Tocar na banda

Quantos são os cantores e compositores no Brasil? Alguém sabe? Já foram cadastrados? Pergunto porque de vez em quando leio ou ouço afirmações como esta: “Cantores e compositores defendem criação de órgão para fiscalizar Ecad”.

Não sou cantora nem compositora, mas sou parte interessada. Meu pai era compositor e a herança maior que me deixou foram duas: curiosidade e músicas que, sem jamegão oficial e sem marqueteiro baiano nem nada, fazem parte do cancioneiro sentimental do brasileiro há mais de 50 anos.

Há quem critique os filhos de músicos por receberem os direitos autorais herdados dos pais.

A esses eu envio daqui uma pergunta: se meu pai fosse confeiteiro de mariolas, eu poderia herdar, sem crítica de vocês, a fábrica de mariolas, não é?

E se ele, com os royalties que recebeu sobre suas músicas, tivesse comprado uma birosca para vender cigarros Iolanda, vocês certamente achariam normal eu gerenciar a birosca, verdade?

Mas ele não era comerciante, nem político. Era um simples compositor de música popular brasileira e preferiu cantar as mariolas e o cigarro Iolanda num samba em que lastimava o fato de que Tocar na Banda, aqui no Brasil, só rendia mesmo duas mariola e um cigarro Iolanda.

Hoje não é bem assim… São muitos os nossos compositores e cantores que vivem nababescamente.

Naturalmente, são autores de músicas exponenciais e que ficarão para todo o sempre.

Seus shows são espetáculos de som e luz como os de Versailles. Um simples ring de box como Frank Sinatra usou em seu Main Event, é impensável, não faria jus ao talento, à voz, nem ao magnífico repertório que apresentam.

O Adoniran não conseguiria lotar o Madison Square Garden, sei eu. Mas suas músicas lotam, há quase seis anos, duas noites por semana, o Bar Brahma, que é o Canecão paulistano. E muitos bares por este Brasil.

Como em todos os locais onde há música ao vivo, uma planilha é preenchida e essa planilha é entregue ao ECAD. Que cobra de acordo com as planilhas que recebe. Se quem preenche a planilha é correto, o ECAD cobra e distribui. Caso contrário…

Menciono tudo isso para lembrar, a quem não é do ramo, que há muito interesse envolvendo o ECAD. As quantias em jogo são fantásticas. E isso abriu um serpentário…

Ana de Holanda foi uma excelente escolha. Talvez precisasse de uma assessoria mais eficiente. Mas é mulher correta e agirá de acordo. Creio que ela não contava é com a desenfreada ambição do PT.

Se vocês olharem de pertinho os olhos deles, sob a luz do sol, verão nitidamente o cifrão refletido lá bem no fundo.

O que eles esquecem, é que de um relógio pro outro, as horas vareiam…

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 13/5/2011.

Uma nota

Eu estava há dias com vontade de escrever um post sobre Ana de Holanda, vítima do “fogo amigo” do PT desde que foi indicada para o Ministério da Cultura, e que vem sendo metralhada duramente nos últimos dias.

Cheguei até a ensaiar o início de um texto:

Tenho, desde sempre, uma grande simpatia por Ana de Holanda. Sem motivos, talvez. Uma simpatia gratuita. Ou não. Talvez a partir da própria opção por seu nome: ela não quis ser Ana Buarque de Holanda. Quis ser diferente do irmão mais famoso, que, ao contrário, trabalhou muito para livrar-se do “de Holanda”.

Não fui muito adiante. Não precisava. Fernando Brant, grande letrista, gente finíssima, um dos maiores batalhadores pelos direitos autorais dos compositores, autores, criadores, artistas do país, que me dá a honra de permitir a publicação de suas crônicas neste site, fez uma bela defesa de Ana de Holanda em seu texto “Sonho meu”.

E Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, mulher de um dos textos mais elegantes que conheço, gente finíssima, que me dá a honra de republicar alguns dos meus rabiscos em seu blog Sobre isso e aquilo…, publicou o belo artigo acima no Blog do Noblat, e me autorizou republicá-lo aqui.

Quem tem os textos de Maria Helena e Fernando Brant em seu site não precisa de mais nada.

Quem, como Ana de Holanda, tem a defesa, o apoio de Maria Helena e Fernando Brant está, seguramente, fazendo a coisa certa.

Sérgio Vaz, 15/5/2011.

Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *