Diz-se que Lula voltou a ser contemplado pela fortuna com a candidatura de Flávio Bolsonaro. É o tipo de adversário ideal para um incumbente que busca o quarto mandato. O filho herda a rejeição do pai sem carregar o mesmo carisma; sem o sobrenome, seria um andor difícil de sustentar. Se já seria conveniente enfrentar uma chapa que ostentasse o nome Bolsonaro, ainda que na vice, o cenário tornou-se mais favorável com um Bolsonaro na cabeça da disputa. Continue lendo “O adversário ideal”
O Brasil e a doutrina Trump
A nova Estratégia de Segurança Nacional dos Estados Unidos, divulgada no início de dezembro, reposicionou a América Latina no centro da política externa americana e impôs desafios relevantes à diplomacia brasileira. Sob governo Donald Trump, Washington passou a tratar o Hemisfério Ocidental como prioridade absoluta, rompendo com a lógica predominante no pós-Guerra Fria, em que outras regiões como o Oriente Médio e a Ásia-Pacífico concentravam maior atenção estratégica A Europa, antes principal parceiro americano, também perdeu relevância. A mudança redefine hierarquias, alianças e zonas de influência, com impactos diretos sobre o Brasil. Continue lendo “O Brasil e a doutrina Trump”
Flávio Bolsonaro, herdeiro sem herança
Um episódio da Segunda Guerra Mundial serve como ilustração para entender a candidatura de Flávio Bolsonaro e sua unção como sucessor do próprio pai. Quando a Alemanha invadiu a Polônia, a Inglaterra e a França declararam guerra a Hitler, mas as forças beligerantes não trocaram um só tiro até a invasão francesa. Esse período de mais de um ano entrou para a história como a “guerra de mentirinha”. A candidatura de Flávio nasce com essa suspeita: é de mentirinha. O próprio “candidato”, como um mau ator, desnudou o véu em menos de 48 horas ao insinuar que poderia desistir da disputa pela Presidência, mas que isso “tinha um preço”. Continue lendo “Flávio Bolsonaro, herdeiro sem herança”
Governabilidade por um fio
Lula deveria refletir sobre os presidentes que entraram em rota de colisão com o Legislativo. A história é clara: governos em minoria que apostaram no confronto se deram mal. Jango em 1964 e os impeachments de Collor e Dilma ilustram como a governabilidade se desmancha quando o Executivo perde capacidade de negociação. Em democracias, correlação de forças se altera por entendimento. Quem esquece isso paga caro. Continue lendo “Governabilidade por um fio”
Bolsonaro e o erro como método
Se uma imagem vale mais do que mil palavras, a que expressa a profunda crise do bolsonarismo é a de Jair Bolsonaro admitindo, de maneira curta e grossa, que violou sua tornozeleira eletrônica: “meti ferro nisso aí”. A cena resume uma sucessão de erros de um líder que age por impulso, sem medir consequências. Paciência estratégica lhe falta, e por isso acumulou derrotas, dilapidando seu próprio capital político. Continue lendo “Bolsonaro e o erro como método”
As urnas chilenas e a longa ressaca do estallido social
As urnas chilenas expressaram, na eleição deste domingo, o clima de ressaca política e institucional decorrente do estallido social de 2019 — a onda de protestos massivos que sacudiu o país, abalou o sistema político e inaugurou um período de volatilidade. Se em 2021 essa energia levou à eleição de Gabriel Boric, um jovem proveniente dos movimentos estudantis, agora produziu um segundo turno no qual o ultradireitista José Antonio Kast aparece como franco favorito. A soma dos votos da direita e centro-direita supera 70% dos votos válidos. Entender virada tão profunda exige considerar o efeito duradouro daquela explosão social. Continue lendo “As urnas chilenas e a longa ressaca do estallido social”
Trump e Xi Jinping: a trégua alivia, mas não encerra a tensão
Nas últimas semanas, o ambiente mundial estava turvo, com impacto negativo nas principais bolsas do planeta. O perigo de uma recessão global tornava-se mais visível diante da crise dos chips, que ameaçava afetar toda a cadeia produtiva do setor automobilístico em razão do bloqueio das exportações chinesas. O cenário se desanuviou graças ao encontro entre Donald Trump e Xi Jinping, realizado na Coreia do Sul. Continue lendo “Trump e Xi Jinping: a trégua alivia, mas não encerra a tensão”
