Debbie

Quando veio a notícia de que Debbie Reynolds tinha sido levada para um hospital, por volta das 7 da noite aqui, a única coisa que me ocorreu foi a expressão “puta que pariu”.

Aí Mary chegou, depois de uma semana em  Belo Horizonte para o Natal com a família, e foi uma delícia o reencontro, como sempre é, e tal e coisa, e depois do jantar vimos um belo filme. Quando o filme acabou, entrei no IMDb para ler um pouco sobre ele – e aí vi a notícia da morte de Debbie Reynolds.

Morte é a coisa mais comum da vida. Morte é inexorável, está na conta, desde sempre. A partir do momento em que você nasce, você está se aproximando da morte. A passagem de cada dia leva você para mais perto dela.

A gente sabe disso.

Mas tanta morte assim, a granel, no atacado – cacete, ninguém está preparado para isso.

E, meu Deus do céu e também da terra, mãe morrer dois dias depois da filha – que coisa doida.

Minha filha e eu temos experiência recente no absurdo que é o de filha que morre antes da mãe. O de filhas que morrem antes da mãe.

A ordem natural das coisas seria Debbie ir primeiro. Estava com 84, tinha tido uma longa, profícua existência.

A ordem natural às vezes é desordenada – minha filha, Mary e eu bem sabemos –, e então Carrie Fischer, 60 anos apenas, foi antes.

O coração da mãe não aguentou. Aguentou por apenas dois dias.

***

Sempre tive imensa simpatia por Carrie Fischer, e não só por causa da Princesa Leia, mas pelo papel dela em When Harry Met Sally… e, especialmente, por Lembranças de Hollywood/Postcards from the Edge, belo filme baseado no primeiro livro de memórias dela.

Debbie Reynolds é, entre tantas outras coisas, o sinônimo do melhor musical de todos os tempos, Cantando na Chuva.

Mas, ao saber da notícia da morte dela, me ocorreu que não tem sentido algum escrever um texto sobre Debbie Reynolds, a atriz. Duzentos, trezentos, mil neguinhos fizeram isso nas últimas horas para publicar nos jornais da quinta-feira.

Me ocorreu que, diante da morte de Debbie Reynolds, eu, que paguei as contas a vida inteira por saber usar as palavras, não tenho palavra alguma para dizer. Que a única maneira de meu site registrar a morte dessa atriz maravilhosa é publicar fotos dela com a filha.

A filha que ela amava tanto que não conseguia ficar distante por mais de dois dias.

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29/12/2016

O IMDb traz uma extensa galeria de fotos de Debbie Reynolds. Vale a pena ver.

3 Comentários para “Debbie”

  1. Um texto sensível, longe do lugar-comum, que se materializou em bela e delicada homenagem a ambas atrizes.
    Parabéns!

  2. E dizem que coração quebrado é força de expressão! É nada. Perder um filho deve ser a dor mais cruel do mundo, não há mesmo palavras para descrever essa dor! O coração de Debbie quebrou. Foi isso.

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