A candidata Dilma Roussef disse na entrevista que deu ao Jornal Nacional, na TV Globo, que o PT, quando chegou ao governo, em 2002, teve que enfrentar uma inflação incontrolável.
A candidata não estava apenas dando curso a uma informação falsa. Ela estava mexendo com o cérebro político do eleitor, e inserindo nele um dado que, embora seja facilmente verificável e contestável, pode se instalar no inconsciente do eleitor e produzir efeitos emocionais difíceis de ser eliminados num debate racional.
A supremacia da emoção sobre a razão é a principal conclusão do livro O Cérebro Político, de Drew Westen (editora Unianchieta, 389 páginas), que por ironia é apresentado pelo senador Aloizio Mercadante e prefaciado pelo deputado federal José Eduardo Cardozo, ambos do PT.
O autor é um psicólogo clínico e professor de psicologia e psiquiatria da Emory University, e o livro é baseado em experiências neurológicas feitas por ressonância magnética em voluntários, simpatizantes ou militantes dos partidos Democrata e Republicano, cujos circuitos neurais foram submetidos a cargas diversas de informação política, em circunstâncias diversas, durante a campanha eleitoral de 2004. Drew trabalhou também como conselheiro de estratégia em várias campanhas do Partido Democrata.
O livro, de leitura fascinante, demonstra, com toda clareza e de maneira indiscutível e muito bem documentada, que “o cérebro político é um cérebro emocional. Não é uma máquina de calcular desapaixonada, que pesquisa fatos corretos, números e políticas objetivamente a fim de tomar uma decisão sensata”. E isso não acontece apenas com o eleitor médio, razoavelmente desinformado, mas também com pessoas intelectualmente mais sofisticadas, mais esclarecidas, e muito conscientes das diferenças de princípios, valores e estratégias que caracterizam os partidos.
O estudo mostrou também que o simpatizante partidário mais engajado tende a trabalhar a informação que lhe é desfavorável de forma a transformá-la e usá-la como se fosse um dado positivo, ou pelo menos de forma a torná-la neutra ou inofensiva. “Quando confrontada com uma informação política potencialmente perturbadora, uma rede de neurônios torna-se ativa, produzindo sofrimento.Se este sofrimento é consciente, inconsciente, ou uma combinação dos dois, não sabemos. O cérebro registra o conflito entre os dados e o desejo, e começa a buscar formas de evitar a emoção desagradável. Sabemos que o cérebro obtém grande sucesso nesse esforço, visto que a maioria dos eleitores convictos de um dos dois partidos negou ter percebido qualquer conflito entre palavras e ações de seus candidatos”. Por isso, o cérebro dos eleitores engajados tende a absorver e diluir declarações comprovadamente falsas de seus candidatos sem nenhum conflito.
O livro lista dezenas de exemplos concretos de fatos ocorridos em campanhas eleitorais norte-americanas e conclui, com declarado engajamento, que o Partido Democrata perdeu algumas eleições que pareciam ganhas por ter preferido, em muitos episódios, impor o seu intelectualismo racional aos argumentos de campanha, menosprezando o fator emocional. Nos exemplos citados pelo autor, a emoção, que segundo ele o Partido Republicano costuma manejar melhor, sempre se impôs à razão.
Se há eleitores previamente decididos, emocionalmente, a se deixar convencer que a inflação foi debelada no governo Lula, a verdade factual desaparecerá nos seus circuitos neurais e o que é falso se tornará verdadeiro.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat