“Ao mesmo tempo que a percepção do real, a ideologia suspende o exercício da consciência moral.” (Jean–François Revel)
A democracia italiana sobreviveu ao duplo ataque dos terrorismo de direita (terrorismo nero) e de esquerda (terrorismo rosso) nos anos 70, conhecidos como anos de chumbo, sem se afastar do estado de direito. O parlamento, os partidos, a justiça, a imprensa e todas as instituições continuaram funcionando apesar da ferocidade dos ataques extremistas.
A insanidade política teve conseqüências funestas e deixou cicatrizes profundas na sociedade italiana. O assassinato do primeiro-ministro democrata-cristão Aldo Moro por desatinados militantes das Brigadas Vermelhas e o massacre provocado por uma bomba jogada na estação ferroviária de Bolonha, vitimando 82 inocentes, por organizações de extrema direita, se tornaram a simbologia sinistra de toda uma época.
Grupos extra-parlamentares optaram pela luta armada e pelo ação terrorista para evitar que a Democracia Cristã, partido hegemônico no poder desde o final da II Guerra Mundial, e o Partido Comunista Italiano, então em pleno processo de revisão de seus princípios históricos, e já tendo optado pela democracia como valor universal, levassem adiante o “compromisso histórico” que lhes permitiria coabitar no governo.
O “compromisso histórico” era a negação de todo o fabulário ideológico alimentado por esses grupúsculos políticos, uns inconformados com a falência estrepitosa do modelo socialista e saudosos da ditadura do proletariado, e outros inconformados com o final do “vintennio” fascista. Por isso se armaram e cometeram atrocidades contra a sociedade democrática italiana.
Césare Battisti é um filhote típico dessa época de fúria. Militante de um minúsculo grupelho de lunáticos chamado “Proletários Armados pelo Comunismo”, foi condenado à revelia à prisão perpétua pela participação em quatro assassinatos. O resto da história é conhecido: asilou-se na França acolhido por Mitterand, teve o asilo cassado no governo Chirac, fugiu para o México e depois internou-se no Brasil, onde se formou uma torcida organizada a seu favor, chefiada pelo então ministro da Justiça Tarso Genro, que ignorou um parecer do Conare (organismo que avalia pedidos de asilo político) e resolveu dar-lhe guarida como perseguido político e conseguiu convencer o governo a confrontar o pedido de extradição feito pelo governo italiano.
Ao negar a extradição, o Brasil está não só atribuindo-se o direito de colocar em dúvida a democracia e os tribunais italianos, como a fazer um julgamento histórico depreciativo e ofensivo à forma como o estado de direito italiano enfrentou a ofensiva insana do terrorismo sem sacrificar as suas instituições.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 7/1/2011.
Nos últimos dias de seu mandato, o molusco zomba das leis duas vezes, ao negar a extradição de um terrorista (ignorando o tratado existente entre os dois países) e com a palhaçada dos passaportes diplomáticos de seus filhos, “que servem ao interesse do país”.
Abraço,