O Kindle, os livros de papel e a Catherine

Em artigo para esta página, Anélio Barreto demonstra o gosto pelo livro impresso, e o desencanto com o virtual. Ora, imaginemos que uma pessoa, um amigo da gente, vá passar duas semanas em uma ilha sem recursos. Vem a pergunta clássica: “O que você levaria para uma ilha?”.

A questão comporta várias respostas (Catherine Zeta-Jones é uma delas), mas certamente o nosso amigo citaria livros. Se escolhesse meia dúzia deles teria que acrescentar à bagagem pelo menos uma sacola. Mais volume a transportar, fora o peso.

No destino – a ilha – precisaria de um lugar para guardá-los. De preferência uma prateleira, abrigada do tempo. Você vai se despedir do amigo, e nota que sua bagagem é exígua.

– Ué, não vai levar nada para ler?

Ele, sem conseguir conter um ar de comiseração:

– Estou levando meu kindle.

Duas semanas depois, o amigo está de volta.

– Então, como foi na ilha. Leu bastante?

– Nada, meu. O kindle deu pau.

 * * *

Está certo que livro de papel não quebra. Mas há prós e contras a considerar. Não digo que a Associação Protetora dos Seres Irracionais deva fazer passeata em favor das traças, privadas de um precioso alimento. De outro modo, a informática poderia nos livrar definitivamente dessa praga.

E nem sequer falei de sentimentos, do amor ao livro tão bem mostrado por Barreto. “O homem que lê vale mais”, dizia a frase altaneira de outros tempos. Se o homem aparecesse na foto segurando um Kindle a mensagem teria o mesmo efeito?

 Mas vejam. Fui para a cama com um livro (preferia a Catherine) que comprei em um sebo. Gosto de ler na cama. A obra comemora o Nobel ganho por William Faulkner, em 1949, e contém seu primeiro romance, Paga de Soldado.

 Volume de capa dura, 23,5 centímetros de comprido, por 16,5 de largo. Lombada de quatro centímetros. Peso: um quilo. Tive que segurar o tijolo sob o foco do abajur. Muito difícil, o pulso dói, o braço cansa. Foi nesse momento que comecei a pensar no e-book.

 No meu caso, a solução poderia estar na mudança de hábito. Ler sentado, com as duas mãos no livro. Mas horas de leitura nessa posição não produziriam dor em outra parte do corpo, mais ao sul?

 Ainda não decidi pelo material ou virtual. Mas nada impede que fique com os dois. Se quisesse reler meu Guerra e Paz, poderia apreciar o livrão na estante. E depois ir para a cama com uma dessas super-novidades que estão surgindo. Imagine, Tostói em um texto leve.

 Minha preocupação, no caso das novidades, é a longevidade do conteúdo. Quem garante que livros guardados nos aparelhinhos (ou mesmo em grandes computadores, na retaguarda) não desapareçam em algumas décadas? E se der um tiuti e apagar tudo?

 A não ser que se faça como na firma em que um primo meu, Valter Espin, trabalhava. A diretoria passou para microfilmagem os documentos que abarrotaram gavetas de arquivo durante muitos anos. Mas, por garantia, continuou guardando os originais em papel.

 Abril de 2010

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