O silêncio seletivo de Lula

Por dois anos consecutivos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva travou uma cruzada contra o Banco Central e seu então presidente, Roberto Campos Neto. Os aumentos sucessivos da taxa Selic foram alvos de críticas contundentes por parte do chefe do Executivo, que via nas decisões do Copom um viés político, contrário aos interesses do país. Para Lula, a política monetária mantida sob Campos Neto não refletia os fundamentos da economia brasileira e estaria a serviço do governo anterior. Continue lendo “O silêncio seletivo de Lula”

Quando janeiro chegar

A base do governo esfarelou-se, virou peça de ficção. Exemplo disso foi sua humilhante derrota na Câmara dos Deputados, na noite de  segunda-feira. Sessenta por cento dos 346 votos favoráveis ao requerimento de urgência para o projeto de lei que derruba o novo decreto do IOF vieram de parlamentares da base aliada de Lula — inclusive de partidos com cargos ministeriais. Com apenas 96 votos contrários, o governo deu uma demonstração do seu real tamanho e do quanto está isolado no Parlamento. Continue lendo “Quando janeiro chegar”

A polarização cansou

Logo após a vitória britânica na Segunda Batalha de El Alamein, durante a Segunda Guerra Mundial, Winston Churchill pronunciou uma frase que entrou para a História: “Este não é o fim. Nem sequer o começo do fim. Mas é, talvez, o fim do começo.” A sentença do então primeiro-ministro inglês pode ser adaptada à interpretação dos dados da última pesquisa Quaest. O cansaço do eleitorado com Lula e Bolsonaro não significa, ainda, o fim da polarização que ditou a política brasileira nos últimos sete anos — mas marca o início de seu esgotamento político. Continue lendo “A polarização cansou”

Entre o ideal e o real

A eleição do prefeito do Recife, João Campos, de 31 anos, à presidência do Partido Socialista Brasileiro (PSB) marca um raro movimento de renovação no campo da esquerda brasileira. Filho do ex-governador Eduardo Campos e bisneto de Miguel Arraes, João representa uma geração que, apesar de enraizada em uma tradição política, demonstra sensibilidade às transformações estruturais da sociedade contemporânea. Sua ascensão simboliza, portanto, mais do que uma mudança etária: indica a possibilidade de uma virada de paradigma em uma esquerda marcada pelo envelhecimento de suas lideranças e, principalmente, idéias. Continue lendo “Entre o ideal e o real”

Lula à deriva, Haddad fragilizado

Longe estão os dias em que Fernando Haddad era o ministro mais forte do governo Lula. Desde o segundo semestre de 2024, a imagem do ministro da Fazenda sofre um processo de erosão, afetada por episódios como a crise do PIX e a “taxa das blusinhas”. Nada se compara, contudo, à barbeiragem do aumento do IOF, na qual o ministro teve de recuar, ainda que parcialmente, diante da forte reação dos agentes econômicos. De quebra, Haddad forneceu munição para seus inimigos internos, que jogam sobre seus ombros a responsabilidade pelos altos índices de desaprovação do governo. Continue lendo “Lula à deriva, Haddad fragilizado”

A urgência de reafirmar princípios

Enquanto o Congresso Nacional legisla em causa própria, se apropriando de parte do Orçamento, o Supremo Tribunal Federal multiplica decisões monocráticas e contraditórias sobre temas de alta complexidade e o Executivo se atrapalha por não ter um projeto de nação, o país vive uma estranha normalização do improviso. E, muito mais grave, da erosão institucional. Não se trata apenas de disputas políticas quotidianas: é o tecido dos princípios republicanos que se desgasta silenciosamente, ameaça que deveria preocupar muito além das paixões do momento. Continue lendo “A urgência de reafirmar princípios”

O pacto da hipocrisia: crise de governabilidade à vista

Em 2025, o governo Lula conta, formalmente, com uma coalizão ampla: 16 partidos e cerca de 300 deputados federais. No papel, uma base robusta. Na prática, um castelo de areia. A sequência de derrotas no Congresso — ao menos oito no último mês — expôs o esgarçamento dessa aliança. Em vários casos, a infidelidade partiu justamente de partidos que ocupam ministérios. Continue lendo “O pacto da hipocrisia: crise de governabilidade à vista”

