Há poucos dias, ao terminar a leitura de Crônicas de Papel, livro simpático, e publicação cuidadosa da Editora Mercuryo Jovem, fiquei pensando em sua autora, Januária Alves.
Ao criar a personagem Elis, adolescente, filha única, mãe jornalista, Januária, filha única, mãe e jornalista, de certa maneira se recria.
A junção – mais que encontro – das duas, inevitável, não apenas confirma esperadas coincidências. Surpreende com inesperada revelação.
Elis, as Crônicas de Papel contam, não é muito amiga dos livros. Em um caderno, chega a anotar: “Onde uma pessoa sem razões para ler pode encontrar cem razões para ler”? Januária, a vida inteira conta, sempre viu, leu e sentiu os livros como personagens absolutamente principais, capazes de mudar “o rumo dos acontecimentos com o rumor das palavras”.
Para eliminar a única e profunda aresta existente entre a autora e a personagem, surgem de maneira simples, natural e bonita, duas soluções. Duas ajudas. Primeiro, a professora. Aquela, específica, atenta. Depois, a amiga. Aquela, próxima, leitora.
Criando um mundo favorável às futuras leituras de Elis, espelho adolescente, Januária comove o leitor com uma densa e intensa declaração de amor aos livros.
Usando os mais finos instrumentos, nascidos da sensibilidade de quem, ao absorver as histórias alheias, absorve a sua própria, ela destrincha – com visível maestria –, os caminhos da leitura. Suas origens, suas fases. De onde vêm, por onde passam. Para onde vão, a leitura do livro de Januária não conta.
Ela deve saber que – enigma indecifrável –, não podemos nem imaginar onde as leituras nos levam. Grandes, riquíssimas viagens. Todas sem volta.
Esta crônica foi originalmente publicada no primeiroprograma.