Nunca antes na história deste país e da humanidade houve um governo tão servil, tão subserviente às montadoras multinacionais.
Verdade que as montadoras estão acostumadas a chiar, reclamar – e a serem atendidas pelos governos. Argumenta-se que elas fornecem muitos empregos, alimentam uma grande cadeia produtiva – e, em nome disso, os governos costumam atender aos pedidos das poderosas multinacionais.
Mas nunca antes um governo foi tão sensível aos lobbies dos empresários. Como disse Celso Ming: “Este governo, nascido em grande parte na luta sindical do ABC, se mostra especialmente vulnerável às pressões das montadoras”. Isso ele escreveu no Estadão de sábado, 19/5, dias antes, portanto, de o governo anunciar, na segunda, 21, seu novo pacote para tentar ativar a economia, o sétimo desde 2008.
“A novidade do último pacote não foi a Fazenda ajudar a indústria automobilística a limpar seu pátio dos encalhes dos últimos meses”, escreveu Míriam Leitão no Globo. “Isso já se esperava. O espanto é que agora até o Banco Central formata medidas de acordo com o desejo das montadoras. Liberou R$ 18 bilhões de compulsório apenas para aumentar o financiamento de veículos.”
O pacote da semana é insano por vários motivos. “O transporte de passageiros é um grande responsável pelas emissões de gases de efeito estufa, e é ele que está sendo incentivado sem qualquer exigência feita à indústria por motores mais eficientes, menos poluentes”, como lembra Míriam Leitão.
E corre o sério risco de ser inócuo, tiro n’água, já que os brasileiros já estão endividados, corda no pescoço, com a inadimplência crescente.
Os jornais trouxeram opiniões de diversos economistas, numa quase unanimidade: o modelo de tentar ativar a economia via consumo interno se esgotou, é hora de soluções mais amplas, corajosas – reforma tributária, reforma trabalhista, muito mais investimento em infra-estrutura, incentivo ao aumento de produtividade.
Como resumiu O Globo, em editorial: “Há momentos em que os analistas econômicos sem vinculação político-partidária confluem de tal maneira que se formam dois grandes blocos, o dos porta-vozes oficiais e o resto.”
Mas esse não é um governo de soluções amplas: é um governo de puxadinhos – e puxadinhos mal feitos.
Ou, como diz o Estadão, também em editorial: “Em vez de agir, o governo tenta disseminar um otimismo cada vez mais descolado da realidade”.
O governo está tão descolado da realidade que, ao apresentar um balanço das obras para a Copa – só 5% das obras estão prontas, e 41% deles sequer foram iniciadas –, o ministro dos Esportes afirmou que está tudo certo, tudo indo muito bem.
Aí vai a 53ª compilação de notícias e análises que comprovam a incompetência do governo Dilma Rousseff. Foram publicadas entre os dias 18 e 24/5/2012.
As más notícias da Economia – Os números ruins
* Atividade econômica cai 0,35% em março e aponta baixo crescimento no ano
“O ritmo da economia está pior que o imaginado. Indicador divulgado ontem pelo Banco Central mostra que a atividade econômica cresceu 0,15% no primeiro trimestre ante os três últimos meses do ano passado. O número frustrou até os mais pessimistas. A marcha lenta é explicada especialmente pela indústria. No governo, o número foi recebido com pessimismo, e a previsão para a economia no semestre está sendo revisada para pior. Entre analistas, o dado reforçou a previsão de que os juros vão continuar em queda nos próximos meses.
“Considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB) – indicador que mede o crescimento do País -, o Índice de Atividade Econômica do BC, chamado de IBC-Br, revela um quadro mais preocupante que o imaginado pelo governo e pelo mercado. Pesquisa da Agência Estado feita com analistas mostrava que os mais céticos previam expansão de 0,2% no trimestre. Os mais otimistas esperavam avanço de 0,6%.
“Em março, o índice caiu 0,35% na comparação com fevereiro, na terceira queda seguida. Nesse caso, o número também ficou perto das piores previsões, que variavam de uma contração de 0,4% a crescimento de 0,4%. ‘O dado mostra que o PIB do primeiro semestre pode vir abaixo do esperado, por exemplo, pelo Banco Central’, disse uma fonte, que pediu para não ser identificada. Pelas contas oficiais, o PIB do trimestre deve ser um pouco mais forte que o IBC-Br e poderá ter crescimento entre 0,3% e 0,4%. Mesmo assim, o desempenho deverá ser insuficiente para entregar o desempenho semestral imaginado anteriormente. As projeções semestrais não foram divulgadas.” (Fernando Nakagawa, Estadão, 19/5/2012.)
As más notícias da Economia – Aos números ruins, o governo reage com medidas péssimas (ou inócuas)
* “Para inflar o PIB , o governo estimula a inadimplência”
“O governo parece estimular a inadimplência, é o que se pode concluir de duas medidas em estudo: a primeira, visando a transferir créditos podres da Caixa Econômica Federal (CEF), BNDES e Banco do Nordeste para uma instituição criada pelo Ministério da Fazenda; e a segunda, isentando do IOF os créditos destinados à compra de carros de passeio para reduzir os estoques das montadoras.
“O crédito para compra de carros foi reduzido diante do aumento da inadimplência no setor, que fazia operações de até cinco anos de prazo. Não nos parece que o corte de IOF será suficiente para convencer os interessados a trocar o seu carro. Estamos diante de um duplo problema: uma saturação do mercado e um forte aumento do endividamento das famílias. A nova classe C adquiriu um carro com sacrifícios, mas não pretende trocá-lo a cada ano. É esta mesma classe que se aproveitou dos incentivos do governo para comprar uma casa. Isso significa uma prestação mensal, por muito anos, que exige a redução de outras despesas, especialmente quando começam a aparecer ameaças de desemprego. Não se entende por que o governo estimula agora maior endividamento. (Editorial, Estadão, 19/5/2012.)
* “Incentivar o superendividamento das famílias para esvaziar o pátio das montadoras é insensatez”
“O PIB ficou estagnado no primeiro trimestre. É isso que mostraram os dados divulgados ontem pelo Banco Central. O governo vai agir e de novo pensa em medidas casuísticas e que beneficiem a indústria automobilística. A lei da oferta e da procura deveria valer para as montadoras. Se há carro demais no pátio, as empresas deveriam dar desconto, oferecer vantagens para atrair o consumidor, em vez de pedir socorro ao governo.
“O Brasil não tem política industrial, tem política para a indústria automobilística. A cada engasgada da economia, os ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento desenham medidas para ajudar as montadoras, e a presidente aprova. O que está sendo pensado agora é uma sucessão de erros. A Fazenda quer a redução do recolhimento compulsório ao Banco Central, para haver mais dinheiro para financiamento de automóveis; determinou que a Caixa e o Banco do Brasil facilitem os empréstimos; quer ampliar para mais de 60 meses as prestações para compra de carros. Vai conversar com os bancos para que eles ofereçam mais crédito.
“O que está errado aí? Tudo! Recolhimento compulsório é para fazer política monetária. Quem deve decidir qual o volume de dinheiro que os bancos precisam manter no Banco Central é o Banco Central. É um regulador que ele sobe ou desce dependendo da necessidade de combater a inflação ou reativar a economia. Não pode ter como objetivo vender carro.
“A carteira de financiamento de automóveis teve um aumento de mais de 100% na inadimplência. Saiu, no começo do ano passado, de 2,5% de atrasos com mais de 90 dias para 5,7%. Não é muito, mas o ritmo do crescimento assusta. É natural que os bancos — todos eles, inclusive os públicos — sejam mais seletivos na concessão dessa carteira até entender o que está acontecendo. Cinco anos para comprar um automóvel é um prazo mais do que razoável. Incentivar o superendividamento das famílias por prazo longo demais apenas para esvaziar o pátio das montadoras é insensatez.” (Míriam Leitão, O Globo, 19/5/2012.)
* Brasileiros devem R$ 22 bilhões no cheque especial
“O brasileiro que precisa recorrer ao cheque especial para fechar as contas do mês usa esse tipo de crédito — um dos mais caros do mundo — por 22 dias, em média. Ou seja, o salário desses correntistas dura apenas oito dias na conta. Depois disso, começam a usar o limite. O custo da estripulia financeira é estratosférico. No Brasil, os juros cobrados nessa modalidade são de 185% ao ano.
