Com essa pergunta muita gente se cumprimentava e acalmava possíveis intenções de lutas corporais. Tempos amenos da juventude. Nem é que, naquele tempo, se bebesse muita cerveja. A falta de dinheiro nos obrigava a fazer “ vaquinhas”, contagem das moedas de todos, para se chegar à conclusão de que poderíamos, no máximo, sorver duas garrafas e, quem sabe, uma porção de pão molhado. Farra era coisa rara.
Mas eu chamo a atenção para o fato de que o suco de cevada era associado à alegria, à amizade, à confraternização. Era o oposto da briga, o cervejar.
Por outro lado, futebol, ao menos para mim, sempre foi um jogo, uma diversão, uma das melhores maneiras de se brincar com a melhor das invenções do mundo: a bola, esse objeto mágico que encanta a meninada e conserva, em adultos, o amor pelas aventuras inesquecíveis da infância.
Mesmo nos estádios, o torcer pelo seu time não carregava esse lado moderno das torcidas organizadas para a violência. A pulsação forte dos campos de futebol foi-se desviando para a calmaria e frieza da televisão.
Quantas vezes andei por quilômetros, de minha casa ao Independência, para viver de perto a emoção da bola rolando pela grama verde, todos fascinados pelo ir e vir da redonda. Pode ser que já existisse, mas nunca soube que se matasse por causa do futebol. Os jogadores não saíam de carros potentes, finda a batalha sem mortos ou feridos. Iam nos braços de seu povo, por ruas e avenidas, para a comemoração.
Ainda se sabe jogar um belo futebol no mundo, apesar dos técnicos, dirigentes e cronistas medíocres. Ainda se torce com amor, nas várias cidades e países.
Ainda é possível jogar com eficiência e beleza. Mas está cada vez mais difícil. Há um estúpido complô contra o lúdico, a alegria e a espontaneidade. Vozes professorais gritam, à beira dos gramados, incentivando os pontapés nos adversários. Poucos sussurram invocando a delicadeza de dribles, passes e toques coletivos.
Os idiotas não dizem mais que o lançamento primoroso de um craque para outro é um passe. Falam, diretamente do basquete americano, em assistência. Parece que se referem a hospitais e doenças e não à virtude maior do esporte coletivo.
Comunico que pretendo fazer greve contra aquela marca de cerveja que, em nome do patriotismo e da pancadaria, quer, juntamente com o Professor Dunga, nos convocar para uma guerra. Com gritos histéricos parecem nos preparar para uma luta contra inimigos. Pregam garra, raça, com olhos e vozes de ódio.
Minha vida é outra, meu jogo é outro. Espero que, quando chegar a hora da Copa do Mundo, a seleção brasileira se lembre de que aquilo não é um campo de batalha. É só um campo de futebol. Quem manda ali é a emoção, o talento e o eterno brincar de meninos.
Esta crônica foi originalmente publicada, em maio de 2010, no Estado de Minas
Fernando,
você tá tão certo, é tudo tão óbvio, como é que tem gente que não vê?
Abraço
Vivina.