Sobre postes e apagões

No final da noite da última quinta-feira, quando nove estados do Nordeste, parte de Tocantins, do Pará e do Distrito Federal ficaram mais uma vez no breu, piadas começaram a pipocar nas redes sociais. A maioria delas mangava da frase de Lula – “de poste em poste vamos iluminar o Brasil inteiro” –, dita nos palanques de Campinas e de Fortaleza.

Na capital cearense o ex-presidente ainda acrescentou mais palavrório de efeito: “Somos um poste e eles um candeeiro apagado sem pavio”.

Ironia do destino. Dois dias depois, milhões de nordestinos tiveram de recorrer a velas, lamparinas, lampiões, luzeiros, grisetas. E também a candeeiros.

Foi o quinto apagão de grandes proporções em pouco mais de um mês. Um deles apelidado de apaguinho pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), em desrespeito absoluto à população que amargou a escuridão.

De novo, Dilma Rousseff ficou irritadíssima. Espumou. Aliás, se a física desenvolvesse sistemas para captar, transformar e armazenar a energia gerada pelas brabezas da presidente, boa parte das deficiências do sistema elétrico brasileiro estaria resolvida.

Por sua vez, o ministro interino de Minas e Energia Márcio Zimmermann tateou no escuro. Primeiro, em tom ponderado, considerou tudo bastante “anormal”, disse que não sabia explicar tantos apagões em tão pouco tempo.

Em seguida, sabe-se lá a partir de quais premissas, garantiu que o sistema elétrico brasileiro é um dos mais seguros do mundo e que todos podiam ficar tranquilos que não faltaria energia para a Copa do Mundo de 2014.

E até lá? Mais velas, lamparinas, lampiões, luzeiros, grisetas e candeeiros?

Para Lula isso pouco importa. Apagão é problema da presidente Dilma, ainda que isso ofusque o seu poste mais brilhante.

A energia do ex está voltada para outras fontes: eleição e mensalão. Quer porque quer que os resultados das urnas deste domingo tenham o dom luminoso de apagar as manchas do julgamento do mensalão que, se não o sentenciou diretamente, condenou de forma irrecorrível os modos e métodos de seu governo.

Lula, o iluminado, não contava que juízes da Suprema Corte, a maioria por ele indicados, pudessem ter luz própria. Por sua ótica, ele é o sol, o astro-rei. Todos os demais têm de gravitar em torno dele.

Mas até ele sabe que, por mais vitórias que colha hoje, por mais que insista no discurso do julgamento das urnas, o mensalão turvou a sua história.

E não há postes capazes de iluminar essa treva.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 28/10/2012.

3 Comentários para “Sobre postes e apagões”

  1. O Lula plantou mais um poste, Haddad em Sâo Paulo, terra do FHC e da oposição tucana. Agora a oposição terá que conviver com dois postes, Dilma e Haddad. Enquanto isto os torcedores deverão levar suas velas para assistir aos jogos da Copa. Enquanto a copa não chega nove estados do Nordeste, parte de Tocantins, do Pará e do Distrito Federal ficaram mais uma vez no breu e os tucanos fazem piadas na rede social. Governo ruim, oposição ruim, que venha a copa, circo para o povo.

  2. São Paulo não é apenas a terra do FHC e da oposição tucana. São Paulo – o Estado, e mais especificamente a região metropolitana – é também o berço do PT. O município de São Paulo não foi agora “tomado” pelo PT. Na verdade rigorosa dos fatos, o município de São Paulo foi governado pelo PT durante oito anos, por Luíza Erundina e Marta Suplicy. A rigor, o município de São Paulo só foi governado pelo PSDB durante os dois anos, ou ano e meio, de Serra.
    Faço esse registro apenas e tão somente em nome da verdade dos fatos. Os petistas adoram reescrever a história. E os ex-petistas, como o Miltinho, cheios de culpas pelos crimes cometidos pelo partido que fundaram e achavam sonhador e perfeito, adoram pisar na maionese, falsificar, ludibriar, confundir, misturar alhos com bugalhos, endoidecer, divagar (depressa), trapaçear, fingir, mentir, tergiversar.
    Sérgio

  3. Não sou PT, sou oposição dentro do PT, continuo fiel aos princípios que me levaram a ajudar a criar o PT. Sonhei um partido ideológico, revolucionário, contestador, socialista. Não um partido institucional, com filiados de carteirinha, alinhado e afinado com conchavos políticos e coligações não programáticas.