“Os dados mais recentes do Banco Central (BC) mostram que mesmo num momento de crescimento dos empréstimos e de consolidação de linhas de financiamento mais baratas — como o consignado —, o volume de crédito no cheque especial cresceu 15,6% somente nos três primeiros meses do no. Ao todo, são R$ 21,9 bilhões negativos. Se todo esse dinheiro fosse dividido pelo número de correntistas do país, significaria que cada pessoa que tem conta em banco está R$ 190 no vermelho.
“Nem o BC nem a Febraban têm um perfil do endividado no cheque especial, mas as instituições financeiras fazem de perto esse controle não apenas para calcular o risco que correm, mas também para prever os lucros.
Na Caixa Econômica Federal, os clientes que mais usam essa modalidade de crédito são os solteiros. O banco identificou ainda que são pessoas entre 25 a 35 anos, sem filhos, e com ensino médio completo e renda mensal entre R$ 700 e R$ 2 mil. Já o Banco do Brasil constatou que os correntistas que recebem salário pela instituição são os que mais ficam no vermelho.” (Gabriela Valente, O Globo, 21/5/2012.)
* “Quase metade da renda anual dos brasileiros já é engolida com compromissos financeiros”
“No momento em que o governo tenta conter de novo o desempenho fraco da economia pelo consumo, o peso das dívidas antigas alcança valores recordes no orçamento das famílias brasileiras. Em abril, só as dívidas financeiras representavam em média 45% da renda anual, segundo projeção do economista Simão Silber, da Universidade de São Paulo (USP), com base em dados do Banco Central (BC). Esse percentual era de 35,8% no começo de 2010. ‘O comprometimento das famílias com o endividamento aumentou bastante e dá sinais de saturação. A questão é que o maior acesso a crédito no Brasil é acompanhado por taxas de juros ainda elevadas, o que significa um perfil de endividamento que não é saudável. Isso gera a armadilha da dívida’, completa o professor de economia da Uerj Luiz Fernando de Paula, admitindo risco de aumento de inadimplência por causa das medidas de estímulo ao consumo anunciadas pelo governo.
“Além disso, atualmente, todo mês, mais de um quinto da renda das famílias já está comprometida com o pagamento de dívidas bancárias. Neste caso, essa fatia saltou de 18%, em janeiro de 2008, para 22% em fevereiro último. Um percentual muito elevado, segundo economistas, já que o consumidor ainda tem despesas como educação, habitação, transporte, saúde e alimentação. O excesso de dívidas acaba se traduzindo em aumento de inadimplência. Em março, a taxa, que considera atrasos acima de 90 dias, chegava a 7,4% dos financiamentos para pessoas físicas, ou R$ 38,85 bilhões.” (Ronaldo D’Ércole, Roberta Scrivano e Lucianne Carneiro, O Globo, 23/5/2012.)
* Novo pacote não vai adiantar: a inadimplência é grande. É hora de políticas mais amplas
“O governo (…) agiu e, na segunda-feira (21/5), soltou mais um pacote de estímulo ao consumo, como fizera em 2008 e 2009, à época para se contrapôr aos efeitos recessivos da crise financeira mundial deflagrada a partir dos Estados Unidos. Hoje, com o agravamento da situação na Europa, desembrulham-se algumas medidas com o mesmo objetivo. (…)
“As medidas são mesmo as indicadas para aquecer o consumo. Infelizmente, não se está em 2008 e 2009. No vácuo do aumento do bolo do crédito na economia a taxas elevadas — algo positivo —, as pessoas se endividaram e há várias evidências de que entraram em fase de indigestão. Basta acompanhar o crescimento dos indicadores de inadimplência, em especial no crédito para veículos.
“No mês passado, de acordo com o Serasa, a inadimplência do consumidor em geral subiu 4,8% em relação a março, o maior salto num mês de abril desde 2002. Outra informação para não se desprezar nas análises de conjuntura: no segmento do cheque especial há uma conta negativa de R$ 21,9 bilhões, uma dívida impagável devido ao juro cobrado pelos bancos (mais de 100% ao ano). Supõe-se, portanto, que o pacote não atrairá tanta gente ao comércio como aconteceu no passado.
“Vai, assim, se esgotando a alternativa de se contrapor à perda de ritmo da economia por medidas tópicas de anabolização do consumo, sem estímulos sérios aos investimentos. A realidade, a cada um destes pacotes, cobra de Brasília políticas amplas, horizontais, de redução do custo Brasil (impostos, infra-estrutura etc). O corte de alíquotas simboliza o reconhecimento do governo de uma pesada carga tributária. Falta converter esta preocupação num plano amplo de ação, de que constem reformas e freios nos gastos de custeio, sem o que, daqui a pouco, nem mais estes abatimentos tributários setoriais serão possíveis.” (Editorial, O Globo, 23/5/2012.)
* O que veio no sétimo pacote para turbinar a economia
“Em meio ao agravamento da crise global, o governo fez ontem (segunda, 21/5) mais uma ofensiva para turbinar a economia em 2012 e lançou um pacote de R$ 2,7 bilhões em incentivos voltados sobretudo para os setores automotivo e de bens de capital. O sétimo conjunto de medidas anunciado pela equipe econômica desde 2008 inclui desonerações tributárias – redução de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF) – queda de juros para diversas linhas do BNDES, além da redução do compulsório para que os bancos possam aumentar a oferta de crédito na compra de veículos.
“Ao anunciar as medidas – diante de uma platéia composta por integrantes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e ao lado dos ministros do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e do presidente do BNDES, Luciano Coutinho – o ministro da Fazenda, Guido Mantega, ressaltou que o novo pacote é um compromisso inédito, acertado entre governo e os setores privado e financeiro para reduzir custos de bens e ampliar o consumo.
“Segundo ele, os bancos – que não estavam representados no anúncio – prometeram aumentar o número de parcelas de financiamentos, reduzir o valor da entrada e também as taxas de juros nos empréstimos para a aquisição de veículos. Em contrapartida, o Banco Central (BC) liberou R$ 18 bilhões em depósitos compulsórios destinados ao financiamento de automóveis e de veículos comerciais leves, montante que, segundo o BC, representa cerca de 10% do total de crédito concedido ao segmento.
“Já as montadoras se comprometeram a dar descontos sobre os preços de tabela em vigor e a não demitir funcionários. Ao ser indagado sobre o que poderia ocorrer, caso o acordo não seja cumprido, Mantega afirmou: ‘A indústria nunca descumpriu um acordo. Eu confio na Anfavea e também confio nos bancos. Os banqueiros são mais discretos. Eles não vieram (ao lançamento do pacote) mas estavam conosco hoje e celebramos juntos um acordo que é bom para eles.’
“O professor Armando Castelar, da UFRJ, acredita que, dados os fracos números da atividade econômica, o governo acerta em propor estímulos à economia. Ele, no entanto, acredita que a repetição do modelo de corte de IPI e redução dos juros de algumas linhas do BNDES podem não surtir a eficácia esperada: ‘Acredito que estamos perto da exaustão de um modelo que teve grande sucesso entre 2005 e 2010, com o incentivo ao consumo baseado no aumento do financiamento. As famílias estão muito endividadas. Este modelo pode gerar problemas futuros de inadimplência, que já está preocupante mesmo com emprego e renda e alta.’” (Martha Beck, Gabriela Valente e Eliane Oliveira, O Globo, 22/5/2012.)
* Governo deveria incentivar o investimento, e não o consumo, dizem economistas
“As novas medidas anunciadas ontem (segunda, 21/5) pelo governo são positivas, mas não terão o mesmo impacto que tiveram em 2008 e 2009, quando o governo usou a expansão do crédito e a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) dos carros para turbinar a economia. Para especialistas, o cenário atual é diferente e existe o obstáculo do alto endividamento do consumidor. O incentivo ao consumo pode armar uma bomba-relógio no futuro: o risco do aumento da inadimplência.
