Niemeyer, o cacete. Brasília é obra de Lúcio Costa

O Google faz uma homenagem a Oscar Niemeyer – como em outras datas importantes, substitui o seu logo por um desenho alusivo àquele dia. Está lá, então: “52º aniversário de Brasília. Desenhos de Oscar Niemeyer”.

Vi por acaso – queria fazer uma pesquisa qualquer, procurar fotos de um determinado filme, e vi a homenagem. O dia 21 de abril, a data de aniversário de Brasília, ainda nem tinha começado, faltavam alguns minutos, mas a homenagem já estava lá.

É uma homenagem errada. Ao homem errado.

Expressei minha indignação no Twitter. Esperneei lá que quem criou Brasília foi Lúcio Costa.

Segundos depois, um garoto jovem, Luiz Otávio, tuitou o seguinte: “se lúcio costa foi quem planejou tudo… niemeyer recebe a fama só porque ainda está vivo?”

Mais uns poucos segundos, e alguém da equipe de Ancelmo Gois – que considero o melhor colunista deste país hoje – tuitou, alegremente, entusiasticamente, cariocamente, que o Google estava prestando homenagem a Niemeyer.

Estou velhinho, cansado, e este país despeja sobre nós pelo menos dez motivos de indignação por dia, e não nos indignamos tanto quanto deveríamos – mas esse episódio me deixou profundamente indignado, e tento aqui expressar essa raiva.

Discutir sobre a decisão de criar Brasília, tomada por Juscelino, fica para nunca, ou para depois.

Mas o fato é que, decisão política tomada, Brasília existe, e é como é, graças a Lúcio Costa. É de Lúcio Costa o desenho da cidade, o avião, duas imensas asas a partir de um Eixo Monumental.

Niemeyer projetou os prédios. O desenho de Brasília é de Lúcio Costa.

Joaquim Guedes, parece, fez os cálculos.

O desenho, quem fez foi Lúcio Costa. O Eixo Monumental, os eixos das asas, o Sul e o Norte, os trevos viários, as tesourinhas, as superquaedras, tudo foi idéia de Lúcio Costa.

Tudo, no Plano Piloto, é idéia de Lúcio Costa.

Este país é tão maluco, tão absurdamente doido, que gerações inteiras, como o garoto Luiz Otávio indica, aprenderam a História errada. Por algum motivo incompreensível, ou por uma série de motivos incompreensíveis, o marketing transformou Brasília em uma criação de Oscar Niemeyer.

Deve haver muitos meninos que estudaram em boas escolas e sequer sabem quem foi Juscelino Kubitscheck, mas que aprenderam que Brasília é uma obra de Niemeyer.

Obra de Niemeyer, o cacete.

A idéia mais brilhante sobre Brasília, a de que o prédio do Congresso deveria ser a edificação mais alta, para demonstrar que a representação popular é mais importante do que tudo – “mais altos são os poderes do povo” – foi de Lúcio Costa. Niemeyer apenas fez o projeto do prédio. Um projeto, aliás, igualzinho a tudo que ele fez, e faz: um bloco reto de concreto e vidro, com duas partes de circunferência para enfeitar.

Compare-se o prédio do Congresso Nacional ao prédio da ONU, idealizado por Le Corbusier duas décadas antes: é igualzinho.

Niemeyer é o maior engodo, o maior blefe, o sujeito mais superestimado da História do Brasil.

Um dos maiores engodos do mundo.

Faz prédios, caixotes, de concreto e vidro. Não os defende da luz forte dos trópicos. Não faz aberturas de janelas que permitam a passagem do ar. Todos os prédios que cria têm, necessariamente, que ter ar-condicionado.

É um sujeito tão ante-diluviano em termos de meio-ambiente quanto nas suas idéias políticas.

Na política, defende Stálin, até hoje, passado bem mais de meio século das denúncias dos crimes stalinistas na própria União Soviética.

No trabalho, cria monstrengos de concreto sem espaço para um metrinho de grama sequer. Árvore, então, nem pensar. O Memorial da América Latrina, perdão, Latina, que projetou em São Paulo então governada por Orestes Quércia, financiador do MR-8 e um dos políticos mais corruptos da história, é uma ilha insensata de concreto cercada por uma cidade de concreto. Não há espaço para uma única arvorezinha, naquele mausoléu da Barra Funda.

Em Brasília, o desenho de Lúcio Costa exigia um gigantesco espaço gramado no Eixão, no meio dos prédios dos ministérios, diante da Praça dos Três Poderes. Lúcio Costa botou verde lá. Se fosse por Niemeyer, tudo aquele espaço seria de concreto.

Mais ou menos recentemente, o escritório de Niemeyer bolou um projeto de criar, bem no meio da grama da Esplanada dos Ministérios, um trombolho de concreto. Felizmente (há momentos em que este país tem alguma lucidez) o projeto foi abortado, levando-se em consideração que o espaço havia sido considerado Monumento da Humanidade pela Unesco.

A melhor criação de Niemeyer é a frase que ele repete há mais de um século, de que as curvas de suas criações fazem lembrar as curvas sensuais da mulher.

Morar num prédio projetado por Niemeyer – como o Copan no Centro de São Paulo, ou como naquele prédio horroroso que enfeia a Praça da Liberdade em Belo Horizonte, deve ser um inferno. Com paredes arredondadas, como ter uma sala agradável? Como ter móveis que se adaptem a elas?

