As urnas chilenas expressaram, na eleição deste domingo, o clima de ressaca política e institucional decorrente do estallido social de 2019 — a onda de protestos massivos que sacudiu o país, abalou o sistema político e inaugurou um período de volatilidade. Se em 2021 essa energia levou à eleição de Gabriel Boric, um jovem proveniente dos movimentos estudantis, agora produziu um segundo turno no qual o ultradireitista José Antonio Kast aparece como franco favorito. A soma dos votos da direita e centro-direita supera 70% dos votos válidos. Entender virada tão profunda exige considerar o efeito duradouro daquela explosão social. Continue lendo “As urnas chilenas e a longa ressaca do estallido social”
Pode não ser a Segurança
Segurança Pública dominará o debate e será decisiva nas eleições do ano que vem. Ou não. Pelo menos é o que indica a série histórica de pesquisas sobre as maiores preocupações dos brasileiros. Na última década, o primeiro lugar no ranking das aflições nacionais passou por corrupção, saúde, economia (inflação) e segurança, registrada em 2014 e novamente agora. Nada que não mude de uma hora para outra em um país com tantos males, no qual nenhuma das angústias populares foi solucionada. Continue lendo “Pode não ser a Segurança”
Barriga Verde!
Depois de Jair Renan ter se tornado um barriga verde só pra conseguir o cargo de vereador pela cidade de Balneário Camboriú, seu irmão Carlos Bolsonaro também passou a declarar todo o seu amor pelo Estado de Santa Catarina.
Fuzis
Ora vejam! Muitos fuzis do Comando Vermelho apreendidos na última chacina — ao todo foram quase cem — não vieram de contrabando nas fronteiras, portos e aeroportos. Não vieram do exterior. Caíram do céu? Vieram de onde, homessa? Continue lendo “Fuzis”
Trump e Xi Jinping: a trégua alivia, mas não encerra a tensão
Nas últimas semanas, o ambiente mundial estava turvo, com impacto negativo nas principais bolsas do planeta. O perigo de uma recessão global tornava-se mais visível diante da crise dos chips, que ameaçava afetar toda a cadeia produtiva do setor automobilístico em razão do bloqueio das exportações chinesas. O cenário se desanuviou graças ao encontro entre Donald Trump e Xi Jinping, realizado na Coreia do Sul. Continue lendo “Trump e Xi Jinping: a trégua alivia, mas não encerra a tensão”
Ah, aquela estimada bolsa…
Não sei por que cargas d’água (expressão da época do bonde puxado a burro) fui envolvido por insidiosa trama familiar. Mirava um acessório de uso profissional que me era caro. A peça, é verdade, tinha um tempinho de uso, hã… duas décadas. Tratava-se de uma bolsa de lona verde, com duas divisões, e, costurados fora, dois bolsos. Como as que se vendiam em lojas de artigos para pesca e caça, quando esta não era proibida. Continue lendo “Ah, aquela estimada bolsa…”
O legado invisível da COP30
A coleta de esgoto só deve chegar (se chegar) em abril de 2026, mas a água limpa na torneira já é motivo de festa para os quase 7 mil moradores pobres da centenária Vila da Barca. Isso depois de muita luta da maior comunidade de palafitas da América do Sul, inicialmente excluída das obras de infraestrutura da COP30 em Belém. A capital paraense é a quinta pior cidade do país em saneamento básico de acordo com o ranking do Instituto Trata Brasil – serviço transferido para a iniciativa privada. Continue lendo “O legado invisível da COP30”
Maria Bonomi, a arte de resistir
Há artistas que nos comovem pela beleza do que fazem; outros, pela coerência com que vivem. Maria Bonomi reúne as duas dimensões. Sua retrospectiva A arte de amar, a arte de resistir, em cartaz no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, é mais do que uma celebração de seus 80 anos de trajetória artística — é um manifesto sobre a força transformadora da arte e sobre a dignidade de quem nunca se afastou das grandes causas humanas. Continue lendo “Maria Bonomi, a arte de resistir”
Entre a “mexicanização” e a “bukelização” do Brasil
A ação no Complexo da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortes, revelou o ponto a que o Brasil chegou em sua crise de segurança pública. A operação foi aprovada pela maioria da população — especialmente os que vivem em áreas nas quais o crime organizado explora as pessoas, viola direitos humanos e instala sua ditadura por meio da violência. Vinte e oito milhões de brasileiros — 19% da população — vivem nesta situação, à margem do Estado Democrático de Direito. Continue lendo “Entre a “mexicanização” e a “bukelização” do Brasil”
Facções eleitorais
Quase todo brasileiro é técnico de futebol. Há outras expertises nacionais. Somos curandeiros de plantão, com dicas medicinais infalíveis, experts em moralismos baratos, imbatíveis nos pitacos para levar vantagem em tudo. Desde a terça-feira passada, nos tornamos peritos em segurança pública, detentores de respostas precisas para salvar os milhões de cidadãos reféns de facções e milícias. Tudo a revelar que ninguém sabe, de fato, o que fazer para enfrentar o crime cada vez mais organizado. Continue lendo “Facções eleitorais”
Guerra
A direita brasileira estava moribunda depois da aproximação entre Lula e Trump, quando de repente um governador obscuro de um Estado decadente descobre que a melhor maneira de ressuscitar a moribunda era fazer uma matança. Continue lendo “Guerra”
Lula aposta no “nós contra eles”
Lula prepara a reeleição com uma roupagem completamente diferente da usada há quatro anos quando adotou o discurso da Frente Ampla. O discurso da moderação e da defesa da democracia foi sua peça de resistência. Graças a ele, Lula se elegeu presidente com uma diferença estreitíssima de votos. O fiel da balança foram os votos do eleitorado de centro, refratário ao radicalismo de Bolsonaro. Continue lendo “Lula aposta no “nós contra eles””
No Ringue
Despeito é uma palavra rica de significados na língua portuguesa. Tem sinônimos para todos os gostos. Desgosto, ressentimento, desfeita, mágoa, desconsideração, humilhação, depauperação, descompensação, decepção e por aí vai. Continue lendo “No Ringue”
Um tripé diabólico
Em raro mea culpa por um erro cometido, o presidente Lula acertou ao corrigir a absurda fala de que “traficantes são vítimas de usuários”, dita durante entrevista em Jacarta. O que ele pretendia era expor uma obviedade: não há traficante sem consumidor. O resto é buchicho de rede social. Com menor repercussão, a derrapada de admitir sem meias palavras que governa só pensando em se reeleger foi mais séria – e sem qualquer retificação -, contribuindo para a normalização do déficit moral que o país vivencia há tempos. Continue lendo “Um tripé diabólico”
Estrelas
A maioria sem ética do Conselho de Ética da Câmara Federal não achou nada demais um dos seus abandonar a cadeira de deputado federal e instalar-se nos Estados Unidos, para de lá mandar petardos contra a economia brasileira e sanções contra desafetos —, inclusive cassação de vistos para a Disney. Continue lendo “Estrelas”