    A oposição não pode perder de vista o perigo de retrocesso político. Setores inconformados com o populismo a que intitulam lulo-petismo, fazem uma oposição sistemática, através da imprensa reacionária, porém retrógada, com a colaboração e conivência de intelectuais e jornalistas de inegável valor, que emprestam suas críticas em oposição ao governo legitimo.

    Os generais não agiram sozinhos. Assumiram o poder em resposta aos “clamores” dos setores da sociedade incomodados com o trabalhismo de João Goulart, especialmente o empresariado tradicional, os grandes proprietários rurais e a parte mais conservadora da classe média. dito por Marcos Coimbra –

    A oposição sofrida pelo PT através do PSDB tem a assinatura de respeitáveis pensadores, aos quais admiro pela inegável inteligência e idéias que nos aproximam. Idéias que nos fazem convergir, já que possuem o mesmo objetivo, porém inalcançáveis de pronto face a divergências de cunho programático e executório. Em determinadas épocas caminhamos juntos, noutras nos separamos, cada qual com sua própria certeza. Certezas transformadas em estupidez, arrogância, intolerância que inevitavelmente atrasam conquistas necessárias à condição humana.
    Em São Paulo, o PSDB está sofrendo a maior derrota nas eleições municipais da história do partido.
    Nas sábias as palavras de Demétrio Magnoli (sociólogo)
    “O candidato tucano está dizendo que eleger o petista equivale a colocar uma quadrilha no comando da prefeitura paulistana. A substituição da divergência política pela acusação criminal evidencia o estado falimentar da oposição no país e, mais importante, inocula veneno no sistema circulatório de nossa democracia.
    A campanha do tucano oscila entre os registros administrativos, moral e policial, sem nunca sincronizar o registro político. De certo modo, ela é um reflexo fiel da falência geral da oposição, que jamais conseguiu elaborar uma crítica sistemática ao lulo-petismo.
    O PT não é igual à sua direção eventual, nem é uma emanação da vontade de Dirceu ou mesmo de Lula. O PT não se confunde com o que dizem seus líderes ou parlamentares em determinada conjuntura, nem mesmo com as resoluções aprovadas nesse ou naquele encontro partidário.
    Embora tudo isso tenha relevância, o PT é algo maior: uma história e uma representação. A trajetória petista de mais de três décadas inscreve-se no percurso da sociedade brasileira de superação da ditadura militar e de construção de um sistema político democrático
    O PT é a representação partidária de uma parcela significativa dos cidadãos brasileiros. A crítica ao partido e às suas concepções políticas não é apenas legítima, mas indispensável. Coisa muito diferente é tentar marcá-lo a fogo como uma coleção de marginais.
    O problema da campanha de Serra não está no uso da “propaganda negativa”, mas na violação da regra do jogo. “Não é assim que se faz oposição”.

    A derrota tem explicações científicas. Está no cerne do viciado processo eleitoral que legitima a busca pelo poder. Obrigo-me a reportar-me a o excelente texto “A luta pelo cérebro vermelho” publicado pelo Sandro Vaia no blog do Ricardo Noblat e re-editado aqui pelo Sérgio Vaz. O “cérebro vermelho” definiu as eleições em São Paulo e em Curitiba, apelou-se para o emocional. Toca fundo nas emoções: “bolsa família”, “minha casa minha vida”, “prouni”, “upas”, “upps” programas evidentemente populistas de real efeito emocional e contrários ao programático e racional discurso da oposição. Neste contexto a racional oposição sofreu graves revezes. Entre a “razão azul” e a “emoção vermelha” recolho as sábias palavras do ex-ministro do STF. Sepúlveda Pertence reconheceu que “não é rotineiro no Brasil” um julgamento como o do mensalão. “Há um dado positivo. O mecanismo judiciário funcionou”, afirmou. Mas fez uma ponderação: “Não creio que isso vá transformar a história do Brasil. O que se passa para o leitor de jornal, o telespectador ou o leitor de revistas é que é histórico porque se está condenando. Mas isso é relativo”.
    O que poderia ser feito? “É preciso uma reforma política corajosa. E a reforma política é sempre a mais difícil de fazer numa democracia simplesmente porque ela há de ser feita pelos vitoriosos. Já dizia o presidente [Juscelino] Kubitschek, vitorioso não muda de método de política, essa é a regra básica”.
    O PSDB ficou 8 anos no poder, o PT está há 10 anos e nada fizeram para mudar a regra do jogo e nada farão.

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