A Lula o que não é de Lula

Quem anunciou foi o candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad: “Nós vamos instalar um equipamento, um estúdio, no Instituto Lula para que o ex-presidente não tenha de se deslocar para a produtora quando quiser gravar uma mensagem”. Ou seja, não há dúvidas.

Toda a parafernália para que o ex possa participar das campanhas do PT será montada no Instituto Lula, o mesmo que em seu estatuto se define como “suprapartidário”, “sem fins lucrativos” e “independente de estados, partidos políticos ou organizações religiosas”. Basta ir lá no site e conferir.

O site é uma pérola. A “missão” se contradiz com a confissão de peito aberto de que o Instituto não está ali para ser entidade pública. Traz notícias do apoio de Lula a candidatos petistas, fotos de eventos do PT e algumas – as “suprapartidárias” -, da visita de Fernando Henrique Cardoso ao Hospital Sírio-Libanês. São centenas de fotos.

Emblematicamente, não reproduz a do encontro Lula-Maluf, que selou o apoio do ex-prefeito a Haddad.

Da sede do Instituto, Lula gravará mensagens para São Paulo, e para cidades com conflitos ardentes, como Belo Horizonte e Recife. E também para alguns aliados como Eduardo Paes (PMDB-RJ). Isso é que é ser “suprapartidário”.

Não é de hoje que o Instituto Lula desrespeita a missão que criou para si. No início de maio, sua assessoria de imprensa assinou a nota oficial onde dizia que Lula “estava indignado” com a reportagem da revista Veja sobre a pressão do ex em cima do ministro do STJ, Gilmar Mendes, para adiar a data de votação do mensalão.

Ali, uma entidade que se diz pública tornou-se mais do que privada. Virou particular, voz do dono, e não do público. Agora, escancara, sem qualquer constrangimento, que também é partidária. E ativamente partidária.

Absurdos que, no mínimo, desautorizariam a concessão feita há pouco mais de dois meses para que o Instituto Lula instale sua sede no centro de São Paulo, onde pretende construir o Memorial da Democracia.

A proposta do prefeito Gilberto Kassab, feita quando Lula e ele estavam prestes a selar casamento, prevê a exploração, por 99 anos, de um terreno avaliado hoje em R$ 20 milhões. Um vexame para Kassab, que, com a oferta oportunista, colocou seus interesses acima dos da cidade.

Se privatizar o Estado em benefício próprio e dos seus foi praxe de Lula durante o exercício da Presidência, não se poderia esperar ação diferente do Instituto que leva seu nome. Agora, em campanha eleitoral declarada, mostra, sem qualquer pudor, a que veio. Afinal, é do Lula e Lula tudo pode. E ai de quem contestar.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 15/7/2012.

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