, ele ou Fernando Henrique, os dois mestres?), no fundo, no fundo deve achar que é tão bom ou melhor que Bob Dylan, o compositor de música popular mais genial que já houve, no século que passou, nos que já passaram ou nos que estão para passar.
Em 1969, em prisão domiciliar na Bahia, compôs em inglês a música mais dylanesca já feita por um autor não-Dylan, “The Empty Boat”. Jamais, em tempo algum, um artista brasileiro ou não escreveu em inglês versos tão fortes, duros, amargurados quanto aqueles que o Caetano preso pela ditadura compôs: “From the stern to the bow, Oh; my boat is empty, Yes, my heart is empty From the hole to the how”.
Não contente em compor como se fosse Dylan, resolveu um dia cantar uma canção de Dylan. Escolheu uma das mais difíceis de todas as trocentas que o cara já compôs: “Jokerman” é uma trolha de frases indecifráveis, que vem com versos como estes, todos eles muito maiores que a frase musical que os contém:
Well, the Book of Leviticus and Deuteronomy, / The law of the jungle and the sea are your only teachers. / In the smoke of the twilight on a milk-white steed, Michelangelo indeed could’ve carved out your features. / Resting in the fields, far from the turbulent space, / Half asleep near the stars with a small dog licking your face.
Caetano canta “Jokerman” 200 vezes melhor que Dylan. Está gravado em disco, em DVD. E eu ouvi, no show que ele deu no antigo Palace, em Moema, que depois ganhou outros nomes e vai desaparecer para dar lugar a mais um prédio babaca.
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Eu estava lá, no show em que ele cantou “Jokerman” 200 vezes melhor do que Dylan, e Mary estava comigo.
E aí me lembro que esta anotação não era para ser propriamente sobre Caetano.
Todo mundo já escreveu sobre Caetano, a obra de Caetano, a importância de Caetano na cultura brasileira e mundial, com muito mais perícia, perfeição, do que eu saberia.
Esta é só uma anotação pessoal. Uma pequeníssima, humilde homenagem pessoal ao monstro, ao gênio.
Na verdade, nem tinha pensado em fazer anotação alguma sobre os 70 anos de Caetano. Foi Mary que provocou. “Você não vai falar nada sobre os 70 anos do Caetano?”, ela perguntou, no sábado, 4 de agosto. A Bolha de S. Paulo, também conhecida como a Falha de S. Paulo, tinha publicado naquele dia três páginas sobre Caetano. A Bolha é um jornal tão ridículo que fura o calendário – os 70 anos de Caetano são no dia 7, terça, mas a Falha quis sair à frente dos demais mesmo que o calendário dance.
Diante da provocação de Mary, botei no Facebook uns links para vídeos de Caetano.
E aí me ocorreu que talvez eu pudesse fazer sobre Caetano a única coisa que sei: um texto pessoal e intransferível – feito dor de dente, feito dor de amor.
O problema é que, quando se começa a falar sobre Caetano, é difícil parar.
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Num dia de especial inspiração, Gil, que sempre foi muito inspirado como artista do que como político, escreveu os versos definitivos: “do luar não há mais nada a dizer a não ser que a gente precisa ver o luar”. Belo modo de dizer que, apesar de já se ter dito tudo, ainda há muito a se dizer.
Caetano é assim como o luar de que falava Gil.
Caetano é o único compositor que bota a horrorosa palavra banguela numa canção e a transforma em uma palavra bonita. “O pintor Paul Gauguin amou a luz da Baía de Guanabara, / O compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela / A Baía de Guanabara / O antropólogo Claude Lévi-Strauss detestou a Baía de Guanabara / Pareceu-lhe uma boca banguela”.
Que tipo de música é “O Estrangeiro”, com aquele estranho, forte, inominável arranjo de Arto Lindsay?
Caetano compõe melodias em ritmos que não têm classificação.
Caetano experimenta, trilha mares nunca dantes navegados. Às vezes enche o saco com tanta experimentação. De Araçá Azul, de 1972, dizia-se que havia sido o disco recordista de devoluções das lojas à gravadora, em toda a história fonográfica brasileira. Era o primeiro disco que o puto fazia inteiramente no Brasil, após a volta do exílio em Londres, no mesmo ano em que havia sido lançado Transa, e esperava-se dele canções pra tocar no rádio, até mesmo para encher o saco dos milicos e de seus defensores. Pois aí, em 1972, no ano mesmo da volta ao Brasil, inspirou-se talvez em Walter Franco, talvez também no John Lennon de “Number 9” e dos chatérrimos discos experimentais com Yoko, e fez um Araçá Azul pra ninguém tocar no rádio.
