Lula deveria refletir sobre os presidentes que entraram em rota de colisão com o Legislativo. A história é clara: governos em minoria que apostaram no confronto se deram mal. Jango em 1964 e os impeachments de Collor e Dilma ilustram como a governabilidade se desmancha quando o Executivo perde capacidade de negociação. Em democracias, correlação de forças se altera por entendimento. Quem esquece isso paga caro. Continue lendo “Governabilidade por um fio”
Bolsonaro e o erro como método
Se uma imagem vale mais do que mil palavras, a que expressa a profunda crise do bolsonarismo é a de Jair Bolsonaro admitindo, de maneira curta e grossa, que violou sua tornozeleira eletrônica: “meti ferro nisso aí”. A cena resume uma sucessão de erros de um líder que age por impulso, sem medir consequências. Paciência estratégica lhe falta, e por isso acumulou derrotas, dilapidando seu próprio capital político. Continue lendo “Bolsonaro e o erro como método”
As urnas chilenas e a longa ressaca do estallido social
As urnas chilenas expressaram, na eleição deste domingo, o clima de ressaca política e institucional decorrente do estallido social de 2019 — a onda de protestos massivos que sacudiu o país, abalou o sistema político e inaugurou um período de volatilidade. Se em 2021 essa energia levou à eleição de Gabriel Boric, um jovem proveniente dos movimentos estudantis, agora produziu um segundo turno no qual o ultradireitista José Antonio Kast aparece como franco favorito. A soma dos votos da direita e centro-direita supera 70% dos votos válidos. Entender virada tão profunda exige considerar o efeito duradouro daquela explosão social. Continue lendo “As urnas chilenas e a longa ressaca do estallido social”
Trump e Xi Jinping: a trégua alivia, mas não encerra a tensão
Nas últimas semanas, o ambiente mundial estava turvo, com impacto negativo nas principais bolsas do planeta. O perigo de uma recessão global tornava-se mais visível diante da crise dos chips, que ameaçava afetar toda a cadeia produtiva do setor automobilístico em razão do bloqueio das exportações chinesas. O cenário se desanuviou graças ao encontro entre Donald Trump e Xi Jinping, realizado na Coreia do Sul. Continue lendo “Trump e Xi Jinping: a trégua alivia, mas não encerra a tensão”
Maria Bonomi, a arte de resistir
Há artistas que nos comovem pela beleza do que fazem; outros, pela coerência com que vivem. Maria Bonomi reúne as duas dimensões. Sua retrospectiva A arte de amar, a arte de resistir, em cartaz no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, é mais do que uma celebração de seus 80 anos de trajetória artística — é um manifesto sobre a força transformadora da arte e sobre a dignidade de quem nunca se afastou das grandes causas humanas. Continue lendo “Maria Bonomi, a arte de resistir”
Entre a “mexicanização” e a “bukelização” do Brasil
A ação no Complexo da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortes, revelou o ponto a que o Brasil chegou em sua crise de segurança pública. A operação foi aprovada pela maioria da população — especialmente os que vivem em áreas nas quais o crime organizado explora as pessoas, viola direitos humanos e instala sua ditadura por meio da violência. Vinte e oito milhões de brasileiros — 19% da população — vivem nesta situação, à margem do Estado Democrático de Direito. Continue lendo “Entre a “mexicanização” e a “bukelização” do Brasil”
Lula aposta no “nós contra eles”
Lula prepara a reeleição com uma roupagem completamente diferente da usada há quatro anos quando adotou o discurso da Frente Ampla. O discurso da moderação e da defesa da democracia foi sua peça de resistência. Graças a ele, Lula se elegeu presidente com uma diferença estreitíssima de votos. O fiel da balança foram os votos do eleitorado de centro, refratário ao radicalismo de Bolsonaro. Continue lendo “Lula aposta no “nós contra eles””
Correios: um colapso anunciado
