Essa a tradução brasileira do título do filme Blow up, de Antonioni. Mas a história de um beijo, que eu vou aqui contar, é singela e bela como são todos os amores. Não guarda conexão alguma com ampliações de fotos tiradas, na ficção, em um parque londrino.
Passou-se há exatos 20 anos, em pleno sambódromo do Rio de Janeiro. Ele, com poucos anos de formado em direito, e ela também. Estavam ali a trabalho, com funções diferentes. Mas os olhares que trocaram, posso adivinhar pelo que relatam hoje, eram cheios de desejos e esperanças.
Eis que estou sentado em mesa de restaurante carioca, no dia 17 de fevereiro de 2011, ouvindo o relato do primeiro beijo do casal. Eu talvez não devesse estar presente a essa comemoração, mas ele insistem em dividir um vinho comigo. Fico, pela amizade e pelo prazer de conversar com eles. Mesmo porque, na minha frente, eles não farão um replay daquele momento tão marcante. O bom mesmo virá depois.
Viajo um pouco e me lembro de algo que li recentemente e, pelo excesso de informações que nos atropelam, não sei se é verdadeiro. Li que o beijo teria nascido na Grécia. Às mulheres não era permitido que bebessem vinho, privilégio exclusivo dos homens. Os maridos, chegando em casa, tocavam os lábios das esposas para constatar que não havia sabor do néctar dos deuses. Acho estranha essa conversa. Beijar é tão bom que deve ser muito mais antigo. Proibir a mulher de saborear o vinho também é um disparate, como são todas as imposições e proibições a que foi submetida através dos tempos. E o tal marido, em determinado momento, percebeu que se o vinho é muito bom, o beijo da mulher amada é muito melhor.
Mas aconteceu em uma noite carioca de 17 de fevereiro, em 1991, que um rapaz bem intencionado se acercou da moça, com jeito sedutor e a convidou, estavam no recuo da bateria do sambódromo, para tomarem juntos um cravo escarlate do Candonga. Não conheço essa bebida e nem tenho ciência de seus efeitos afrodisíacos. O fato é que tomaram esse elixir e o caminho se abriu para o afeto, a timidez desapareceu, e o beijo se deu. Foi o primeiro, mas poderia ter sido o último. Não foi. Um mês depois, num mesmo dia 17, começaram a namorar (já me chamaram para a comemoração, em público, desse acontecimento em suas vidas).
Depois daquele beijo, o namoro. A seguir o amor e a paixão, as afinidades se revelando, a admiração, a querença, a ternura, a intimidade, o prazer. Os anos se passaram e eles gozam até hoje o perfume do primeiro beijo. Só não conto a aventura que foi a cerimônia do casamento deles, com atraso e fatos que pensamos só existir em novela. É que o espaço acabou e eu, também filho de Deus, estou com desejo de beijar.
Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em 2/2011.