Maria Bonomi, a arte de resistir
Há artistas que nos comovem pela beleza do que fazem; outros, pela coerência com que vivem. Maria Bonomi reúne as duas dimensões. Sua retrospectiva A arte de amar, a arte de resistir, em cartaz no Paço Imperial, no Rio de Janeiro, é mais do que uma celebração de seus 80 anos de trajetória artística — é um manifesto sobre a força transformadora da arte e sobre a dignidade de quem nunca se afastou das grandes causas humanas. Continue lendo “Maria Bonomi, a arte de resistir”
Entre a “mexicanização” e a “bukelização” do Brasil
A ação no Complexo da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro, que resultou em 121 mortes, revelou o ponto a que o Brasil chegou em sua crise de segurança pública. A operação foi aprovada pela maioria da população — especialmente os que vivem em áreas nas quais o crime organizado explora as pessoas, viola direitos humanos e instala sua ditadura por meio da violência. Vinte e oito milhões de brasileiros — 19% da população — vivem nesta situação, à margem do Estado Democrático de Direito. Continue lendo “Entre a “mexicanização” e a “bukelização” do Brasil”
Lula aposta no “nós contra eles”
Lula prepara a reeleição com uma roupagem completamente diferente da usada há quatro anos quando adotou o discurso da Frente Ampla. O discurso da moderação e da defesa da democracia foi sua peça de resistência. Graças a ele, Lula se elegeu presidente com uma diferença estreitíssima de votos. O fiel da balança foram os votos do eleitorado de centro, refratário ao radicalismo de Bolsonaro. Continue lendo “Lula aposta no “nós contra eles””
Correios: um colapso anunciado
Houve um tempo em que os Correios eram sinônimo de integração nacional, quando a estatal desempenhava papel estratégico ao garantir a universalidade do serviço postal. Mas isso pertence a uma era que já pode ser considerada como a pré-história das comunicações a pré-história das comunicações, quando telegramas, cartas e remessas eram a principal forma de contato entre as pessoas. Hoje, a estatal vive uma crise agônica, acumulando déficits ano após ano. Continue lendo “Correios: um colapso anunciado”
A esquerda e o Prêmio Nobel da Paz
A escolha de María Corina Machado para o Nobel da Paz de 2025 tem um grande significado. Cassada, perseguida e banida da vida política pelo regime de Nicolás Maduro, a líder venezuelana representa a persistência da luta democrática em condições extremas. Sua indicação rompeu o silêncio internacional em torno da repressão na Venezuela — um silêncio muitas vezes alimentado por alianças ideológicas e conveniências diplomáticas. Continue lendo “A esquerda e o Prêmio Nobel da Paz”
Oriente Médio: uma nova chance para a paz
Há 30 anos, a paz batia à porta de israelenses e palestinos com a conclusão do Acordo de Oslo, fruto de negociações conduzidas secretamente na Noruega. Para a história, ficou a imagem do aperto de mão entre Yasser Arafat, líder da Organização para a Libertação da Palestina, e Yitzhak Rabin, primeiro-ministro de Israel, nos jardins da Casa Branca, sob o olhar de Bill Clinton. Os dois seriam agraciados com o Prêmio Nobel da Paz de 1994 como símbolos de uma reconciliação. Continue lendo “Oriente Médio: uma nova chance para a paz”
Ao Direito o que é do Direito
O ministro Edson Fachin assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal em meio a enormes expectativas. Com seu estilo discreto, Fachin toma para si a missão de restaurar a autocontenção do Supremo e de reafirmar valores como moderação, transparência, separação de poderes e decisões colegiadas. Tempos de comedimento e austeridade se anunciam. Emblemática a sua recusa de realizar a festa de posse, tradicionalmente financiada por lobby de associações de juízes. Continue lendo “Ao Direito o que é do Direito”
A sentença que encerra um ciclo
Pela primeira vez, a Justiça brasileira levou ao banco dos réus e condenou generais de quatro estrelas e um ex-presidente da República por tentativa de golpe. Um feito inédito, com profundo significado histórico. Mais do que isso: o Brasil está virando uma página de sua história, que atribuía às Forças Armadas o papel de tutora e guardiã moral da Nação. Continue lendo “A sentença que encerra um ciclo”

