Frei Gilson e a esquerda

O influenciador católico Frei Gilson tornou-se um fenômeno de massas e uma pedra no sapato da esquerda. Com mais de 7 milhões de seguidores no YouTube, suas pregações conservadoras – contra o aborto, relações homoafetivas e o comunismo – atraem milhões de espectadores nas madrugadas. Como resposta, setores da esquerda o estigmatizaram como bolsonarista, reforçando uma armadilha na qual caem repetidamente: a da guerra cultural, que tem lhe custado espaço na opinião pública. Continue lendo “Frei Gilson e a esquerda”

Como explicar a guinada de Lula à esquerda?

É uma conjuntura inevitável da política: governos isolados e em queda drástica de popularidade devem rapidamente ampliar seu arco de alianças. As expectativas eram de que o presidente Lula utilizaria a reforma ministerial para fazer tal movimento, trazendo para o núcleo duro de seu governo, instalado no Palácio do Planalto, algum parlamentar dos partidos de centro. Continue lendo “Como explicar a guinada de Lula à esquerda?”

Jogar parado

A estratégia de Tarcísio de Freitas para o momento é evitar gestos que indiquem sua aquiescência com uma possível candidatura a presidente em 2026. Isso explica, em grande medida, sua declaração deste final de semana, segundo a qual permanece imutável seu plano de disputar a reeleição para governador de São Paulo e que ninguém fala por ele. Suas palavras são uma espécie de vacina para não parecer que vem incentivando a onda sobre seu nome e, assim, não pôr sob suspeita sua lealdade a Jair Bolsonaro. Trata-se de um jogo político refinado, no qual a alteração de rota para 2026 só acontecerá com o aval do ex-presidente. Continue lendo “Jogar parado”

Um governo perdido

Nenhum governo logra êxito se sua estratégia se baseia em um diagnóstico equivocado da realidade. Esse princípio, elementar da política, mais uma vez comprovou sua assertividade com a divulgação da última pesquisa Datafolha. A leitura de Lula, segundo a qual as dificuldades de seu governo decorrem de erros da comunicação, é altamente errônea para explicar a queda de 11 pontos em sua aprovação. Mais grave: essa queda se deu, principalmente, entre os eleitores mais pobres, mulheres e no Nordeste. Em seu eleitorado cativo, o tombo foi de 20 pontos. Continue lendo “Um governo perdido”

Caetano Veloso, o Brasil dos evangélicos e a necessidade de diálogo

O show de Caetano Veloso e Maria Bethânia, que correu o país ao longo do último ano e cuja turnê se encerrou neste final de semana em Salvador, teve um momento emblemático: a interpretação por Caetano de “Deus Cuida de Mim”, do pastor Kleber Lucas. A reação dividida do público, que variou entre frieza e desconforto, evidenciou o desafio que o Brasil enfrenta ao dialogar com o universo evangélico, uma força cultural, social e política que já representa cerca de um terço da população e cresce de forma avassaladora. Continue lendo “Caetano Veloso, o Brasil dos evangélicos e a necessidade de diálogo”

O Brasil em ruínas: a História sucumbe ao abandono

No Brasil, não basta o tempo corroer lentamente as estruturas físicas de construções históricas. Nosso patrimônio cultural, carregado de significados e símbolos, também sucumbe às tragédias anunciadas. O desabamento do teto da Igreja do Convento de São Francisco, em Salvador, na Bahia, se soma a uma longa lista de catástrofes nas nossas instituições culturais. Não foi apenas uma estrutura que caiu: foi mais um golpe em nossa memória coletiva, mais uma prova de como deixamos o passado se perder pela negligência.

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Trump contra o mundo

Na leitura mais otimista, as medidas protecionistas de Donald Trump tomadas contra o México, Canadá e China – responsáveis por 43% das importações americanas – criam enorme instabilidade e imprevisibilidade no comércio mundial. Na mais preocupante, colocam o mundo diante do risco iminente de uma guerra comercial global. O fato de o presidente dos Estados Unidos ter suspendido por um mês as medidas contra os dois países com os quais tem imensas fronteiras não afasta o risco da generalização do conflito comercial, com Trump indo contra tudo e contra todos.  Seu próximo alvo é a União Européia. Continue lendo “Trump contra o mundo”

Sinal vermelho para Lula

Até agora a avaliação do governo Lula expressava a divisão do país praticamente ao meio, quadro que vinha desde a eleição presidencial. Quem era eleitor de Lula avaliava positivamente o governo, aprovando seu desempenho. Quem não votou no presidente se posicionava de forma oposta, avaliando negativamente sua gestão. As oscilações, para um lado ou para o outro, aconteciam na margem de erro das pesquisas, em um quadro praticamente congelado. Continue lendo “Sinal vermelho para Lula”

O longo caminho para a democracia

Quarenta anos após, persiste uma visão preconceituosa  sobre a forma como o Brasil deixou a ditadura para trás, com a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985, recebendo 480 votos contra 180 dados a Paulo Maluf e 26 abstenções. Continue lendo “O longo caminho para a democracia”

Galípolo sob pressão

Nos últimos dois anos, o Banco Central sobre a presidência de Roberto Campos Neto esteve sob fogo cerrado de Lula. Neste apagar das luzes de 2024, o presidente voltou novamente suas baterias contra a elevação da taxa de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Continue lendo “Galípolo sob pressão”

Golpe militar ou de militares?

A prisão do general Braga Neto – o primeiro militar de patente máxima a ir para o cárcere em um regime democrático no Brasil – levanta uma questão que não é semântica: afinal, estivemos diante de uma tentativa de golpe de militares ou de um golpe militar? Continue lendo “Golpe militar ou de militares?”

Acordo Mercosul-União Européia é resposta ao protecionismo

Quando Fernando Henrique Cardoso e Jacques Chirac, então presidente da França, anunciaram no Rio de Janeiro, em 1999, o início das negociações para o acordo Mercosul-União Européia, o mundo era inteiramente diferente dos dias atuais. A globalização da economia estava em marcha ascendente, as cadeias produtivas globais estavam em formação, a China não era uma ameaça à hegemonia econômica dos Estados Unidos, não havia a possibilidade de uma nova guerra mundial e a democracia se afirmava como grande valor vitorioso ao final do século 20. A guerra fria, por sua vez, era coisa do passado. Continue lendo “Acordo Mercosul-União Européia é resposta ao protecionismo”