Notícias da ilha dos irmãos Castro: o restaurante La Guarida, aquele do filme Morango e Chocolate, fechou e voltou a reabrir; os cabos de fibra ótica que ligarão Cuba à Venezuela, com 640 megabytes de capacidade, estão chegando, e segundo a imprensa oficial, que é a única existente no país, servirá não para que os cidadãos tenham acesso à internet, mas para “fortalecer a soberania e a segurança nacional” (quem não se lembra da segurança nacional, aquela obsessão doentia dos militares de 64?); e, por fim, a informação de que, em 3 meses, já foram concedidas 75 mil licenças para quem quer se aventurar a trabalhar por conta própria numa das 178 profissões autorizadas pelo governo – ou pelo partido, o que dá na mesma.
Assim a pequena ilha continua a sua via-crucis, que já dura mais de 50 anos, em busca de um caminho que permita uma sobrevivência digna aos seus cerca de 11 milhões de habitantes, os que resistiram à perigosa aventura do êxodo pelo Golfo do México.
Cuba é a penúltima disneylândia socialista do mundo. A última é a impenetrável Coréia do Norte. Ambas são uma espécie contemporânea de monarquia hereditária de partido único. Numa, o poder passa de irmão para irmão. Na outra, de pai para filho.
A ilha está sendo abalada, desde os meses finais de 2010, por um espasmo de busca desesperada de eficiência por parte do governo, que não tinha mais como sustentar 4.200.000 funcionários públicos (80% da população ativa), muitos dos quais ociosos, nem como continuar subsidiando a rala caderneta de racionamento de bens básicos que garantia a mínima cota de subsistência à população.
Colocou em prática, a partir de outubro, um plano de demissão, que prevê a eliminação de 1.500.000 empregos estatais num prazo de 3 anos.
Não é a primeira vez que o governo cubano tenta a busca da eficiência e dar fôlego à pequena iniciativa privada. Da outra vez, logo depois da derrocada da URSS e do final da tutela soviética sobre a ilha, no início do chamado “Período Especial”, mais de 600 “paladares” (pequenos restaurantes privados) floresceram por toda a ilha, até que a prosperidade de alguns de seus donos começasse a incomodar Fidel e seus ‘apparatchiks”, e eles começassem a ser sufocados por dezenas de regras, restrições e impostos que levaram ao fechamento de quase todos eles – inclusive o mais famoso, o La Guarida, que vai tentar reabrir baseado no novo surto de liberalização do empreendedorismo.
Em abril, o Partido Comunista Cubano realizará o seu congresso nacional, que é apenas o sexto em seus cinqüenta anos de hegemonia absoluta na direção do país. Nenhum grande tema ideológico estará na pauta de Raúl e seus burocratas.
Eles vão discutir, apenas, de que forma a população poderá usar as regras de sua pequena parcela de liberdade consentida para poder sobreviver e, quem sabe, um dia prosperar. Seria uma boa oportunidade para que os EUA abandonassem o seu estúpido “bloqueo” e deixassem de fornecer às autoridades de Cuba o pretexto para justificar a miséria política, econômica e moral de seu regime.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 28 de janeiro de 2011