“Segundo o economista Francisco Pessoa, da Consultoria LCA, o mercado automobilístico tem dificuldade para os bancos concederem mais crédito, em função do alto nível de inadimplência. E a capacidade de endividamento dos consumidores que bateu no teto: ‘Muita gente se comprometeu com dívidas de longo prazo. A renda da população já está comprometida. Não sei se há muito espaço para crescimento do crédito. Pelo menos não na velocidade que cresceu no passado’, disse ele.
“Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), frisou a importância de o governo tomar medidas de incentivo à economia para tentar reverter a ‘performance fraca’ obtida no início deste ano. ‘A dificuldade hoje, porém, é a capacidade de alavancagem, que não é igual a que tínhamos em 2008. Hoje, a capacidade de consumir está restrita’, disse Tingas.
“O professor Armando Castelar, da UFRJ, acredita que a repetição do modelo de corte de IPI e redução dos juros de algumas linhas do BNDES podem não surtir o efeito esperado. Ele defende que medidas horizontais, como redução na burocracia e de impostos de forma linear, poderiam surtir mais efeitos. ‘O governo precisava se perguntar o motivo da economia continuar patinando mesmo com juros tão baixos e rever o modelo, buscar uma forma de se incentivar o investimento’, disse o professor.
“Carlos Langoni, professor de economia da FGV e ex-presidente do BC, concorda que as medidas poderão gerar algum alívio de curto prazo, mas que isso não será suficiente. Em sua opinião, o governo deveria aproveitar o momento para retomar uma agenda de reforma audaciosa: ‘O governo precisa incentivar o investimento. O governo poderia aproveitar o momento da economia mundial, de uma longa estagnação das economias desenvolvidas e de uma forte desaceleração dos emergentes, como a China, para votar a reforma tributária, o que teria grande apoio da sociedade’, disse.” (Lino Rodrigues, Roberta Scrivano e Henrique Gomes Batista, O Globo, 22/5/2012.)
* “O governo quer salvar 2012, mas está comprometendo 2013, 2014, 2015…”
“Economistas afirmam que, ao recorrer mais uma vez ao consumo para estimular a economia brasileira, o governo pode esbarrar no endividamento da população. Apenas o incentivo ao crédito, portanto, não será suficiente para garantir a expansão econômica e é preciso estabelecer uma estratégia de longo prazo, com investimento em infraestrutura e a promoção de reformas tributária, trabalhista e previdenciária. ‘Esses incentivos (ao consumo) já foram usados, é um remédio que vai perdendo o efeito. A questão é que a política econômica passou a ser uma série de pacotes. Estamos voltando ao voo da galinha e não vamos sair enquanto não fizermos reformas para elevar a produtividade’, afirmou o professor da PUC-Rio Marcio Garcia.
“Para o professor da FEA/USP Márcio Nakane, há um esforço do governo em assegurar a expansão do Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços no país) este ano, mas não se olha para a eficiência microeconômica: ‘O governo quer salvar 2012, mas no esforço está comprometendo 2013, 2014, 2015… É uma estratégia de garantir o curto prazo, sem olhar para questões estruturais. É preciso uma estratégia de médio prazo para o país, com um conjunto de reformas.’” (Lucianne Carneiro, O Globo, 23/5/2012.)
* Modelo baseado no consumo interno chegou à exaustão
“O governo divulgou mais um pacote de estímulo à demanda, outra vez focado na indústria automobilística. Entre as principais medidas estão a queda do IPI sobre automóveis, a redução do IOF em operações de crédito às pessoas físicas, a liberação dos depósitos compulsórios (recursos que os bancos têm de depositar no Banco Central) para financiar a compra de veículos, e a diminuição dos juros do BNDES, que também beneficia as montadoras, ao estimular a venda de caminhões. (…)
“A desaceleração da demanda tem muito a ver com a exaustão de um modelo baseado no consumo. Ele está se exaurindo por que as famílias já estão bem endividadas – excluindo-se o crédito imobiliário, a razão crédito às famílias sobre o PIB no Brasil já é relativamente alta – e o ciclo recente de compra de bens de consumo duráveis faz com que haja pouco espaço para vender mais carros, geladeiras etc.
“Um sinal do endividamento elevado é exatamente o aumento da inadimplência no financiamento de automóveis, a despeito da alta no emprego e na renda. Melhor do que dar ainda mais incentivos à indústria automobilística e estimular as famílias a se endividarem ainda mais seria adotar um programa de melhoria do clima de investimento no Brasil. É sintomático que no mesmo dia em que o pacote foi anunciado a China acenou com estímulos ao crescimento via investimentos na infraestrutura.
“É preciso reduzir a importância do consumo turbinado pelo crédito e estimular o investimento e o aumento da produtividade. Isso não vai ocorrer via subsídios do BNDES: basta ver que entre 1995 e 2010 os desembolsos do banco quadruplicaram como proporção do PIB e a taxa de investimento pouco se mexeu. Melhor seria fazer reduções horizontais da carga tributária, simplificar a burocracia, investir em infraestrutura e reduzir mais os juros. ” (Armando Castelar, economista, O Globo, 23/5/2012.)
* Todo mundo sabe que é hora de políticas amplas, sérias – menos o governo
“Há momentos em que os analistas econômicos sem vinculação político-partidária confluem de tal maneira que se formam dois grandes blocos, o dos porta-vozes oficiais e o resto. É o que se observa nos últimos dias, antes e depois do lançamento de mais um pacote destinado a resgatar o setor produtivo de uma nítida tendência de desaquecimento.
“Mais um corte de IPI para tentar reanimar vendas de veículos – como já foi feito para eletrodomésticos -, acompanhado de estímulos creditícios, repete remédio vencido. Contra ele, se ergue um razoável obstáculo, o endividamento das famílias, como fartamente demonstrado. (…)
“Se o aumento dos gastos ditos sociais reduziu os desníveis entre rendas, fez surgir uma ‘nova classe média’ e impulsionou o consumo – que agora se tenta reativar -, restou a contrapartida de uma economia com taxa de poupança muito baixa e, por decorrência, investimentos exíguos (ambos na faixa de 19% do PIB), apesar de uma carga tributária na estratosfera (36% do PIB), dilapidada por um Estado com estonteante propensão ao gasto (38% do PIB). (…)
“Chegou a hora de políticas de prazo amplo, assentadas numa visão estratégica. (…) O momento é de políticas amplas, de alcance horizontal, para desonerar a produção, reativar os investimentos públicos e apoiar setores-chave, como educação, ciência e tecnologia, a fim de elevar a baixa produtividade nacional. Os problemas que invadem a agenda do governo não serão revolvidos por um câmbio desvalorizado, nem cortes de juros. Para soltar, de fato, os freios que seguram a economia brasileira, Brasília terá de executar reformas – difíceis, do ponto de vista político, mas imprescindíveis.” (Editorial, O Globo, 24/5/2012.)
* Mantega está equivocado. Falta investimento público, e não crédito para os consumidores
“O ministro da Fazenda, Guido Mantega, vem atribuindo as restrições de crédito ao pequeno crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), ao mesmo tempo que trabalha para estimular os empréstimos bancários e reduzir os seus custos. A análise do ministro nos parece construída sobre um equívoco. A expansão do crédito tem de levar em conta, em primeiro lugar, a demanda da parte dos interessados e, em segundo lugar, uma certa confiança de que os mutuários honrarão seus compromissos. O crédito não é um fim em si mesmo, mas apenas um dos meios da política econômica.
“O recuo da oferta do crédito foi sentido apenas no caso dos financiamentos vinculados à compra de carros de passeio. As instituições financeiras constataram, nessa modalidade de financiamento, um aumento anormal da inadimplência, em razão certamente do elevado prazo de cinco anos para essas operações.
“Os bancos, que estão sempre procurando como aumentar suas operações, enfrentaram uma queda na demanda de crédito não somente das empresas, que diante da perda de ritmo do consumo desistiram de investir, preferindo importar, como também das pessoas físicas, já excessivamente endividadas. Há que acrescentar que o governo, ao forçar as instituições financeiras privadas a reduzir suas taxas de juros, aumentou o risco dos bancos, que estão se mostrando mais cautelosos na escolha dos seus mutuários. Por outro lado, ao contrário do que afirma o ministro Guido Mantega, no quadro atual da conjuntura internacional os bancos privados têm maior dificuldade para captar recursos no exterior, o que está reduzindo sua capacidade de empréstimos.
“No entanto, de qualquer forma, parece-nos que o ministro está dando importância excessiva às restrições creditícias. O menor ritmo de crescimento econômico resulta da insuficiência de investimentos públicos, pois, quando o setor privado sente insegurança para investir, cabe ao setor público corrigir essa situação, sabedor que é da necessidade mínima de investimentos que se precisa para alimentar o crescimento.
“As necessidades de investimentos na infraestrutura do País são imensas, mas o governo parece preferir aumentar seus gastos de custeio, principalmente os salários dos servidores, para suscitar uma demanda que não poderá ser atendida por falta de investimentos privados. E, quando investe, o faz com ausência total ou baixa produtividade, seja por incapacidade de planejamento, seja por atrasos, seja por superfaturamento.” (Editorial, Estadão, 22/5/2012.)
* A política econômica atual é a seguinte: abrir os cofres e dizer que tudo vai pelo melhor dos mundos
“Se é nos momentos de dificuldades que se conhece a qualidade de um governo, o de Dilma Rousseff parece disposto a frustrar a população. Diante do agravamento do cenário internacional, com efeitos notáveis na atividade econômica interna, seu esforço tem sido o de tentar mostrar que tudo vai bem e que haverá recursos mais do que suficientes para assegurar os investimentos necessários ao crescimento. Sua próxima iniciativa será a liberação de R$ 10 bilhões do Tesouro Nacional para reforçar as linhas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Mas o que falta não é tanto dinheiro nem muito menos planos. O que falta é um fator indispensável para o empresariado iniciar projetos de médio e de longo prazos: confiança no desempenho da economia no futuro próximo. Essa confiança poderia ser reconstruída com ações concretas que, num momento de dificuldades, o governo tem condições de realizar e que atendem aos interesses do País: a aceleração dos investimentos públicos em infraestrutura, para eliminar os obstáculos ao crescimento.
“Nada disso, porém, está sendo feito com a velocidade e a eficiência necessárias. Em vez de agir, o governo tenta disseminar um otimismo cada vez mais descolado da realidade. (…)
“O agravamento dos problemas internacionais está levando empresas de setores vitais para o desempenho da economia a paralisar planos de expansão. Se os gastos do governo fossem mais eficientes e resultassem em melhores condições para a atividade produtiva, haveria um estímulo para os investimentos privados. Mas o governo do PT tem notória dificuldade para administrar os programas de investimentos, de que resultam projetos de baixa qualidade e atraso na liberação de recursos.
“Tudo isso se soma a velhos problemas estruturais da economia brasileira, como o sistema tributário excessivamente oneroso e complexo, uma legislação trabalhista que impõe às empresas custos exagerados para a contratação formal de trabalhadores e a infraestrutura precária, o que eleva os custos operacionais. (…)
“O resultado da soma de todos os fatores que geram desconfiança no empresariado não poderia ser diferente do apontado ao Estado pelo economista Samuel Pessoa, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas: ‘A demanda por investimento despencou’.
“No momento em que deveria concentrar-se em aumentar seus investimentos e compensar ainda que parcialmente a retração do setor privado, o governo tenta estimular o consumo, com as medidas como as anunciadas há dias. Assim, não dará certo.” (Editorial, Estadão, 24/5/2012.)
* Espantoso: agora o Banco Central faz medidas de acordo com o desejo das montadoras
“A novidade do último pacote não foi a Fazenda ajudar a indústria automobilística a limpar seu pátio dos encalhes dos últimos meses. Isso já se esperava. O espanto é que agora até o Banco Central formata medidas de acordo com o desejo das montadoras. Liberou R$ 18 bilhões de compulsório apenas para aumentar o financiamento de veículos. Como o BC sabe, essa carteira teve um aumento de 162% de atrasos acima de 90 dias nos últimos 15 meses.
“Se a oferta é maior do que a demanda, o preço tem que cair para que o fabricante e os revendedores se livrem do estoque, certo? Essa lei básica, da oferta e da procura, não funciona no Brasil quando o assunto é carro, porque se o pátio está cheio o Tesouro abre mão de impostos. Agora, além da política tributária, a política monetária também se curva ao desejo da indústria automobilística.
“Como todos sabem, esse setor é uma cadeia, e quando ele cresce ou para afeta vários outros setores da economia. Numa emergência, como em 2008, era fácil entender o motivo que levou o governo a agir. Mas agora não faz sentido algum, principalmente porque este é o sétimo pacote do mesmo gênero que tem como centro o que as fábricas de carros querem.
“O governo reduziu o investimento público em 2012 em relação ao ano passado. A indústria como um todo tem diversos problemas, alguns decorrentes do baixo investimento em infra-estrutura, que onera custos em todas as cadeias. Isso é deixado de lado por mais um curativo destinado ao mesmo paciente.
“O transporte de passageiros é um grande responsável pelas emissões de gases de efeito estufa, e é ele que está sendo incentivado sem qualquer exigência feita à indústria por motores mais eficientes, menos poluentes. Que não diga o governo que o imposto cai mais para os carros flex. Isso não cola. A indústria do etanol está em crise e não tem sido capaz de atender à demanda. O que aumenta assustadoramente é o consumo de gasolina, como mostramos ontem num gráfico publicado aqui: 76% de aumento de maio de 2009 a fevereiro de 2012 (…).
“Mesmo se a opção for incentivar o carro para puxar a economia, o governo tinha formas mais inteligentes de fazer, como fez o governo americano. Nos Estados Unidos, a indústria foi empurrada para o desenvolvimento de carros elétricos ou outras opções de baixo carbono.
“No mercado de veículos, o estoque de dívidas com atrasos nos pagamentos acima de 90 dias já está em R$ 10,5 bilhões. Há 15 meses atrás, era R$ 4 bilhões. As dívidas com pelo menos 15 dias de atraso já somam R$ 25,15 bilhões. Ainda assim, o governo aumenta a oferta de crédito e incentiva mais a acumulação de dívidas. O endividamento sobre a renda aumentou 133% de janeiro de 2005 a fevereiro de 2012. Era 18,4% da renda anual e agora é 42,9%. Claro que isso é o estoque da dívida, e, portanto, será pago em prazo maior do que um ano.” (Míriam Leitão, O Globo, 23/5/2012.)
* Se é para ter mais carros, que se exijam carros melhores, menos poluentes. Mas o governo não se mexe para isso
“Sim, temos um problema com os carros. E não apenas em São Paulo. Contando só as últimas três semanas, parei em congestionamentos em Curitiba, Belo Horizonte e Brasília. E também no Rio. Logo, parece enorme insanidade estimular a venda de mais automóveis. Desgraçadamente, porém, a coisa é mais complicada, tanto do ponto econômico quanto social. Há aí até uma questão de justiça social. (…)
“Combustíveis e carros já são pesadamente tributados no Brasil. Se o dinheiro desses impostos tivesse sido aplicado em transportes públicos, como era o caso, teríamos hoje uma rede superior à da Alemanha. Como ficamos?
“Primeiro, poluição e congestionamentos tornam inevitável o investimento em infraestrutura urbana. Em qualquer caso, tem que fazer. No nosso, como o governo é ineficiente, já cobra e gasta muito imposto, a única saída é um amplo programa de concessões a empresas privadas. Não a Delta, claro. Segundo, estimular amplamente os veículos ‘verdes’, a etanol e os elétricos, por exemplo, ou mesmo a gasolina, porém mais eficientes. Como o pessoal não vai desistir dos seus carros ou se vai desistir quando tiver alternativa melhor, é preciso apostar na tecnologia. É o que o mundo está fazendo. O Brasil está atrasado nos dois quesitos.” (Carlos Alberto Sardenberg, O Globo, 24/05/2012)
As más notícias da Economia – Outros temas
* O governo abandonou a política econômica que vinha dando certo – mas se recusa a admitir isso
“O tripé de política econômica, tal como o conhecemos no Brasil desde 1999, está se desfazendo. Sem aviso prévio e sem maior satisfação à sociedade, a política econômica mudou e provavelmente seguirá mudando, sabe-se lá para que formatação. Hoje, está mais para saci do que para tripé.