Tem coisas maravilhosas, Araçá Azul.
Como pode fazer o que bem entender, até porque já experimentou tanto, desta maneira agradando à inteligentzia, aos uspianos, aos puquianos, os Augusto e Haroldo e Décio, e portanto também a 111% da douta crítica de música, Caetano pôde, a vida inteira, se aventurar pelo mais brega do brega do brega sem contestação dos antibregas. Cantou Peninha – e, em vez de ser execrado, os críticos deram-lhe o crédito de expandir as fronteiras da música brasileira também rumo a caminhos antes não aceitos. A verdade é que, do jeito com que ele canta Peninha, Peninha vira um grande autor. Não há coisa mais brega, mais babaca, do que “Feelings”, de Morris Albert, ou Maurício Alberto – e no entanto Caetano gravou “Feelings” e de repente “Feelings”, quer saber?, não é tão brega e babaca assim.
Cantou até com Odair José, o cara da absoluta debilidade mental do “não toma a pílula, não”! E não diminuiu de estatura por isso.
Muito antes, já no Tropicália, tinha cantado “Coração Materno”, uma das dez canções mais nojentamente horrorosas de toda a história da música universal – parecia que era uma gozação, e então tudo bem.
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Caetano sempre esteve tão à frente e tão acima de tudo, de todo o bem, todo o mal, que pôde demonstrar afeto, afeição, respeito pela Jovem Guarda quando isso era absolutamente impensável, impossível, naquele país conflagrado entre o Bem e o Mal dos tristíssimos anos 1967, 1968. O Bem, é claro, era a sacrossanta MPB, a linha de frente contra a ditadura. O Mal era quase absolutamente tudo o que não dizia que o tempo da igualdade tá chegando, sim, senhor. E os símbolos do Mal em Si, para as mentes Fla-Flu, eram Roberto Carlos e sua Jovem Guarda, que falavam de calhambeques quando era preciso dizer que o tempo da maldade tá chegando, sim, senhor.
Um dos mais belos textos que foram escritos durante a ditadura, na minha opinião, foi Caetano que fez. O texto que ele mandou para O Pasquim contando sobre a visita que recebeu de Roberto Carlos, durante o exílio londrino – “o rei esteve em minha casa, e eu chorei” –, para mim, que era jovem naquela época, me parece mais forte, mais fundamental, do que qualquer crônica que Carlos Heitor Cony tenha escrito no Correio da Manhã. Tão poderoso quanto os textos de Carlos Drummond no mesmo Correio da Manhã pedindo para os generais não prenderem Nara, ou para que as pessoas olhassem para as montanhas de Belo Horizonte, cujo belo horizonte estava sendo destruído pela aliança entre a ditadura e mineradora escolhida como campeã, no estilo miliquento que o lulo-petismo segue fielmente.
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Mas, como dizia Gil traduzindo Bob Marley, e como às vezes Regina me retrucava, tais recordações, retratos do mal em si, melhor é deixar pra lá.
Acabei aqui me lembrando muito de Caetanos do passado, mas é só para dizer que no presente não tem como não babar por Caetano.
E aí me ocorre que Caetano muitas vezes foi, ou pareceu ser, uma metamorfose ambulante.
Não gostaria de tingir muito com fel este texto, mas ao mesmo tempo não dá para não pensar nas diferenças profundas que existem entre as metamorfoses ambulantes de que nos falam.
Há as metamorfoses ambulantes do bem – a de Raul Seixas, a de Caetano. E há a ruim, a que é jogo de marketing para tentar explicar tudo o que é inexplicável, o roubo do país por um grupelho, quadrilha. Talvez até sofisticada, mas acima de tudo quadrilha.
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Persona política, Gil se pôs a fazer política partidária – e foi muito antes do lulo-petismo, lá pelos anos 80. Nunca deu muito certo como vereador, como candidato a prefeito de Salvador. O lulo-petismo inventou-o como ministro da Cultura, e, como tal, Gil trabalhou contra o que existe de mais básico na cultura, o direito de autor.
Caetano, felizmente, nunca misturou estações. Nunca achou que ficaria maior se tivesse cargo público. Muito antes ao contrário.
Amigo camarada cúmplice de Gil desde quando eram garotos, não se manifestou abertamente contra as bobagens políticas do outro. Mas não entrou nessa, não participou. Nem deu grandes provas de apoio.
Persona artística, Caetano é livre pensador, franco atirador.
A mi me gustan los franco atiradores.
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E aí, como diz Peter Gabriel, voltamos ao ponto em que começamos.
A porrada na Suely.
