“Tenho 70 anos de idade, energia de 30 e tesão de 20”. Fora a mentirinha – Lula tem 78 anos -, o arroubo viril (e juvenil) do presidente durante evento na Grande São Paulo, na sexta-feira, expõe o medo do efeito Biden, pressionado a desistir da disputa à reeleição depois de seus apagões no debate contra Donald Trump. Lula faz 79 anos em outubro. Completará 81, mesma idade de Biden, dois dias após o segundo turno de 2026. E, desde já, para regozijo dos bolsonaristas, mordeu a isca do “velho demais” para o cargo. Continue lendo “Lula, o viril”
Sandías e cojones
“En Bolivia las melancias tienen cojones…”, escreveu o deputado bolsonarista Ricardo Salles (PL-SP) em apoio aos militares bolivianos durante a fracassada intentona contra o governo de Luís Arce, na última quarta-feira. A reação de repúdio nas redes sociais foi imediata, acrescida por um abaixo-assinado #ForaSalles, uma representação do PSOL contra o parlamentar na Procuradoria-Geral da República e na Comissão de Ética da Câmara. Mesmo tomada pela indignação, torço para que nada disso vingue. Afinal, ele tem, como qualquer um de nós, o direito assegurado à opinião. Mas com o dito, o ex-ministro renovou seu já conhecido escárnio à democracia. Continue lendo “Sandías e cojones”
O Congresso não é a cara do povo
O projeto de lei que classifica o aborto como homicídio – até nos casos de crianças estupradas – teve múltiplas serventias. Mexeu com os brios de uma sociedade que parecia apática, determinou o recuo de forças retrógradas e pôs freios no todo poderoso presidente da Câmara Arthur Lira. Mais: derrubou de vez a falácia de que o Congresso é a cara do povo. Não é. Continue lendo “O Congresso não é a cara do povo”
Lula, o mito
As derrotas acachapantes de Lula no Congresso Nacional na última terça-feira têm sido atribuídas a falhas dos articuladores do governo, sejam eles ministros ou líderes formais na Câmara e no Senado. A justificativa simplista isenta o presidente, que vem tropeçando feio no fazer política, arte na qual é tido como craque – talvez apenas um mito ancorado na verve que tinha para encantar as massas. Neste terceiro mandato, ele assegurou reiteradas vezes que entraria em campo. E nada. Confirma assim o histórico de que sua interlocução política sempre se deu por terceiros. Mais: se colhe acerto, ele se adorna com os louros. Quando não, outros pagam a conta. Continue lendo “Lula, o mito”
Desculpe, a corrupção venceu
Se a história é construída por vencedores (frase atribuída a George Orwell) e, portanto, pode ter nova leitura com o passar do tempo, a velocidade pela qual derrotados querem fazer triunfar suas narrativas, não raro a contragosto dos fatos, é perigosa. Por vezes, a tentativa de revirar a história ao avesso é tão agressiva que colide com a defesa do próprio protagonista. É o típico caso da Odebrecht, hoje Novonor. Continue lendo “Desculpe, a corrupção venceu”
Bolsonaristas em fuga
Dez bolsonaristas já condenados ou investigados pela participação nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 fugiram do país depois de romperem o lacre de suas tornozeleiras eletrônicas. Dos 116 sentenciados até agora pelo STF por ataques à democracia, pelo menos 45 estão foragidos. Ao que tudo indica, por corpo mole e conivência dos responsáveis pela execução penal. Continue lendo “Bolsonaristas em fuga”
Por mais política e menos birra
A sessão do Congresso Nacional da quinta-feira, dia 9, poderia ser considerada histórica. Não pelo conteúdo das matérias votadas, parte delas para lá de polêmicas, como a indecente retomada das emendas para deputados e senadores. Mas por se fazer política, algo cada vez mais raro entre divergentes mesmo nos ambientes onde a prática deveria ser obrigatória. Continue lendo “Por mais política e menos birra”
Água fria na venda da Sabesp
