Às vezes este sitezinho me dá imenso prazer. Digo sitezinho em meu nome – eu, que faço a maior parte dos textos dele.
É um site – sem zinho – devido a meus amigos que me dão a honra de publicar aqui seus textos, gente maravilhosa, belos textos, todos eles.
Mas é um sitezinho, no que diz respeito a mim mesmo – uma coisa nada pretensiosa, humildezinha.
E no entanto às vezes me dá imenso prazer.
Meu querido amigo Valdir Sanches – talvez o colaborador que mais curta, que mais goste mesmo do 50 Anos de Textos – me manda hoje uma mensagem em que diz: “A qualidade do que você oferece e recebe é impressionante”.
Ele se referia ao comentário que o Luiz Carlos havia enviado sobre o meu post “O que raios, diabo, Dylan quis dizer?”
O comentário de Luiz Carlos de fato mostra que a qualidade do que eu recebo aqui é impressionante.
Postei meu textinho – brincalhão, bem humorado – sobre a canção “Black Diamond Day”, de Dylan e Jacques Levy, do disco Desire, de 1975, no início da madrugada de ontem. Nele eu fazia uma tradução da imensa letra, transcrevia a letra original, e dizia não entender bulhufas do que ela quer dizer.
Algumas horas depois, às 5h09 daquela mesma madrugada, Luiz Carlos – que já havia enviado belos comentários sobre textos deste site e do 50 Anos de Filmes – mandou um comentário em que não só apontava um erro da minha tradução, como também fazia uma interpretação do que, na sua opinião, Bob Dylan queria dizer.
O que ele disse é brilhante. Ele respondeu com seriedade ao meu texto brincalhão.
Eu arrisco um palpite: Dylan ouviu a notícia do terremoto na TV, do qual só restaram os misteriosos par de sapatos gregos e chapéu Panamá. Incomodou-se com o fato de que não houvesse nada mais que se pudesse dizer a respeito, nada sobre as histórias das pessoas que ali morreram (And there’s really nothing anyone can say). Cerveja vai, cerveja vem, ele deixou a imaginação preencher as lacunas entre os sapatos e o chapéu. Qual seria a história dos seres humanos envolvidos na tragédia?
Acho que a letra é principalmente uma crítica à nossa insensibilidade ao ver repetidamente esse tipo de notícia na TV e achar que nada de importante está acontecendo, só mais um terremoto com algumas mortes (Didn’t seem like much was hapening). Por que se importar? Afinal, a gente nunca pretendeu mesmo ir lá nessa Black Diamond Bay.
Será que as histórias dos personagens aparecem propositadamente truncadas para enfatizar a curiosidade dele sobre as vidas dessas pessoas, sobre as lacunas que nunca serão preenchidas?
Na noite seguinte, esta, a de hoje, Luiz Carlos mandou novo comentário, transcrevendo o que a Wikipedia diz sobre a letra de “Black Diamond Bay”. O que está na Wikipedia corrobora com o que o Luiz Carlos havia escrito – e acrescenta que Dylan e Levy se inspiraram em Joseph Conrad:
Sérgio, acabei de encontrar na Wikipedia – http://en.wikipedia.org/wiki/Desire_(Bob_Dylan_album) o seguinte comentário sobre a música:
Black Diamond Bay
As described by Heylin, the “Black Diamond Bay” describes the destruction of a tiny island (following the eruption of a volcano), observed from two perspectives: from a hotel on the island itself and from the narrator’s point of view through a television news report. The song essentially describes what the people on the island are doing at the time – often drawing attention to the ironic futility of their actions (for example, one of the islanders is preparing to commit suicide when the volcano erupts and destroys the island). The song also describes the news-watcher’s indifference to the catastrophes he hears about on TV, as the narrator goes to get another beer rather than watch the news story about the catastrophe on the island. He says “I never did plan to go anyway to Black Diamond Bay.” Joseph Conrad’s Victory was a major influence to this song, which references many of its themes. The song title, the island, the volcano, the gambling, and the Panama hat are all references to Joseph Conrad’s Victory.
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Faço um textinho brincalhão – e tenho resposta séria. La voce del’uommo – cuando parla, io rispondo. Mas esta é outra canção, outra história.
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É isso aí, ô estúpido Sérgio Vaz.
Este humilde sitezinho não tem apenas grandes colaboradores, co-autores. Tem também grandes leitores.
É muito mais do que eu poderia esperar.
Obrigado, caríssimo Luiz Carlos!
(Ah, sim: uma das provas de que o cara tem bom gosto é que ele tem especial afeição por Maceió.)
Fevereiro de 2013
Adorei o Luiz Carlos. Não só pelo comentário, mas por ser alguém que fica até as 4h30 da manhã ouvindo Dylan. Esse é dos bons.
Cara, virei manchete no 50 Anos de Textos!!!
Minha mulher não vai acreditar.
Realmente este sitezinho é P.h.d.
Tio Luiz, o senhor é um gênio!