O câmbio flutuante não flutua mais. As cotações da moeda estrangeira são resultado das intervenções diárias do Banco Central e do governo, que tratou de taxar com Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) os afluxos de capital. O sistema de metas de inflação foi substituído por práticas, não muito claras, em que se misturam metas de juros, metas de crescimento econômico e alguma coisa de meta de inflação.
“O único fator do tripé anterior que ainda continua vigorando é a obtenção de um superávit primário, agora de 3,1% do PIB, o que equivale neste ano a R$ 139,8 bilhões ou 14% da arrecadação da União. (O superávit primário é a sobra de arrecadação que se destina ao pagamento da dívida, com o objetivo de controlar as finanças do setor público.)
“Em princípio, nada há de errado nas mudanças de direção. Se as coisas se tornam diferentes, não só as opiniões têm de mudar, como ensinou Keynes. Também as políticas têm de mudar. O diabo é que essas mudanças vêm acontecendo dia após dia e, no entanto, o discurso é de que continua tudo como dantes. (…)
“As contradições entre as políticas colocadas em prática e o discurso oficial, especialmente do Banco Central, geram prejuízo para a credibilidade da instituição, que hoje não consegue mais, como antes, conduzir as expectativas. Ninguém mais acredita em que o Banco Central persiga a meta de inflação. Seu objetivo hoje é derrubar os juros primeiro, para ver depois o que se passa com a inflação. O levantamento semanal feito pelo Banco Central com cerca de 100 instituições (Pesquisa Focus) mostra que o mercado espera neste ano uma inflação mais próxima dos 5,5% do que dos 4,5%.
“Pergunta: não seria melhor que, em vez de manter esse papo esquizofrênico, o governo federal ou o próprio Banco Central abrissem logo o jogo e avisassem o que mudou e o que pretendem agora da política econômica?” (Celso Ming, Estadão, 18/5/2012.)
* Atual modelo econômico brasileiro se esgotou, diz economista
“O economista Claudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios, apresentou no Fórum Nacional, tradicionalmente organizado pelo ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso, um interessante trabalho sobre as limitações do atual modelo econômico brasileiro, a despeito dos avanços registrados nas duas últimas décadas: uma combinação de estabilidade macro-econômica e redução da desigualdade e da pobreza, acompanhada de uma expansão do consumo nas camadas tradicionalmente mais afastadas do mercado.
“Frischtak registra a incorporação de cerca de 60 milhões de pessoas na classe média, que passou a ser majoritária no país, mas adverte que ‘este modelo está se exaurindo’, em consequência de uma combinação de baixa produtividade da economia, ‘que, em parte, reflete o fato de que o mercado de trabalho vem absorvendo os menos educados e experientes’, com níveis insuficientes de investimento em infraestrutura e em capital humano, e limitações pelo lado da demanda, ‘inclusive por força da fragilidade financeira da classe C e D’.
“A capacidade de crescimento e o desempenho da economia vêm sendo corroídos, afirma o economista em seu trabalho. Para ele, ‘há uma dissonância crescente entre o consumo de bens individuais e a produção e consumo de bens coletivos’, como infra-estrutura física e social, inclusive a geração e disseminação do conhecimento.
“O economista Claudio Frischtak vê o país caminhando ‘no fio da navalha’ e considera ‘imprescindível’ uma transição para um modelo de social-democracia voltado aos investimentos da produção de bens coletivos, para aumentar a produtividade e melhorar o nível de bem-estar da população, ‘mais além de uma economia de transferências’. (…)
“O trabalho de Claudio Frischtak mostra que a produção de bens coletivos terá uma dupla função: pelo lado da oferta, impulsionar a produtividade e a competitividade da economia; pelo lado da demanda, progressivamente deslocar o consumo de bens individuais à medida que se esgota a capacidade das novas camadas de expandir de forma acelerada o consumo.
“O investimento na produção de bens coletivos irá necessitar, porém, de ações em duas frentes distintas, ambas relacionadas a uma Agenda de Reforma do Estado, aponta o estudo. Primeiro, uma realocação dos gastos do setor público, com a gradativa redução (em termos relativos) das transferências previdenciárias e sociais, e a proteção dos programas mais bem focalizados, a exemplo do Bolsa Família. ‘Não há como criar espaço fiscal aumentando os tributos’, adverte Frischtak. Nesse contexto, ele defende que é ‘imprescindível a mudança de políticas e regras — a exemplo de o salário mínimo deixar de ser o indexador das despesas previdenciárias’.
“Numa segunda frente, ‘é crítico reforçar a capacidade do Estado de planejamento, regulação, fiscalização, monitoramento e execução de serviços, de modo que os recursos poupados sejam direcionados com eficácia para expandir os investimentos em bens coletivos —infraestrutura física e social — e melhorar a capacidade organizacional da prestação pública de serviços de qualidade’.
“O economista Claudio Frischtak afirma que ‘não há como sustentar a melhoria do bem-estar da população com uma escola pública de má qualidade, incompatível com as demandas de uma economia competitiva’. O país continuará a progredir a passos lentos no que é mais essencial a menos que a educação passe a ser prioridade total para o governo.” (Merval Pereira, O Globo, 18/5/2012.)
* Arrecadação é recorde, mesmo com PIB fraco
“Mesmo com a economia em marcha lenta, a arrecadação da Receita Federal bateu recorde e fechou abril com o maior resultado da história para o mês: R$ 92,6 bilhões. Este é o segundo melhor desempenho do ano, perdendo só para janeiro (R$ 102,5 bilhões). No primeiro quadrimestre, o valor soma R$ 349,47 bilhões. Com lucros crescentes, os bancos são responsáveis por quase 90% da alta do recolhimento de tributos no período, em meio à queda em setores como a indústria.
“Estudo do Fisco mostra que a participação destas instituições no total dos tributos arrecadados pelo governo nunca foi tão alta.Chegou a cerca de 9% dos impostos e contribuições federais pagos por empresas e pessoas físicas, nos primeiros quatro meses do ano, contra 6,8% em 2011. Os dados são dos primeiros quadrimestres dos últimos cinco anos. Com base nessas informações, o governo insiste que os bancos têm espaço para cortar os juros dos empréstimos.
“De janeiro a abril, os bancos recolheram R$ 21,5 bilhões dos R$ 243,4 bilhões arrecadados. E representaram 11,1% do total pago pelas empresas em Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ).” (Vivian Oswald, O Globo, 23/5/2012.)
* O governo se curva, mais uma vez, ao protecionismo argentino”
“”O governo brasileiro, mais uma vez, se curvou ao protecionismo argentino, aceitou as imposições do ministro Guillermo Moreno e admitiu discutir as condições de comércio nos termos ditados pelo governo da presidente Cristina Kirchner. Moreno, ministro do Comércio Interior, mas comandante de fato da política argentina de importações, resumiu claramente a rendição das autoridades brasileiras depois de uma reunião no Itamaraty, na terça-feira: “Com a disposição do Brasil de adquirir nossos produtos, obviamente some o problema com a carne suína”. Em outras palavras, os exportadores brasileiros de carne de porco serão premiados com uma oportunidade comercial em troca das bondades prometidas pelos representantes de Brasília. Seria um escárnio, talvez uma brincadeira de mau gosto, se esse não fosse o padrão normal das relações entre as autoridades dos dois países, quando se trata de regras de comércio. (…)
“As barreiras argentinas têm causado prejuízos a produtores brasileiros de eletrodomésticos, calçados, equipamentos agrícolas, roupas, tecidos, cosméticos e diversos tipos de alimentos, para citar só algumas categorias. Quando já não podia disfarçar sua escandalosa passividade, autoridades brasileiras decidiram impor alguns obstáculos a produtos argentinos. Agora se comprometem a eliminá-los em troca da supressão das barreiras à carne suína. É mais uma rendição. Em vez de continuar pondo panos quentes sobre a questão, o governo brasileiro deveria, em defesa de interesses da economia nacional e também do Mercosul, exigir o fim de todas as políticas incompatíveis com as normas internacionais e, de modo especial, com uma união aduaneira.
