Penso na palavra beleza e me vem a imagem dessas duas crianças sorrindo, brincando em volta de adultos deslumbrados com sua formosura e delicadeza. Penso no tênis que continua jogando o suíço Roger Federer, capaz de fazer com a raquete e a bolinha movimentos surpreendentes e requintados que entusiasmam quem o observa e desnorteiam o adversário.
Recordo a festa junina da noite anterior, farta de comida, bebida e amizade. A fogueira lançando suas chamas para o céu, o espetáculo de fogos que alegra as crianças e a lua cheia que, aos poucos, vai surgindo por detrás do morro.
Na tarde fria de domingo, os campos de futebol e as torcidas coloridas encantam os pequenos e os meninos que habitam um canto de todos nós, pelo menos os sensíveis. Pois já conheci gente que não valia nem um tostão da criança que foram.
Concentro-me nesses momentos de boniteza, busco outros na memória, pois não me conformo com o grau de safadeza com que os jornais de todos os dias retratam a vida política do país. Entre a esperança da juventude, os sinceros desejos de contribuir para que o Brasil seja o mais justo e bom para os brasileiros, a paciência se esvai diante de tanta porcaria praticada pela maioria dos nossos homens ditos públicos, dignos de privadas.
Até quando pensam que enganam a maioria trabalhadora, contribuinte dos impostos que eles nos surrupiam, cidadãos vilipendiados em seus direitos? Sei que não é só por aqui, em terras tropicais, que o populismo, a demagogia e irresponsabilidade dominam a política. Mas é aqui que eu vivo e eu me preocupo com as pessoas que me cercam, com meus pequenos e meus amigos, e com todos os que habitam nossa pátria.
Não encontro as expressões próprias para definir o que penso de grande parte dos poderosos do dia, quanto mais crentes em seu poder mais ridículos. Vou então ao dicionário e recito o que sinto por essa gente: abominação, rejeição, desprazer, antojo, repugnância, repulsa, horror, nojo, engulho, enjoo, asco,náusea, intolerância, implicância, fastio, birra, ojeriza,antipatia profunda,raiva, rancor, hidrofobia, aversão e muitos outros vocábulos.
Comecei falando em coisas belas e me perdi no meio do caminho ao me lembrar das desonestidades de nossos medíocres de cada dia. Mas não me perco mais.
Olho pela janela e percebo que o pátio está ensolarado, o céu azul de inverno se faz presente, o que é um convite para que eu vá quentar sol na manhã maravilhosa.
Lá ficarei até que me livre dos pensamentos indigestos e o corpo e a alma recuperem o clima e a percepção da beleza da vida.
Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em julho de 2012.
“VOTO” COM O RELATOR.
Muito bom o texto do Brandt. O mundo é da beleza, sem dúvida. Beleza dos corpos e dos objetos feitos, ambos para o consumo. A beleza que o brandt se refere no texto, creio, é a beleza dos momentos das festas juninas e as peladas dos campos de futebol, ah que saudade! Vou também esquentar o esqueleto ao sol do céu azul do inverno.