Saí de casa às oito e pouco da manhã e às nove estava a bordo do Embra 45, para viajar do aeroporto da Pampulha para o Santos Dumont. Esse era um vôo bom, pois em trinta e poucos minutos desembarcávamos no Rio.
Tenho saudade daquele avião da Riosul e do fato de poder, com tranquilidade, ir e voltar no mesmo dia. Dormir em casa, longe da frieza dos quartos de hotel.
Dentro do táxi, em direção ao compromisso daquele dia, ouço notícias no rádio, falando da queda das bolsas de valores em todo o mundo. Perguntei ao motorista o que estava acontecendo, pois ele estava atento ao noticiário.
Dois aviões haviam se chocado com prédios em Nova York. Aí fica claro que aquele foi o 11 de setembro de 2001 e todos, na reunião em que eu estaria e em todo o globo, estavam estupefatos. As imagens eram de impressionar e um dos comentários mais ouvidos naquele ocasião era que parecia coisa de cinema e não realidade.
Todos sabemos que foi real, violento e desumano. A crueldade só gera outras atrocidades, a insanidade, por mais que nos assuste, mais à frente será superada por mais loucura. Como imaginar que o ser humano seja capaz de tanta barbaridade?
Os jornais e televisões se prepararam e, nesta semana, vão nos inundar com imagens, lembranças, depoimentos, análises e toda sorte de recheio para rememorar aqueles acontecimentos estúpidos. Há seriedade, mas também muito circo, nessa cobertura. Não esquecer o ocorrido para que ele não se repita, é um pensamento lúcido. Mas o que qualquer um de nós pode fazer para impedir um atentado terrorista? Até que ponto o veneno do ódio inoculado nos norte-americanos pode nos contaminar?
Sou solidário com o heroísmo dos bombeiros que trabalharam no World Trade Center, mas abomino o que os Estados Unidos fizeram no Iraque. Sou solidário com todas as vítimas de todas as partes e desprezo todos os ditadores de todos os tempos, lugares e ideologias.
Por tudo isso, ando cansado de toda essa conversa sobre o 11 de setembro. Pois ao mesmo tempo em que as lentes estão focadas nessa comemoração(?), milhões de somalis morrem de fome. Descobre-se que o governo dos Estados Unidos fez experiências genéticas criminosas e desumanas com os negros do Alabama, e que também fez de cobaias os habitantes da Guatemala. Isso se deu na época em que os nazistas praticavam essas bestialidades na Europa. E Hiroshima e Nagasaki? A condenação de um tem de ser acompanhada da condenação de todos.
Não vou mergulhar na encenação da autópsia do “nine eleven”. Guardo minhas energias para pensar e desejar que as luzes da humanidade prevaleçam.
Esta crônica foi originalmente publicado no Estado de Minas, em setembro de 2011.
Conforme disse em outro artigo, reitero agora:
A minha solidariedade está nos 4 milhões de vietnamitas mortos por veneno,
e não na [até então impune] Nova Iorque.
Os chineses em Nanquim e outras cidades não sentem pena de Hiroshima. Ponto.