– Não – disse o diretor de redação. – Não aceito e está acabado. Na minha revista, o nu tem classe. E quem decide quem tem corpo, cara e estilo para merecer nossas páginas sou eu.
– Acontece – ponderou o subsecretário – que você não é o dono da revista. E se o dono quer colocar a tia dele pelada, vai colocar.
– E eu escrevo no índice: despimos a tia do patrão! Amigo leitor, ela tem o corpo de um saco de batatas, pernas tortas e cara de puta, mas compreendam: se não a tivéssemos fotografado eu perderia o emprego.
– Mais ou menos isso – ponderou o subsecretário. – Sempre você pode dizer: querido leitor, hoje abrimos espaço, em nome da igualdade de direitos e da equanimidade da expressão corporal, para a beleza trivial, da mulher comum.
– Grande! Mudamos a técnica de vender a revista. Em vez de mulher bonita, damos ao leitor discursos edificantes.
O diretor passou o dia esperando que o patrão recobrasse o bom senso e desistisse da idéia estapafúrdia. Aquilo era uma intromissão intolerável. O patrão cuida dos negócios, a redação… da redação. Não se submeteria.
A agitação no aquário, a sala envidraçada do diretor, chamava a atenção de toda a redação. Pior: a essa hora até o pessoal da impressão devia saber de tudo. Até os jornaleiros. A concorrência…
– Já virei motivo de piada – o diretor esbravejava. – Me demito.
– Deixa disso – ponderou o subsecretário. – Para começar, ela não deve ser muito passada. É filha de um caso que o avô do homem teve com idade avançada. Se demos aquela socialite toda caidaça ano passado, por que não a tia…
– Porque a socialite era a ninfomaníaca mais ativa da praça. Todo mundo queria ver como era. O material. Isso vende, sabe?
No dia seguinte, dez da manhã, o diretor surge com uma cara péssima. Noite mal dormida. Escrúpulos profissionais. Tinha decidido. Redigiu a carta de demissão, atravessou a redação e subiu as escadas para o andar da presidência. Um minuto depois, um dos contínuos arregalou os olhos.
– Vixe! O que é aquilo?
A redação parou. O crítico de vinhos desarrolhou uma exclamação. O diretor de fotografia levou a câmera ao olho e começou a disparar, embora estivesse sem câmera. A redação babava. O subscretário teve um estremecimento, agarrou o telefone e ligou para a portaria.
– Alcides, quem é essa moça, esse tremendo avião que entrou na redação?
Sim, era ela.