“Do you ever read the books you burn?”

A pergunta é feita por uma das duas personagens interpretadas por Julie Christie, a musa, a deusa, ao protagonista da história, o bombeiro-queimador de livros feito por Oskar Werner, em seu segundo filme sob a batuta de François Truffaut, apenas quatro anos após Jules et Jim. Continue lendo ““Do you ever read the books you burn?””

Começa sem mim

Nenhuma janela é indis­creta. Há jane­las em todos os fil­mes de Hit­ch­cock, mas foi na janela das tra­sei­ras que ele fil­mou a sua melhor obra. A janela das tra­sei­ras dá para as tra­sei­ras do mundo e é pelas tra­sei­ras que o mundo se deixa filmar. Continue lendo “Começa sem mim”

O fim do mundo

O fim do mundo, sim. O começo do mundo, o big bang ou outra hipó­tese mais mítica, pouco me inte­res­sam. Mesmo a ideia de um paraíso cheio de maçãs, uma nudez sem his­tó­ria nem pecado, e uma ser­pente a insinuar-se em con­ver­sas melo­sas, não me farão levan­tar o rabo da cadeira. Continue lendo “O fim do mundo”

O chimpanzé da minha rua

Estive na man­são de Hugh Heff­ner. Em Beverly Hills, coli­nas e flo­resta à volta, tocava-se jazz, play­ma­tes ves­ti­di­nhas, sauna esca­vada na rocha, um jar­dim zoo­ló­gico de ara­ras, mir­ra­dos maca­cos, coe­lhos e supo­nho que coe­lhi­nhas, uns des­par­da­la­dos pink flamingos. Continue lendo “O chimpanzé da minha rua”

Dá-lhe beijos um cão

Dá-lhe bei­jos um cão e só a esse cão Boudu dá bei­jos. Como Édipo ou Ham­let, Boudu devia ser já um arqué­tipo estu­dado nas esco­las. Isto supondo que, con­ti­nu­ando a haver esco­las, nelas se estude ainda Antí­gona, as ter­rí­veis Erí­nias, o velho bode dionisíaco. Continue lendo “Dá-lhe beijos um cão”

Quando um homem ama uma mulher

Tu ama-la?” Vão no carro, Butch ao volante, Buzz enfi­ado no fato de Cas­per, o fan­tas­mi­nha feliz. Butch ainda tenta uma digres­são dis­trac­tiva: “Quem?” Mas a curi­o­si­dade de Buzz é obs­ti­nada e infan­til: “A senhora que nos cozi­nhou os ham­bur­gers…” E como é que se explica a uma cri­ança quando é que um homem ama uma mulher. Continue lendo “Quando um homem ama uma mulher”

E um dia comem-nos

Era em Luanda e tinham nos olhos um abor­re­ci­mento escan­di­navo. No meu Liceu, que agora se chama Mutu Ya Kevela, havia jaca­rés. Nada­vam num tan­que fundo e tinham uns bons metros de areia para se aque­ce­rem ao céu aberto do pátio. Continue lendo “E um dia comem-nos”

O cinema alemão é um écrã demoníaco

Houve alguns anos eufó­ri­cos em que o cinema ale­mão não foi só o cinema ale­mão. Tal como o crash de 29 foi a mãe dos anos dou­ra­dos do cinema sonoro ame­ri­cano, o cinema ale­mão nas­ceu dos escom­bros e humi­lha­ção da I Grande Guerra. Continue lendo “O cinema alemão é um écrã demoníaco”