Marlon Brando amou sempre mais do que uma mulher ao mesmo tempo. E ressonava. Não sei se a irmã Raphael, linda freirinha católica de um hospital de Los Angeles, algum dia ouviu Marlon Brando ressonar. E já estou a adiantar-me, quase a estragar a surpresa aos meus pacientes leitores. Continue lendo “A freira de Marlon Brando”
Morreu Lenine
Os mortos estão a ver tudo. Essa ciência dos mortos, do que eles observam e gostam, aprende-se no cinema. Os mais cépticos deixam-se levar pelas prosaicas lições da vida e não acreditam em nada. Enganam-se. O morto que me convenceu foi William Holden. Está morto e flutua na piscina de Sunset Boulevard. Continue lendo “Morreu Lenine”
O sono de Manoel
Esta crónica, que o Expresso publicou no dia seguinte à morte de Manoel de Oliveira, foi escrita duas semanas antes, julgando eu que o Manoel a ia talvez ler. Foi uma crónica escrita para comemorar a alegria de vida do mais velho cineasta do mundo, uma crónica convencida e rendida à imortalidade física de Oliveira.
Estranha ironia, que o que se queria reencontro possa ser lido como despedida. Continue lendo “O sono de Manoel”
A mulher autónoma
Éramos só homens, centenas, e apareceu a mulher autónoma, senhora de si. Descobri a mulher autónoma, a que decide sobre a sua vida e sobre a sua solidão, aos 16 anos. Continue lendo “A mulher autónoma”
Não há beijos no rabo em Michelet
Não foi por ter ido a Copenhaga de propósito escolhê-lo, mas o mais bizarro “melhor filme” que já vi foi Heksen, um filme mudo dinamarquês, realizado pelo sueco Benjamin Christensen. Continue lendo “Não há beijos no rabo em Michelet”
Playboy
O mau feitio nasceu com ele, mas Francis Coppola emprestou-lhe as cores da lenda. Falo de James Caan, que foi, no The Godfather, o filho primogénito de Don Corleone, herdeiro de um império em que o crime e o amor à família se beijam na boca. Continue lendo “Playboy”
O homem de Marilyn
Na altura, roubava-se. Johnny Hyde roubou Marilyn Monroe a outro agente que nem desatava nem saía de cima. Continue lendo “O homem de Marilyn”
Minto com os dentes todos
Por um bom sorriso, minto com todos os dentes que tenho na boca. Não sou só eu: a esquerda derrete-se por um pensamento mágico, a direita para se exaltar precisa de uma orgulhosa e solitária epopeia. E eu preciso de Garson Kanin. Continue lendo “Minto com os dentes todos”
A Dama de Xangai
Honesto à sua maneira, bruto como as casas, Harry Cohn era o boss da Columbia, o estúdio de Rita Hayworth. A falsa ruiva era a sua pérola. Tinha aquela cabeça rubra toda em fogo, um corpo de fazer Nosso Senhor sair da cruz, e uma forma de dançar que fazia de qualquer homem um Herodes. Continue lendo “A Dama de Xangai”
Nunca houve portugueses carecas
Não gosto de tipos que se levam muito a sério, tipos de ar compungido a quem, certamente, mas também não quero ir ver, não cabe um feijão no apertado lugar onde o sol não brilha. Continue lendo “Nunca houve portugueses carecas”
O guia de filmes mais vendido do mundo acabou
Pode-se até não gostar dele, mas o guia de filmes de Leonard Maltin é uma instituição – e uma instituição importante, venerável, respeitável. Não só é o guia de filmes mais vendido do mundo, como é, certamente, o mais longevo, o que teve maior número de atualizações. Continue lendo “O guia de filmes mais vendido do mundo acabou”
O banho nem sempre é uma limpeza
O assassínio no banho é uma invenção de Hitchcock. No século XVIII, o pintor David imortalizara o revolucionário Marat, mostrando-o a sangrar na banheira onde sossegava a comichão de um eczema contra-revolucionário. Marat está no banho, bem morto e esfaqueado.
Uma cadeira no meio das pernas
Claro que a carreira de Marlene Dietrich tinha pernas para andar. Foi com uma cadeira no meio dessas pernas que Josef von Sternberg lhe construiu a imagem. Quem viu, dizia: “Ah, aquelas pernas.” Eram suspiros de 1930. Começava-se a suspirar na Alemanha e continuava a suspirar-se pelos Estados Unidos da América dentro. Continue lendo “Uma cadeira no meio das pernas”
Godard na “Casa dos Segredos”
“Quando se virou a página, virou-se a página.” É o que sai da boca de Godard. Mas o brilho triste dos olhos que Anna Karina fixa na boca dele desmentem-no. Estão, lado a lado, num plateau de televisão. Vinte anos depois de se terem divorciado. Vinte anos sem se terem voltado a ver. Continue lendo “Godard na “Casa dos Segredos””
O Cristo redentor de Pasolini
Era eu. Numa mão um livro, na outra uma metralhadora Vigneron. O livro era pequeno e vermelho. Boa para a guerrilha urbana, a metralhadora fora recuperada à FNLA, diziam-me os camaradas. Nunca a disparei, se me desculpam começar a crónica com um anticlímax. Continue lendo “O Cristo redentor de Pasolini”












