Nem os países da zona do euro, nem o baque de 38% na geração de emprego formal. Nada, mas nada está tão em baixa quanto a cotação da moral, forçada pela alta acelerada dos índices de sem-vergonhice e da cara-de-pau.
E os personagens desse mercado nefasto – que têm como praxe realizar lucros taxando de criminoso o denunciante e não quem prevarica -, se superam dia após dia. Apóiam-se em regras que só valem para uns, no status dos menos iguais, certos de que os chamados “malfeitos”, quando punidos, só o são da boca para fora.
Esquizofrênicas como o mercado financeiro em meio às crises, as ações do governo só fazem reforçar danos.
Com o ministro do Trabalho, a presidente Dilma Rousseff fez a cotação da mentira bater nos píncaros. Ela, a Câmara dos Deputados, o Senado, e, de resto, todo o país, ouviram mentiras, mais mentiras e outras mentiras de Carlos Lupi. Depois, as desmentiras. Ainda assim ou por isso mesmo, deu-se, sabe-se lá por que, sobrevida ao ministro.
Quase imbatível nesse mercado, o ex-ministro José Dirceu – réu do mensalão, apontado pela Procuradoria Geral da República como chefe da quadrilha -, carimbou a moralidade como praga daninha que gera lideranças funestas, ao discursar no 2º Congresso da Juventude do PT. “Lutas moralistas” teriam embalado Jânio Quadros e Collor de Mello, esse último cassado exatamente por um levante popular contra a corrupção. Mas isso, é claro, Dirceu não disse.
Na mesma balada, o presidente da Juventude do PT, Valdemir Pascoal, qualificou as denúncias de corrupção como “golpe das elites”. E, mais uma vez, a grande imprensa, a danada da mídia, materializou-se ali como um capeta a ser exorcizado.
Não por obra do acaso, na mesma semana, a idéia fixa da regulação da mídia voltou à tona em palestra do ex-ministro de Comunicação, Franklin Martins, no Congresso de Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. E Dirceu, sempre ele, elegeu a imprensa como “partido da mídia”.
Nas contas dos marqueteiros do governo, com a falação em torno da faxina ética Dilma já capitalizou o máximo que podia. Nessa seara, a ordem é continuar alimentando a idéia de conspiração contra o governo. No mais, é não perturbar aliados, garantir a aprovação de matérias-chaves, como a DRU, a lei da Copa, o orçamento. E quando tiver de mexer em alguma coisa, continuar trocando seis por meia dúzia.
Mas regras de mercado costumam ser draconianas. As ações lastreadas em valores morais podem estar em baixa, mas, como metais nobres, são resistentes e jamais perdem o valor de face. As de ocasião são voláteis. Delas nascem as bolhas que estouram.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 20/11/2011.