A autorização da Câmara Municipal para que os serviços de água e esgoto da cidade de São Paulo possam ser operados pela iniciativa privada está longe de fechar a polêmica sobre a venda da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), tão desejada pelo governador Tarcísio de Freitas e, por óbvio, rechaçada pela esquerda. Embora cada lado tenha o legítimo direito de defender suas crenças, ambos insistem em manter o debate na rasura de um pires, sem ir a fundo na conveniência ou não de privatizar a empresa. Continue lendo “Água fria na venda da Sabesp”
Chuchu no cardápio
Improvável candidato a vice do presidente Lula, a quem já chamou de ladrão em disputas eleitorais passadas, Geraldo Alckmin conquistou o petista. E agora passou a ser visto como trunfo para desembaraçar os nós na atrapalhada relação do governo com o Congresso, o que pode estar por trás do pito que o ex-tucano tomou de Lula ao pedir que seu vice e ministro de Desenvolvimento da Indústria, Comércio e Serviços seja “mais ágil” na lida com parlamentares. Continue lendo “Chuchu no cardápio”
Um Estado disfuncional
Embates entre Executivo versus Legislativo versus Judiciário e vice-versa não são incomuns nas democracias. Fora a Justiça, que deveria se manter longe dos holofotes e só se manifestar nos autos, as discordâncias entre Parlamento e governo são bem-vindas e, em tese, até indispensáveis para aprimorar as políticas públicas. Em tese. Por aqui, o bem público passa longe de quem deveria zelar por ele, com disparatadas medições de forças e poder, malcriações e muita falta de juízo. Continue lendo “Um Estado disfuncional”
Lula acerta no veto
Um dos mais acertados vetos do presidente Lula – o que restabelece a saída temporária de presos do semiaberto – está sob a mira do Congresso Nacional, que se articula para derrubá-lo. Aprovada em 20 de março, a lei proibindo a chamada “saidinha” é mais uma daquelas panaceias populistas que em vez de resolver agudizam os problemas que fingem corrigir. Prática, diga-se, recorrente no Parlamento. Continue lendo “Lula acerta no veto”
Lula governa para lulistas
Luiz Inácio Lula da Silva alcançou seu terceiro mandato em uma eleição acirrada, decidida por uma diferença de pouco mais de um ponto percentual, com apenas 2,3 milhões de vantagem em um universo de 118,5 milhões de votos válidos. O êxito não foi nem de Lula nem do PT, como o próprio presidente eleito admitiu no discurso da vitória, quando, com raríssima humildade, reconheceu o mérito do conjunto de forças que o fizeram voltar ao Planalto. Ainda que pareça óbvia, talvez esteja aqui uma das explicações para a queda de popularidade que o estaria infernizando. Continue lendo “Lula governa para lulistas”
Lula cede aos pastores
Passados os dias santos cristãos, o Congresso retoma a votação do Projeto de Emenda Constitucional, PEC 5/23, que amplia a imunidade tributária dos templos. Mesmo mais brando do que o original, o texto final exigiu recuo do governo Lula quanto à isenção fiscal das igrejas, e negociações para excluir benefícios adicionais e estabelecer um teto para a cobrança de impostos de pastores, a serem fixados por lei complementar. A matéria inclui todas as matizes religiosas e deve ser aprovada sem sustos, com apoio à direita e à esquerda, do governo e da oposição, e até de ateus. Continue lendo “Lula cede aos pastores”
A gloriosa imprensa democrática
Bolsonaro confiava no golpe
Dois dias depois de apresentar aos comandantes militares a minuta do golpe, o presidente derrotado Jair Bolsonaro rompeu o silêncio de mais de um mês. “Vamos vencer”, disse à multidão aglomerada em frente ao Palácio da Alvorada. Era 9 de dezembro de 2022. O Brasil acabava de ser eliminado da Copa do Mundo do Qatar, derrotado nos pênaltis pela Croácia, desempenho comemorado por vários “patriotas” de camisa amarela. O pronunciamento do ex, considerado dúbio à época, tinha, agora se sabe, uma ambição dupla: manter a união dos fiéis e convencer os comandantes do Exército e da Aeronáutica que haviam rejeitado a virada de mesa. Continue lendo “Bolsonaro confiava no golpe”