Em pouco mais de 24 horas, me contaram dois segredos. Notícias boas, uma vinda do Rio e a outra contada por um grande amigo, na mesa de um bar, em frente a dois copos de cerveja. Tancredo Neves dizia que não queria saber de confidências de quem queria lhe narrar algo que ele não poderia passar para adiante. Se a pessoa não conseguia guardar silêncio, não seria ele a se responsabilizar por isso. Mas nos casos acontecidos comigo, eu aceitei o encargo da discrição porque o que me foi revelado me deixou muito satisfeito. Ouvi com agrado os relatos sigilosos, gozei a satisfação de duas conquistas, e me incumbi de esquecer por um tempo o que, sendo do meu conhecimento, deveria ser preservado.
Tanto escondi os fatos no fundo de minha consciência que até tenho a impressão de que não me confiaram nada. Seria tudo um sonho. Sei que não é, mas faço de conta.
Enquanto tranco no meu interior as duas conversas, leio nos jornais uma entrevista com Mario Vargas Llosa, premiado com o Nobel de Literatura. Diz ele que recebeu um telefonema internacional, da Suécia segundo lhe disseram, comunicando-lhe a escolha. E que em 14 minutos a informação seria divulgada pelas televisões, rádios e internet. Patrícia, sua mulher, quis que ele ligasse para seus três filhos, para lhes comunicar o que ocorria.
Precavido, ele se esquivou, lembrando-se de um episódio em que supostos amigos de Alberto Moravia, escritor italiano, o cumprimentaram como o escolhido pela Academia Sueca. Era mentira e o grande romancista, em meio a brindes de comemoração, se viu envolvido em vexame.
Por insistência da mãe (a casa do Nobel em pouco tempo viveria um tumulto), os filhos acabaram recebendo os telefonemas paternos antes que os 14 minutos se passassem, mas, como se tratava de verdade, ficou tudo certo.
Se é difícil esperar por alguns momentos para gritar ao mundo as novidades, seria árdua a tarefa de conservar no limbo, por dias, o que nos foi dito com cláusula de exclusividade.
Entre os linguarudos e o recatados, convivo melhor com os últimos. Não quero dar bom dia a cavalo, muito menos ser leva e traz. A prudência, que se adquire com a experiência, embora haja gente que quanto mais vive mais fofoqueiro é, me recomenda ser um tipo que mais vê e ouve do que fala. Não que eu não goste de extravasar meus sentimentos de amor aos amigos, parentes e semelhantes, com muita brincadeira, riso e abraços.
Existe o tempo de relaxar, as ocasiões em que as amenidades dominam nossas conversas. Mas há também o tempo de calar, conservar o mistério necessário. È um teste de controle que eu me impus: ocultar no fundo do meu pensamento o que só pode ser dito depois de passados alguns dias. Cala-te, boca.
Esta crônica foi originalmente publicada no Estado de Minas, em outubro de 2010.