Estávamos meio no começo do namoro, ali por 1972, no show de Caetano, de volta ao Brasil, apresentando as canções do disco Transa no Tuca, o mesmo Tuca onde ele tinha sido vaiado e impedido de cantar que é proibido proibir. Caetano cantava “It’a long way”.
“It’a long way” é a canção do retorno, da volta do exílio. É assim uma espécie da Odisséia de Homero, a volta para a casa, enfim, após longos anos, bem temperada com citações de canções dos Beatles.
Era a primeira vez que eu ouvia, que Suely ouvia, que todo o Tuca ouvia “It’s a long way”. O disco ainda não tinha sido lançado, ou acabava de ser lançado.
Caetano vai entremeando Caetano com Beatles.
Em algum momento, acho que foi quando ele atacou de “it’s a long and winding road”, que, surpreso, apatetado, perplexo diante daquela maravilha, tasquei um tapa forte na perna de Suely, dizendo alguma coisa do tipo “mas é genial demais!” (Morri de vergonha dessa minha pequena idiotice, e por isso jamais me esqueci dela.)
Depois atravessaria três casamentos, e algumas boas paixões entre eles, Caetano sempre presente.
Sim, Regina e eu discutimos muito sobre Caetano, Chico, Gil, Milton. Discutimos tudo o que havia para discutir, e também o que não havia.
Só nos ferimos a nós mesmos. Nossas filhas cresceram amando Caetano (e Chico, e Gil, e Milton), cada vez mais. (E acrescento que me emocionou ver agora que as duas, Inês e Fernanda, comentaram este texto no Facebook, antes mesmo que eu as avisasse da existência dele.)
Me lembro, em especial, de quando Fernanda passou umas semanas em Cambridge, fazendo um curso que insisti para ela fazer, eu, eternamente fascinado pela cultura inglesa. Foi em Cambridge que minha filha adolescente compreendeu a importância de Bob Marley – e aumentou sua paixão por Caetano. De lá, me mandou uma carta linda, lindérrima, citando Caetano.
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Para que eu explique o que falei lá em cima, falta dizer como usei Caetano na tentativa de conquistar Mary.
Me interessei pela moça, numa ida a trabalho a Brasília. E então resolvi mandar uma fita de música para ela. Para tentar impressioná-la, gravei belas músicas que achava que ela não conhecia, inclusive “Cada qual com sua mania”, versão em português de “Cada loco con su tema”, do catalão Juan Manuel Serrat.
Caetanista desde sempre, Mary achou esquisitíssimo não conhecer aquela gravação de Caetano com um óbvio estrangeiro falando num português com muito sotaque.
Resolveu prestar atenção à minha pessoa.
Um ano depois, estávamos morando juntos. Dois anos depois, estávamos casados.
A terceira é de vez, sempre se disse. Desta não me separo. Só um louco furibundo joga fora o amor em paz. Embora louco, não sou furibundo.
Só sou furibundamente admirador de Caetano Veloso.
Parabéns, jovem Caetano! Parabéns – e obrigado.
7 de agosto de 2012
Parabenizo Caetano!
É muito engraçado e estranho ter esse menino 70 anos! Puxa! Quase da minha idade!
Eu sempre fui mais Chico, minha paixão. Mas ultimamente me apaixonei também por Caetano.
Além de saber hoje apreciar muito mais sua voz,sua pavonice e sua coluna no Globo, estou encantada com sua beleza, seus cabelos brancos . Que ele continue nos encantando por muitos e muitos anos.
E tem como brigar com a Mary, minha ídola? rssss Aliás, os dois são puro encantamento e acho lindo…. Caetano, puro deleite mesmo… Vi alguns shows dele e os amigos sempre continuavam juntos, até ao amanhecer, cantarolando, como se não quiséssemos que o show terminasse…. O sol nascia e o dono do bar, delicadamente nos convidava pra irmos embora…. Ficava aquele sabor de quero mais, muito mais…
Meu querido, Caetano precisa ler isto, belíssima homenagem, talvez a mais linda que ele recebeu….
Bom, deu vontade de caetanear… Vou bem ali pegar meu “tocador de música de ficar feliz” pq as melhores dele estão lá tb. Beijo de algodão doce!
Parabéns compilador. Muito boa a homenagem. Cheia de fatos, de amor e política. O texto ao ser lido pelo Caetano o trasnformará num imenso, justo e lindo pavão.
Parabéns, Sergio!
Ainda bem que o tempo, nosso maior professor, coloca tudo nos lugares. Certos ou nem tanto, mas lugares.
Beijo saudoso
Vivina
Quem fazia o que queria com a voz,com a musica e com a letra era Elis regina,o Caetano em que pese seu timbre bonito,é um cantor limitado,e ele cantando Peninha é um fiasco,eu prefiro Peninha por Peninha.