Há quem ache que é impossível deter a corrupção no regime de “presidencialismo de coalizão”, porque o governo vai sempre precisar do apoio de partidos aliados para se sustentar.
É por isso, aliás, que um ministro demitido por suspeita de corrupção é substituído por outro do mesmo partido: o ministério faz parte da “cota” do partido.
No caso, o proprietário do Ministério dos Transportes é o PR -Partido Republicano -, que , antes de abraçar tão grandiosos princípios, atendia pela alcunha de PL – Partido Liberal – e nesta legislatura detém 40 cadeiras na Câmara Federal e 6 no Senado.
Ou seja: é um partido que morde um bom pedaço da chamada “governabilidade”.
Tanto morde que o próprio governo anunciou que caberá ao ministro demitido dar palpite na escolha do sucessor.
Um fato inédito: o ministro que saiu do ministério sob suspeita vai ter o poder de ajudar a indicar quem vai substitui-lo. Nunca antes na história deste País…
Há quem ache também que a corrupção no Ministério dos Transportes não tem nada a ver com a degradação dos costumes políticos e governamentais, uma vez que desde o tempo do Império o Departamento e depois Ministério da Viação, “este canal entre os cofres públicos e os controladores das obras foi fonte de sussurros da corte” (Janio de Freitas, Folha de S.Paulo, 7/07/2011).
O fato é que em seis meses de governo, dois ministros importantes de Dilma Roussef perderam a cabeça, e por acaso ou não eram ministros indicados (ou seria mais realista dizer nomeados ?) pelo ex-presidente Lula.
Em ambos os casos, especulou-se que eles teriam sido vítimas de fogo amigo: ou seja, pessoas de dentro do próprio governo (ou de dentro do próprio partido do governo) teriam municiado a imprensa com documentos, fatos ou indícios de irregularidades que acabariam por provocar a sua remoção dos cargos.
Em ambos os casos de demissão dos ministros, a presidente Dilma emitiu sinais contraditórios. Os analistas políticos se dividiram entre os elogios à sua inflexibilidade e intolerância com a corrupção, ou os indícios dela, e às críticas a uma hesitação na tomada rápida de decisões.
Palocci foi mantido em banho-maria durante 23 dias, enquanto os assessores de Nascimento acusados pela revista Veja foram fulminados em menos de 24 horas (ainda que um deles tentasse transformar o afastamento em férias).
O próprio Nascimento, prestigiado por uma nota oficial no primeiro momento, foi detonado em quatro dias pela divulgação pela imprensa de um acúmulo de evidências de irregularidades.
E detonado com uma certa dose de humilhação: ao saber que um subordinado seu fora convocado em seu lugar para uma reunião com a presidente, não teve alternativa a não ser apresentar a sua carta de demissão.
A dúvida que permanece, depois das duas demissões e depois da indicação dos substitutos, é esta : vai começar de fato um governo Dilma, com suas impressões digitais e uma forma pessoal de confrontar com mais rigor os esquemas de corrupção, ou ela apenas vai mudar os parceiros do baile, mantendo a mesma contradança?
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 8/7/2011.
“Político na cadeia? Vai demorar muito ainda para que se veja um caso” (Ministro do STF Joaquim Barbosa, na Veja de 15 de junho). Sandro, a gente se indigna porque os meliantes da política não pagam por seus crimes. Mas o problema não é só esse. Livres e à vontade, voltam a delinquir. Reincidem, como se suspeita agora de Waldemar da Costa Neto, estrela máxima do PR, já envolvido com o mensalão. Se tudo se comprovar, quais as chances de ser ver esse pessoal na cadeia? “Vai demorar muito ainda para”…