“Cada capitulação da diplomacia brasileira estimula a manutenção do protecionismo argentino e, mais que isso, a ampliação periódica das barreiras. O governo tem cedido em tudo e já aceitou várias vezes a prorrogação do acordo automotivo entre os dois países, sempre com novas cláusulas a favor dos vizinhos. Pelo acordo original, os dois países deveriam, há muitos anos, ter liberalizado o comércio de veículos e componentes.
“É essencial cooperar com a Argentina e discutir, por exemplo, a organização de cadeias produtivas para integrar os sistemas industriais dos dois países. A política seguida pelo governo brasileiro vai na direção oposta, prejudicando a indústria nacional e impedindo o avanço do Mercosul. (Editorial, Estadão, 21/5/2012.)
‘O Brasil fará a melhor de todas as Copas do Mundo’
* Só 5% das obras estão prontas. 41% sequer foram iniciadas
“Faltando pouco mais de dois anos para a Copa do Mundo no Brasil, 41% das obras relacionadas com o evento nem sequer tiveram início e apenas cerca de 5% estão concluídas. Os dados são de balanço divulgado pelo governo federal ontem (quarta, 23/5), com informações atualizadas até o dia 25 de abril. De acordo com o levantamento somente 5 das 101 obras foram concluídas até agora. Apesar dos números, o governo nega atraso e afirma que o ritmo de execução permitirá entregar 83% dos empreendimentos em 2013 e o restante em 2014 antes de junho, quando começa o evento da Fifa.
“O balanço mostra que a fase de definição de projetos de infra-estrutura deveria ter sido concluída em 2010, mas existem 15 obras que ainda estão em elaboração. Outras 25 obras estão em licitação ou tiveram este processo concluído, mas ainda não tiveram início efetivo. Segundo o governo existem 55 obras em andamento, entre elas as dos 12 estádios que receberão os jogos.
“Em relação aos estádios apenas quatro superaram a metade das obras. O Maracanã, no Rio, e a Arena Pernambuco, no Recife, que devem receber jogos da Copa das Confederações já em junho de 2013 tem apenas 45% e 33% das obras concluídas, respectivamente. O estádio mais avançado é o Castelão, de Fortaleza, com 62%.
“Os estádios privados que receberão reformas, Arena da Baixada, em Curitiba, e Beira Rio, em Porto Alegre, são os com menor execução. Em Curitiba foram executadas 11% das obras, enquanto no Beira-Rio o número divulgado é de 20%, apesar de o governo admitir que com a revisão do cronograma apenas 8% das obras do estádio foram realizadas.
“A mobilidade urbana, apontada como principal legado da Copa, tem pouco mais da metade de suas obras iniciadas, 55%. De acordo com o balanço, sete obras ainda estão em projeto, nove em licitação e sete já foram licitadas e aguardam o início. ‘A parte de projeto é fundamental para ter um bom desempenho da obra. Não concebo como atraso, mas como ganho porque quando se tem um bom projeto você vai ganhar na execução’, disse o ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades) para justificar o estágio destas obras.
“As únicas cinco obras construídas até agora são de infra-estrutura aeroportuária. São melhorias nos aeroportos de Guarulhos, Campinas, Cuiabá e Porto Alegre. Existem ainda mais 26 obras da área prevista, mas somente 13 já tiveram início, sendo que sete ainda estão em fase de elaboração de projetos. Em relação aos portos somente quatro dos que sofrerão intervenção já tiveram as obras iniciadas.
“O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, disse não haver intenção de excluir nenhuma obra da matriz de responsabilidade para a Copa e afirmou que novos empreendimentos poderão ainda ser incluídos. ‘Nossa idéia não é de trabalhar com exclusão, mas a de inclusão e a de ampliar’.
Aldo negou por várias vezes a existência de atrasos. ‘Vamos tratar com mais generosidade o que está no papel, isso não significa atrasos’, disse. ‘Muitas vezes a estatística mostra tudo, menos o essencial’, completou. Aldo afirmou que no caso das 15 obras ainda em fase de elaboração de projetos é possível recuperar o tempo perdido durante a execução. O ministro disse respeitar críticas feitas pela Fifa e até pelo ex-jogador Edson Arantes do Nascimento, Pelé, sobre eventuais atrasos, mas destacou que o governo federal está otimista em cumprir os cronogramas. Questionado se seria necessário um ‘milagre’ para concluir tudo a tempo o ministro usou o bom humor. ‘Creio que nesse caso podemos dispensar os serviços dos santos. Milagres podem socorrer causas mais necessitadas.’” (Eduardo Bressiani, Estadão, 24/5/2012.)
* Cariocas terão feriadão de cinco dias na Rio+20. Imagine na Copa
‘Os vereadores do Rio aprovaram na quinta-feira projeto de lei do Executivo que declara feriado escolar nos três dias da reunião de cúpula da Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. O primeiro dia (20 de junho) é uma quarta-feira, portanto haverá um feriadão de cinco dias na cidade. A decisão já era esperada. Havia sido proposta no fim de abril pelo prefeito Eduardo Paes (PMDB), após um pedido do governo federal, responsável pela organização da Rio+20.
‘Na justificativa do projeto, a prefeitura afirmou que seria ‘necessário reduzir o fluxo de veículos na cidade no período para minimizar os transtornos para a população e garantir a segurança e o sucesso do evento’. Não haverá aula em todos os estabelecimentos educacionais, incluindo os de educação infantil e de ensinos fundamental, médio, técnico ou superior, bem como as creches e as escolas e cursos, de qualquer nível ou natureza, reconhecidos ou não, durante a realização da Rio+20. O texto seguirá para sanção de Paes.’ (Estadão, 18/5/2012.)
Irregularidades
* Fernando Pimentel viajou a Roma em avião fretado por empresário
“Enquanto acompanhava a presidente Dilma Rousseff em viagem à Europa, em outubro do ano passado, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) utilizou um avião fretado pelo empresário João Dória Júnior para ir da Bulgária, onde estava a comitiva presidencial, até a Itália, para participar de um encontro com empresários brasileiros e italianos. Procurado por Terra Magazine, Pimentel afirmou que o encontro ‘não era um evento oficial da Presidência’ e que, por isso, não utilizou um avião oficial para se deslocar. ‘Saí da comitiva da presidente e fui mesmo para Roma, mas não fui em avião oficial porque o compromisso não fazia parte da agenda da presidente. Não tinha como ir de avião oficial. Ele (João Dória Júnior) mandou um avião e eu usei a aeronave que ele colocou pra mim naquele momento’, disse o ministro.
“De acordo com o Artigo 7º do Código de Conduta da Alta Administração Federal, ‘nenhuma autoridade pública pode receber transporte’ ou qualquer outro favor de fonte privada. Ainda no Artigo 7º, o Código cita que: ‘É permitida a participação em seminários, congressos e eventos semelhantes, desde que tornada pública eventual remuneração, bem como o pagamento das despesas de viagem pelo promotor do evento, o qual não poderá ter interesse em decisão a ser tomada pela autoridade’. (Marina Dias, Terra Magazine, 18/5/2012.)
* “O doutor Pimentel sobrevive bem, com patrocínio alheio.”
“Quando foi apanhado com uma Bolsa-Consultoria de R$ 1 milhão da Federação das Indústrias de Minas Gerais, o comissário Fernando Pimentel disse que essa ‘foi a forma que eu tive de ganhar dinheiro e sobreviver’. Agora, descobriu-se que no ano passado voou da Bulgária para a Itália num avião fretado pelo organizador de eventos João Doria. Pimentel explicou que não havia outro transporte disponível. Havia: automóveis, trens e aviões de carreira. O doutor sobrevive bem, com patrocínio alheio.” (Elio Gaspari, O Globo e Folha de S. Paulo, 20/5/2012.)
Incompetência, ineficiência
* Pelas políticas adotadas nos governos Lula e Dilma, dificilmente vai melhorar o ensino médio
“Os últimos números do Ministério da Educação (MEC) revelam que, em 2011, o índice de reprovação na rede pública e privada de ensino médio foi de 13,1% – o maior dos últimos 13 anos. Em 2010, foi de 12,5%. Os alunos reprovados não conseguem ler, escrever e calcular com o mínimo de aptidão, tendo ingressado no ensino médio com nível de conhecimento equivalente ao da 5.ª série do ensino fundamental. (…)
Esses números, que atestam o fracasso da política educacional dos governos Lula e Dilma, foram divulgados na última segunda-feira (14/5), pelo site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), vinculado ao MEC. Como não havia nada para comemorar ou para ser explorado politicamente pelo governo na campanha eleitoral deste ano, a divulgação foi feita de maneira muito discreta – evidentemente, para não prejudicar a imagem do ex-ministro Fernando Haddad, candidato à Prefeitura de São Paulo.