A centro-direita se reposiciona

A iniciativa mais significativa até agora para romper com a polarização entre bolsonaristas e petistas – que marcou as duas últimas eleições presidenciais – partiu do campo da centro-direita. Trata-se da criação da Federação União Progressista, que reúne uma expressiva base política: 109 deputados, 14 senadores, 1.330 prefeitos e seis governadores. Esse novo arranjo altera a correlação de forças no cenário nacional e já projeta sua atuação com foco em 2026, quando Jair Bolsonaro estará fora da corrida presidencial. Continue lendo “A centro-direita se reposiciona”

Lupi já era

Quanto mais chegam à luz do dia dados sobre o escândalo dos descontos não autorizados por aposentados do INSS, mais se complica a situação do ministro da Previdência, Carlos Lupi. E quanto mais abre a boca para justificar sua incompetência e omissão, mais se torna evidente que já passou da hora de Lula demiti-lo. Se não o fez até agora foi por injunção política, por temer a chantagem do PDT de sair da base do governo caso sua principal liderança deixe de ser ministro. Continue lendo “Lupi já era”

O Rio de Janeiro continua lendo

No último dia 23 de abril, o Rio de Janeiro foi oficialmente nomeado Capital Mundial do Livro pela Unesco, tornando-se a primeira cidade de língua portuguesa a receber essa distinção.  A cerimônia de abertura, realizada no Teatro Carlos Gomes, contou com a presença de autoridades, representantes da Unesco e figuras proeminentes da cultura brasileira, como os escritores Ruy Castro e Conceição Evaristo. Continue lendo “O Rio de Janeiro continua lendo”

O fim melancólico do PSDB

O PSDB vive a sina de Policarpo Quaresma, personagem de Lima Barreto: caminha para um triste fim. Partido que por seis disputas presidenciais foi um dos polos da política nacional, hoje é apenas uma sombra do que foi nos tempos em que, no governo, modernizou o Estado, avançou na área social, promoveu reformas estruturantes e estabilizou a economia com o Plano Real.  Agora, precisa de uma fusão – possivelmente com o Podemos – para cumprir a cláusula de barreira na eleição de 2026.  Só assim para continuar existindo no Parlamento. Continue lendo “O fim melancólico do PSDB”

Trumpismo, a negação do reaganismo

Em 6 de agosto de 1983, o então presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, fez um pronunciamento radiofônico à nação sobre comércio internacional que permanece atual e revelador. Suas palavras servem como um alerta sobre os riscos do protecionismo comercial que voltou à cena com força sob a liderança de Donald Trump, cuja agenda tarifária ameaça desestabilizar a economia global e corroer a hegemonia americana. Continue lendo “Trumpismo, a negação do reaganismo”

Anistia não é a agenda do país

Grandes jornadas, como a luta pela anistia nos tempos da ditadura militar, as Diretas Já, o “Fora Collor” e o impeachment de Dilma Roussef, se afirmaram porque, além de encher as ruas, conquistaram os corações e mentes dos brasileiros. Em outras palavras, galvanizaram a opinião pública e se tornaram uma causa nacional como parte importante de sua agenda política. Esses requisitos não estão presentes na atual campanha pela anistia aos presos por participar da intentona bolsonarista do 8 de janeiro de 2023 e que resultou numa chocante depredação do patrimônio público. Continue lendo “Anistia não é a agenda do país”

As Arcadas e o dever de preservar o pluralismo

A Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, com sua história bicentenária, sempre se apresentou como bastião da liberdade, espaço do pensamento crítico e da convivência entre diferentes ideias. Foi ali que se redigiram cartas em defesa do Estado Democrático de Direito e ecoaram vozes contra o arbítrio em diferentes momentos da vida nacional. As Arcadas, como são conhecidas, cultivaram ao longo do tempo uma reputação de pluralismo e civilidade intelectual. Continue lendo “As Arcadas e o dever de preservar o pluralismo”

O impasse provocado por Bolsonaro

A direita pode se dividir em diversas candidaturas na próxima disputa presidencial. Não que lhe falte alguém com potencial de aglutinar o seu campo e de dialogar com o eleitorado do centro. Todas as análises convergem para o nome  de Tarcísio de Freitas como o único com esse poder de aglutinação e de ampliação. Essa possibilidade esbarra na obstinação  de Jair Bolsonaro de repetir a estratégia de Lula de 2018, mantendo sua candidatura até a undécima hora, quando o Tribunal Superior Eleitoral negar o seu registro. Continue lendo “O impasse provocado por Bolsonaro”