A freira de Marlon Brando

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Mar­lon Brando amou sem­pre mais do que uma mulher ao mesmo tempo. E res­so­nava. Não sei se a irmã Raphael, linda frei­ri­nha cató­lica de um hos­pi­tal de Los Ange­les, algum dia ouviu Mar­lon Brando res­so­nar. E já estou a adiantar-me, quase a estra­gar a sur­presa aos meus paci­en­tes leitores. Continue lendo “A freira de Marlon Brando”

Morreu Lenine

zzzzmanuel1Os mor­tos estão a ver tudo. Essa ciên­cia dos mor­tos, do que eles obser­vam e gos­tam, aprende-se no cinema. Os mais cép­ti­cos deixam-se levar pelas pro­sai­cas lições da vida e não acre­di­tam em nada. Enganam-se. O morto que me con­ven­ceu foi Wil­liam Hol­den. Está morto e flu­tua na pis­cina de Sun­set Bou­le­vard. Continue lendo “Morreu Lenine”

O sono de Manoel

Esta cró­nica, que o Expresso publi­cou no dia seguinte à morte de Manoel de Oli­veira, foi escrita duas sema­nas antes, jul­gando eu que o Manoel a ia tal­vez ler. Foi uma cró­nica escrita para come­mo­rar a ale­gria de vida do mais velho cine­asta do mundo, uma cró­nica con­ven­cida e ren­dida à imor­ta­li­dade física de Oli­veira.
Estra­nha iro­nia, que o que se que­ria reen­con­tro possa ser lido como despedida.
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Playboy

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O mau fei­tio nas­ceu com ele, mas Fran­cis Cop­pola emprestou-lhe as cores da lenda. Falo de James Caan, que foi, no The God­father, o filho pri­mo­gé­nito de Don Cor­le­one, her­deiro de um impé­rio em que o crime e o amor à famí­lia se bei­jam na boca. Continue lendo “Playboy”

A Dama de Xangai

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Honesto à sua maneira, bruto como as casas, Harry Cohn era o boss da Colum­bia, o estú­dio de Rita Hayworth. A falsa ruiva era a sua pérola. Tinha aquela cabeça rubra toda em fogo, um corpo de fazer Nosso Senhor sair da cruz, e uma forma de dan­çar que fazia de qual­quer homem um Herodes. Continue lendo “A Dama de Xangai”

O guia de filmes mais vendido do mundo acabou

Pode-se até não gostar dele, mas o guia de filmes de Leonard Maltin é uma instituição – e uma instituição importante, venerável, respeitável. Não só é o guia de filmes mais vendido do mundo, como é, certamente, o mais longevo, o que teve maior número de atualizações. Continue lendo “O guia de filmes mais vendido do mundo acabou”

O banho nem sempre é uma limpeza

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O assas­sí­nio no banho é uma inven­ção de Hit­ch­cock. No século XVIII, o pin­tor David imor­ta­li­zara o revo­lu­ci­o­ná­rio Marat, mostrando-o a san­grar na banheira onde sos­se­gava a comi­chão de um eczema contra-revolucionário. Marat está no banho, bem morto e esfa­que­ado.

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Uma cadeira no meio das pernas

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Claro que a car­reira de Mar­lene Die­trich tinha per­nas para andar. Foi com uma cadeira no meio des­sas per­nas que Josef von Stern­berg lhe cons­truiu a ima­gem. Quem viu, dizia: “Ah, aque­las per­nas.” Eram sus­pi­ros de 1930. Começava-se a sus­pi­rar na Ale­ma­nha e con­ti­nu­ava a suspirar-se pelos Esta­dos Uni­dos da Amé­rica dentro. Continue lendo “Uma cadeira no meio das pernas”

Godard na “Casa dos Segredos”

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Quando se virou a página, virou-se a página.” É o que sai da boca de Godard. Mas o bri­lho triste dos olhos que Anna Karina fixa na boca dele desmentem-no. Estão, lado a lado, num pla­teau de tele­vi­são. Vinte anos depois de se terem divor­ci­ado. Vinte anos sem se terem vol­tado a ver. Continue lendo “Godard na “Casa dos Segredos””

O Cristo redentor de Pasolini

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Era eu. Numa mão um livro, na outra uma metra­lha­dora Vig­ne­ron. O livro era pequeno e ver­me­lho. Boa para a guer­ri­lha urbana, a metra­lha­dora fora recu­pe­rada à FNLA, diziam-me os cama­ra­das. Nunca a dis­pa­rei, se me des­cul­pam come­çar a cró­nica com um anticlímax. Continue lendo “O Cristo redentor de Pasolini”