“Ao depor na Câmara dos Deputados, em 2007, Haddad afirmou que o ensino médio vivia uma ‘crise aguda’ e reconheceu que as políticas até então adotadas pelo governo federal para estimular os governos estaduais a modernizarem o ensino médio não vinham surtindo efeito. Em 2008, quando integrou um grupo interministerial com o então secretário de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, ele pediu ao CNE novas diretrizes curriculares para tentar melhorar a qualidade do ensino médio – o mais problemático de todos os ciclos de ensino.
“Homologadas no final de março por seu sucessor, essas diretrizes sugerem a adoção de ‘procedimentos que guardem maior relação com o projeto de vida dos estudantes’. A ideia é tornar o ensino médio mais atraente, valorizando a correlação entre trabalho, ciência, tecnologia e cultura. Quando as diretrizes foram anunciadas, em meio a mais uma polêmica sobre o desvirtuamento do Exame Nacional do Ensino Médio, por causa das mudanças introduzidas por Haddad nesse mecanismo de avaliação, vários pedagogos afirmaram que elas não eliminarão os gargalos do ensino médio. Para esses pedagogos, as novas diretrizes são mais retóricas do que práticas e estimulam a oferta de um grande número de disciplinas.
“As taxas de reprovação e abandono no ensino médio divulgadas pelo Inep são mais um sinal de alerta sobre a má qualidade da educação brasileira. E pelas políticas adotadas até agora, dificilmente esse quadro mudará tão cedo.” (Editorial, Estadão, 18/5/2012.)
A CPI do “você é nosso e nós somos teu”
* De Vaccarezza para Cabral, com amor – e imoral até no português
“Troca de mensagens por celular flagrada nesta quinta-feira, 17, pelo SBT, durante reunião da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira, mostra que os petistas resolveram blindar o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. O PT está decidido a poupar Cabral, mesmo depois de o PMDB não ter apoiado o requerimento do ex-presidente Fernando Collor que pedia à Polícia Federal as gravações telefônicas das conversas entre o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com o jornalista Policarpo Júnior, diretor da sucursal da revista Veja, em Brasília.
“A relação com o PMDB vai azedar. Mas não se preocupe você é nosso e nós somos teu (sic)”, escreveu o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), ex-líder do governo, para Sérgio Cabral. A imagem da mensagem foi gravada (por um cinegrafista do SBT). Na sessão administrativa desta quinta, o PMDB se recusou a apoiar o requerimento de Collor. Já os petistas foram claramente favoráveis a ‘investigar essa relação promíscua entre uma quadrilha e um jornalista’.
“Ao final da sessão da CPI, um petista alertou que o PMDB não pode adotar a tática de ‘dar às costas aos demais aliados’. O PT evitou que o proprietário da Delta Construções, Fernando Cavendish, que tem ligações estreita com Cabral, fosse convocado para depor na CPI. A Delta nacional também foi poupada e não teve seus sigilos fiscal, bancário e telefônico da empreiteira. (Estadao.com, 17/5/2012, 21h44.)
* “O maior erro dos últimos tempos do grupo que está no poder”
“O flagrante da mensagem do deputado petista Cândido Vacarezza garantindo imunidade ao governador do Rio, Sérgio Cabral, é mais uma confirmação de que essa CPI do Cachoeira está se revelando o maior erro dos últimos tempos do grupo político que está no poder.
“Convocada estranhamente pela maioria governista, a CPI tinha objetivos definidos pelo ex-presidente Lula e pelo ex-ministro José Dirceu: apanhar a oposição com a boca na botija nas figuras do senador Demóstenes Torres e do governador de Goiás, Marconi Perillo, e desestabilizar o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, responsável pela acusação dos mensaleiros no julgamento do Supremo Tribunal Federal. De passagem, queriam certos petistas criminalizar a revista ‘Veja’ para criar um clima político que favorecesse a aprovação de uma legislação de controle da mídia, como vêm tentando, sem sucesso, desde o início do governo Lula.
“Por enquanto, está dando tudo errado. A tentativa de constranger os ministros do Supremo resultou numa reação do Judiciário, que se viu impelido a não deixar dúvidas sobre sua independência. A vontade de procrastinar o julgamento, quem sabe deixando-o para o próximo ano, quando dois novos ministros estarão no plenário para substituir Cezar Peluso e Ayres Britto, ficou tão explícita que o revisor do processo, o ministro Ricardo Lewandowski, viu-se na obrigação de anunciar que pretende apresentar seu voto ainda no primeiro semestre, permitindo que o julgamento comece logo em seguida. Até mesmo uma frase banal, que queria dizer outra coisa, teve o efeito de levantar suspeitas. Quando Lewandowski disse que o julgamento ocorreria ‘ainda este ano’ sabe-se agora que não estava pensando em outubro ou novembro, mas a partir de junho, como fez questão de esclarecer.
“Com relação à imprensa, todos os esforços do senador Collor de Mello, o ‘laranja’ da tramoia petista, têm sido em vão, e as relações do PT com o PMDB estão azedando, na definição de Vacarezza, porque o PMDB não está disposto a embarcar nessa aventura petista de tolher a liberdade de imprensa. Por fim, a blindagem explícita do governador do Rio pode se transformar em uma faca de dois gumes, tornando inevitável sua convocação.” (Merval Pereira, O Globo, 20/5/2012.)
* O torpedo de Vaccarezza a Sérgio Cabral constrange os membros da CPI
“É generalizado no Congresso o desconforto com o flagrante do torpedo enviado pelo deputado petista Cândido Vaccarezza ao governador do Rio, Sérgio Cabral, durante sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito mais famosa do País. O PT trabalha para reduzir os danos, mas propaga-se em voz baixa na bancada a interpretação de que o deputado fragilizou o partido e deu aval a suspeitas sobre a função de seus representantes na comissão.
“O PMDB considera que ele acabou levando Cabral para dentro da CPMI, abrindo espaço para a aprovação de eventual pedido de convocação apresentado pela oposição, como uma espécie de ‘prova’ de conduta isenta a ser apresentada ao público. Entre os demais parlamentares há divergências quanto à necessidade de afastamento, mas existe um ponto de convergência: a atitude foi ruim para o conjunto da comissão que, perante a sociedade, começa a assumir fortemente a feição de uma ação entre amigos e inimigos políticos sem compromisso com as investigações em si.
“Já o deputado Cândido Vaccarezza não vê problema mais sério no episódio. Assegura que não pedirá para sair da CPMI, garante que o PT não o fará e aposta que seus pares de outros partidos também não. Por uma razão simples: ‘Não tenho nada a esconder, nenhuma relação com a bandidagem e zero compromisso com proteções ou condenações por antecipação’. Tirando o ‘imperdoável’ erro de português da já notória frase ‘você é nosso e nós somos teu’, dirigida ao governador Cabral, Vaccarezza tem convicção de que não cometeu pecado algum. (…)
“Portanto, mesmo estando na berlinda, o petista diz que entra hoje (terça, 22/5) na primeira reunião da CPMI na semana tranquilo quanto a possíveis desdobramentos. ‘Já expliquei, ficou tudo esclarecido.’ Não é a opinião de alguns colegas. O deputado Miro Teixeira tinha na sexta-feira a expectativa de que ele se declarasse impedido de continuar e o senador Pedro Taques preparava-se ontem para embarcar para Brasília já com questionamentos engatilhados para ele. ‘Não faço juízo, mas a mensagem dá a ideia de que está havendo acobertamento, assim a opinião pública entendeu, foi o que me perguntou minha filha de 14 anos. Então, não está nada explicado, assim como não está esclarecida qual a natureza daquela conversa, se pessoal ou, digamos, profissional’, dizia.” (Dora Kramer, Estadão, 22/5/2012.)
