A pergunta é feita por uma das duas personagens interpretadas por Julie Christie, a musa, a deusa, ao protagonista da história, o bombeiro-queimador de livros feito por Oskar Werner, em seu segundo filme sob a batuta de François Truffaut, apenas quatro anos após Jules et Jim. Continue lendo ““Do you ever read the books you burn?””
Começa sem mim
Nenhuma janela é indiscreta. Há janelas em todos os filmes de Hitchcock, mas foi na janela das traseiras que ele filmou a sua melhor obra. A janela das traseiras dá para as traseiras do mundo e é pelas traseiras que o mundo se deixa filmar. Continue lendo “Começa sem mim”
Ninguém é obrigado a gostar de um filme
Ninguém é obrigado a gostar de um filme. Por melhor, mais badalado, mais endeusado que ele seja.
Isso deveria ser um artigo na Declaração Internacional dos Direitos do Homem. Continue lendo “Ninguém é obrigado a gostar de um filme”
O fim do mundo
O fim do mundo, sim. O começo do mundo, o big bang ou outra hipótese mais mítica, pouco me interessam. Mesmo a ideia de um paraíso cheio de maçãs, uma nudez sem história nem pecado, e uma serpente a insinuar-se em conversas melosas, não me farão levantar o rabo da cadeira. Continue lendo “O fim do mundo”
O pesadelo de um anjo azul
Judeu de Berlim, a Alemanha era a sua pátria. O teatro, com Max Rheinhardt, e depois os estúdios de cinema da UFA, eram a sua casa. Kurt Gerron, na Guerra e nas Artes, mereceu medalhas. Continue lendo “O pesadelo de um anjo azul”
Desafio imigrante em filme: “A Fronteira”
It’s coming soon to a theater near you.
And if I can convince you like I have been convinced, it’s a movie we all need to see to better understand our surroundings. I can hardly wait. Continue lendo “Desafio imigrante em filme: “A Fronteira””
O chimpanzé da minha rua
Estive na mansão de Hugh Heffner. Em Beverly Hills, colinas e floresta à volta, tocava-se jazz, playmates vestidinhas, sauna escavada na rocha, um jardim zoológico de araras, mirrados macacos, coelhos e suponho que coelhinhas, uns despardalados pink flamingos. Continue lendo “O chimpanzé da minha rua”
Dá-lhe beijos um cão
Dá-lhe beijos um cão e só a esse cão Boudu dá beijos. Como Édipo ou Hamlet, Boudu devia ser já um arquétipo estudado nas escolas. Isto supondo que, continuando a haver escolas, nelas se estude ainda Antígona, as terríveis Erínias, o velho bode dionisíaco. Continue lendo “Dá-lhe beijos um cão”
O mais sonâmbulo dos filmes
Um dia, por falta de comparência do mundo tal como o conhecia, vi, como na estreia de um filme, reinaugurar-se a vida. Continue lendo “O mais sonâmbulo dos filmes”
Quando um homem ama uma mulher
“Tu ama-la?” Vão no carro, Butch ao volante, Buzz enfiado no fato de Casper, o fantasminha feliz. Butch ainda tenta uma digressão distractiva: “Quem?” Mas a curiosidade de Buzz é obstinada e infantil: “A senhora que nos cozinhou os hamburgers…” E como é que se explica a uma criança quando é que um homem ama uma mulher. Continue lendo “Quando um homem ama uma mulher”
Nosso Senhor de Hollywood
Gostos discutem-se. Mesmo que, por serem gostos, quase nunca e quase nada valha a pena discuti-los. Pode ganhar-se um debate, mas nunca se ganha a pessoa com quem se debateu. Continue lendo “Nosso Senhor de Hollywood”
A boca viva e carnuda de Binoche
Há filmes que ainda não existem, mas que se está mesmo a ver que serão filmes um dia. Mais tarde do que cedo, receio. Antecipo um. Continue lendo “A boca viva e carnuda de Binoche”
O chinês solitário
Donde saiu o chinês? Filas deles balançam carris e constroem as grandes linhas férreas que hão-de ligar Leste e Oeste. O chinês é uma multidão no cinema americano, longa fila apeada que antecede o primeiro comboio. Continue lendo “O chinês solitário”
E um dia comem-nos
Era em Luanda e tinham nos olhos um aborrecimento escandinavo. No meu Liceu, que agora se chama Mutu Ya Kevela, havia jacarés. Nadavam num tanque fundo e tinham uns bons metros de areia para se aquecerem ao céu aberto do pátio. Continue lendo “E um dia comem-nos”
O cinema alemão é um écrã demoníaco
Houve alguns anos eufóricos em que o cinema alemão não foi só o cinema alemão. Tal como o crash de 29 foi a mãe dos anos dourados do cinema sonoro americano, o cinema alemão nasceu dos escombros e humilhação da I Grande Guerra. Continue lendo “O cinema alemão é um écrã demoníaco”