Houve um tempo em que os Correios eram sinônimo de integração nacional, quando a estatal desempenhava papel estratégico ao garantir a universalidade do serviço postal. Mas isso pertence a uma era que já pode ser considerada como a pré-história das comunicações a pré-história das comunicações, quando telegramas, cartas e remessas eram a principal forma de contato entre as pessoas. Hoje, a estatal vive uma crise agônica, acumulando déficits ano após ano. Continue lendo “Correios: um colapso anunciado”
A esquerda e o Prêmio Nobel da Paz
A escolha de María Corina Machado para o Nobel da Paz de 2025 tem um grande significado. Cassada, perseguida e banida da vida política pelo regime de Nicolás Maduro, a líder venezuelana representa a persistência da luta democrática em condições extremas. Sua indicação rompeu o silêncio internacional em torno da repressão na Venezuela — um silêncio muitas vezes alimentado por alianças ideológicas e conveniências diplomáticas. Continue lendo “A esquerda e o Prêmio Nobel da Paz”
Oriente Médio: uma nova chance para a paz
Há 30 anos, a paz batia à porta de israelenses e palestinos com a conclusão do Acordo de Oslo, fruto de negociações conduzidas secretamente na Noruega. Para a história, ficou a imagem do aperto de mão entre Yasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina, e Yitzhak Rabin, primeiro-ministro de Israel, nos jardins da Casa Branca, sob o olhar de Bill Clinton. Os dois seriam agraciados com o Prêmio Nobel da Paz de 1994 como símbolos de uma reconciliação. Continue lendo “Oriente Médio: uma nova chance para a paz”
Ao Direito o que é do Direito
O ministro Edson Fachin assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal em meio a enormes expectativas. Com seu estilo discreto, Fachin toma para si a missão de restaurar a autocontenção do Supremo e de reafirmar valores como moderação, transparência, separação de poderes e decisões colegiadas. Tempos de comedimento e austeridade se anunciam. Emblemática a sua recusa de realizar a festa de posse, tradicionalmente financiada por lobby de associações de juízes. Continue lendo “Ao Direito o que é do Direito”
A sentença que encerra um ciclo
Pela primeira vez, a Justiça brasileira levou ao banco dos réus e condenou generais de quatro estrelas e um ex-presidente da República por tentativa de golpe. Um feito inédito, com profundo significado histórico. Mais do que isso: o Brasil está virando uma página de sua história, que atribuía às Forças Armadas o papel de tutora e guardiã moral da Nação. Continue lendo “A sentença que encerra um ciclo”
A política está nos reels e no TikTok
A política contemporânea já não é encenada apenas nos palanques, nos plenários ou nos telejornais. A proliferação dos vídeos curtos, em formato vertical, sinaliza uma transformação estrutural na mediação entre representantes e representados. É uma linguagem concebida para o celular — para ocupar a palma da mão e infiltrar-se na intimidade da nossa rotina. Assistimos ao político no ônibus, na fila do banco, durante as refeições — e, muitas vezes, no exato instante em que ele publica sua mensagem. Continue lendo “A política está nos reels e no TikTok”
Emanoel Araújo, o legado que resiste e inspira
Neste 7 de setembro, completam-se três anos da morte de Emanoel Araújo, artista, curador e fundador do Museu Afro Brasil. Sua ausência ainda ressoa, mas sua obra segue viva, inspirando novas gerações e lembrando-nos do poder transformador da cultura. Continue lendo “Emanoel Araújo, o legado que resiste e inspira”
Fim de um ciclo na esquerda latino-americana
Depois de 20 anos termina o poder do Movimento ao Socialismo (MAS) de Evo Morales. Pela primeira vez em duas décadas a esquerda ficará de fora da disputa da presidência da Bolívia, na qual o segundo turno será disputado entre um candidato de centro-direita e outro de direita. A simbologia da derrota transcende as fronteiras da Bolívia. Representa uma espécie de pá de cal em um projeto que galvanizou corações e mentes na América do Sul e levou a esquerda a subir no poder na Venezuela, Equador, Argentina, Bolívia e Brasil, conhecido como bolivarianismo e chamado por seu fundador, Hugo Chàvez, de “socialismo do século XXI”. Continue lendo “Fim de um ciclo na esquerda latino-americana”