* O ministro de Lula que é advogado de Cachoeira
De Alceu Valença, no Facebook, sobre a dupla Carlos Cachoeira-Márcio Thomás Bastos:
“Dizem que o advogado vai ganhar R$ 15 milhões para defender Cachoeira. Esta dinheirama, certamente, vem do arrombamento dos cofres públicos e trambiques (…). Honorários pagos com dinheiro desviado, ilustre causídico, não é prática ética e moral. (…) Estudei Direito, poderia ser advogado, mas jamais aceitaria defender Cachoeira, nem por uma enxurrada de dinheiro.” (Ancelmo Gois, O Globo, 24/5/2012.)
Falando mal das elites nos palanques – e, na prática, aliando-se à pior parte delas
* Mais velho, mas nem por isso mais sábio, Lula é um prisioneiro do ressentimento
“Mais velho, mais sofrido – e nem por isso mais sábio -, o ex-presidente Lula levou para a Câmara Municipal de São Paulo, onde receberia na segunda-feira o título de Cidadão Paulistano, as suas obsessões e os seus fantasmas: as elites e o mensalão. Ao elogiar no seu discurso a gestão da prefeita Marta Suplicy, ele se pôs a desancar a ‘parte da elite’ de cujo preconceito ela teria sido vítima ‘porque ousou governar para os pobres’. Marta fez os CEUs (centros educacionais unificados), exemplificou, para acolher crianças de favelas, algo inaceitável para aqueles que não querem que os outros sejam ‘pelo menos iguais’ a eles.
“O ressentimento de que Lula é prisioneiro o impede de aceitar que, numa megalópole como esta, há de tudo para todos os gostos e desgostos – e não apenas no topo da pirâmide social. Os que nele se situam, uma população que o tempo e as oportunidades de ascensão de há muito tornaram heterogênea, não detêm o monopólio do preconceito de classe. Durante anos, até eleitores mais pobres, portadores, quem sabe, do proverbial complexo de vira-lata, refugaram a ideia de votar em um candidato presidencial que, vindo de onde veio e com pouco estudo, teria as mesmas limitações que viam em si para governar o Brasil. (…)
“No Planalto, é bom que não se esqueça, ele vergastava as elites nos palanques e se acertava na política com o que elas têm de pior. Lula se amancebou com expoentes do coronelato do atraso, do patrimonialismo e da iniquidade – o mesmo estamento oligárquico que contribuiu para confinar à miséria incontáveis milhões de nordestinos.
“Elas não lhe faltaram no transe do mensalão – ‘um momento’, repetiu pela enésima vez o mais novo cidadão paulistano, ‘em que tentaram dar um golpe neste país’. Na sua versão da história, as elites, a oposição e a mídia só desistiram de destituí-lo de medo de ‘enfrentarem o povo nas ruas’. Falso. Lula ainda não havia completado o trajeto da contrição – ‘eu não tenho nenhuma vergonha de dizer ao povo brasileiro que nós temos que pedir desculpas’ – à ameaça de apelar ao povo, quando a oposição preferiu não pedir o seu impeachment para não traumatizar o País pela segunda vez em 13 anos. Pelo menos um dos homens do presidente, ministro de Estado, procurou os líderes oposicionistas para dissuadi-los da iniciativa.
“O estopim foi o depoimento do marqueteiro de Lula, Duda Mendonça, na CPI dos Correios, em agosto de 2005. Ele revelou ter recebido em conta que precisou abrir no paraíso fiscal das Bahamas, a conselho de Marcos Valério, o publicitário que viria a ser o pivô do mensalão, a soma de R$ 10 milhões pelos serviços prestados três anos antes à campanha presidencial do petista e ao partido. Afinal, parcela da bolada já estava no exterior e outra sairia do caixa 2 da agremiação – os famosos ‘recursos não contabilizados’ que Lula admitiria existir na reunião ministerial que convocou para o dia seguinte da oitiva de Duda. Tecnicamente, o PT poderia ter o seu registro cassado, e o presidente poderia ser afastado, se as elites quisessem levar a ferro e fogo o combate político. Se conspiração houve, em suma, foi para ‘deixar pra lá’.” (Editorial, Estadão, 23/5/2012.)
* “O poder do latifúndio nos domínios do PT”
“Petrolina e, como a cidade às margens do São Francisco, Pernambuco inteiro, pela voz de seu governador, Eduardo Campos (do clã Alencar, do Cariri cearense), indignaram-se com as críticas ao ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, por ter destinado 90% de todas as verbas da pasta ao seu Estado. Também a Paraíba mobilizou suas tropas retóricas para atacar qualquer um que lembrasse a circunstância de o novo ministro das Cidades do mesmo governo soi-disant socialista de Dilma Rousseff, Aguinaldo Ribeiro, ser neto de Agnaldo Veloso Borges, vilão histórico da esquerda acusado de ter mandado matar os líderes camponeses João Pedro Teixeira e Margarida Maria Alves. Agora vem o repórter Leonencio Nossa, da sucursal de Brasília deste jornal, lembrar que o dono da empreiteira Delta – campeã de obras do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) e citada nas denúncias contra o bicheiro Carlinhos Cachoeira -, Fernando Cavendish, é bisneto do coronel Veremundo Soares, de Salgueiro. (…)
“Na falta de chuvas deste ano, a situação aflitiva das populações sertanejas é amenizada pela esmola estatal da Bolsa-Família. A famosa bravata de dom Pedro II, que prometeu empenhar o último diamante da coroa imperial para evitar que um cearense morresse de fome, foi assumida pela República assistencialista, que adotou o ‘neocoronelismo’ com cartão magnético e trocou o voto de cabresto pelo sufrágio do guidom. Pois o jegue foi substituído pela moto, financiada a perder de vista, mas também a perder da vida, pois o comprador é dizimado nas rodovias em acidentes fatais e dificilmente sobrevive à própria dívida. (…)
“Para quem é renitente em não ver, este é o lado obscuro do nosso presidencialismo de coalizão, via escusa em que os porões da nossa História se maquiam e mudam para continuarem em suas posições de mando’. Ou seja, ‘ou fingimos que mudamos ou eles mudam contra nós’ – parafraseando o príncipe de Salina, protagonista do romance O Leopardo.
“O maquiavélico conselho do cínico protagonista da obra-prima de Giuseppe Tomasi di Lampedusa ao sobrinho Tancredi traduz a aliança entre os socialistas pragmáticos do PT e os senhores da terra do semiárido. Não se trata de acusar o neto pelos crimes atribuídos ao avô nem de atribuir ao bisavô os deslizes do bisneto, e sim de reconhecer a renitente sobrevivência do semifeudalismo rural sertanejo nos costumes políticos do Brasil contemporâneo. A transposição do Rio São Francisco, anunciada para matar a sede dos sertanejos, não passa de truque retórico para dar cunho social a uma obra faraônica, que custará caro ao contribuinte e entregará a água a quem já tem a terra para irrigar. A estéril discussão sobre os efeitos do clima no semiárido, sem consequências práticas, representa a manutenção do domínio político e econômico dos oligarcas, confirmado por fatos.
“Este ano, a prefeitura de Campina Grande, centro universitário de alta tecnologia, será disputada por Daniela, irmã de Aguinaldo Ribeiro e neta de Agnaldo Veloso Borges, por Romero Rodrigues, primo do senador Cássio, parente de Zé Cunha Lima, de Brejo de Areia, e por Tatiana Medeiros, apoiada pelo prefeito Veneziano Vital do Rêgo Segundo, parente do célebre Chico Heráclio do Rego, personagem-síntese do mandonismo no sertão.” (José Nêumanne, Estadão, 23/5/2012.)
25 de maio de 2012
Outros apanhados de provas de incompetência de Dilma e do governo:
Volume 41 – Notícias de 24/2 a 1º/3.
Volume 42 – Notícias de 2 a 8/3.
Volume 43 – Notícias de 9 a 15/3.
Volume 44 – Notícias de 16 a 22/3.
Volume 45 – Notícias de 23 a 29/3.
Volume 46 – Notícias de 30/3 a 5/4.
Volume 47 – Noticias de 6 a 12/4.
Volume 48 – Notícias de 13 a 19/4.
Volume 49 – Notícias de 20 a 26/4.
Volume 50 – Notícias de 27/4 a 3/5.
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