Não se tem notícia de um presidente da República que tenha achado que viver no Palácio da Alvorada é agradável.

E o Palácio do Planalto não sobrevive sem reformas infindas, e carésimas, como a que Lula fez.

Ah, sim, mas Niemeyer é uma referência na arquitetura, tem projetos em trocentos países, é incensado no mundo inteiro.

Verdade.

E aí a gente tem que, realmente, tirar o chapéu: o marketing do comunismo, da esquerda, da esquerdiotice, é o melhor do mundo.

Transformam um arquiteto de merda no melhor do mundo. Transformam um governo de merda em nunca antes neste país. Transformam Dilma, esse estupor, essa coisa que não consegue falar uma única frase compreensível, em estadista.

Pobre país, este nosso.

21 de abril de 2012

 

15 Comentários para “Niemeyer, o cacete. Brasília é obra de Lúcio Costa”

  1. Tudo o que está escrito aqui é o que digo a muito tempo. Niemayer é uma fraude. Em Niterói ele projetou o “Museu de Arte Contemporanea” que é um plágio ridículo de um prédio que aparecia no desenho animado dos Jetsons, do Hana & Barbera.

  2. Prezado Sérgio,
    Estava eu ainda remoendo a segunda decisão estapafundia de nossas cortes superiores, essa última do STJ, sono ruim, amargurado, desamparado, quando li este seu artigo. Foi um bálsamo para meus sentidos. Existe gente normal neste País. As obras do referido arquiteto são uma bosta! Caminho todo dia pela praça da Liberdade em BH, e me deparo com aquele prédio horroroso. Gostaria muito de saber sua opinião sobre outro comunista de “grife”, esse, com algum mérito artístico, mas para mim, horroroso em sua postura política, afinal é figura pública endeusada até o último. Não consigo separar as duas coisas: falo de Chico Buarque.
    Parabéns pelo artigo.

  3. Sou de Brasília, e sim Lúcio Costa é um gênio, a capital é uma utopia: sonhada, buscada e desbravada; lembra-nos o sonho de Dom Bosco.

    Brasília não é apenas Oscar Niemayer, que possui exclusividade de projetos e construções, não há concorrência, vocês sabiam? Sim, por lei não existe.

    Oscar Niemeyer parece caduco, pois enquanto morador dessa cidade não consigo atravessar a pé o conjunto cultural de Brasília, que é todo de cimento (vejam no “google”), ao meio-dia, é quase impossível com o sol daqui. Este conjunto “cultural” abriga uma pequena biblioteca nacional (fechada), e um museu escuro (espaço de exposições), que precisa de gerador próprio (segundo uma colega são parecidos com uma caixa de sapado e um iglu), alguns comediantes dizem que o museu nacional de Brasília parece um capacete.

    Oscar Niemeyer odeia corrimões, pois aqui com uma população relativamente velha, as obras dele não pensam nem nisso. Os exageros desse senhor são cansativos.

    E os projetos recentes, que o governo daqui queria fazer, pasmem, um chifre e mais concreto em onde der. Vejam aqui a opinião sobre isso: http://mdc.arq.br/2009/01/28/de-obeliscos-e-espetos/

    Enquanto isso, um dos maiores nomes da construção da capital, Athos Bulcão, recentemente teve mais um painel destruído, veja aqui: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2011/09/23/interna_cidadesdf,271057/painel-de-azulejos-de-athos-bulcao-foi-demolido-com-autorizacao-do-iphan.shtml

    É isso, uns tem valor demais, outros não estão do lado de partido algum.

  4. As inverdades se vêem no presente. Imagina as histórias ensinadas nas escolas!!! Hoje alguns sabem a verdade porque buscam e reciclam a imposição das mídias. Você vê que uma inverdade dita e compartilhada por milhões, acaba sendo verdade.

  5. Adorei o seu creamer,neste pais prá quem aceita palhaço como representante,não é dificil a midia forjar realidades, e as pessoas aceitam de imediato o que for lhes empurrado garganta abaixo,é como no mito da caverna.

  6. Affff…. Me diz uma coisa: vc lê muito a Veja, p ter ficado assim, “direitiota” (desculpe a paráfrase…) r

  7. Caro Sérgio Vaz,

    Primeiramente quero dizer que respeito suas opiniões sobre o trabalho de Niemeyer – não cabe a ninguém mais que você decidir achá-las bonitas ou feias. Porém em seu texto o sr. menciona apenas recentemente ter pesquisado sobre tal obra. Sinto informar-lhe que muito do que você disse mostra conhecimento bastante limitado sobre história da arquitetura, um campo extremamente rico em estudos e que certamente requer dedicação para conhecer.

    Como você, me incomodo com o fato de Brasília ser confundida como trabalho dele. Lucio merece mais, foi tão importante quando Oscar na definição do movimento moderno no Brasil. Agora, vale mencionar que o aspecto mais criticado de Brasília é justamente seu urbanismo. Não me entenda mal, o trabalho de Lucio é belo, elegante e brilhante, porém dentro do contexto – o urbanismo funcionalista descrito na Carta de Atenas do influente arquiteto Le Corbusier é severamente criticado por falta de humanidade (escalas, zoneamento, dependência do carro etc). Lucio conseguiu humanizá-lo parcialmente.

    Sobre a arquitetura de Oscar, é preciso saber que os trabalhos que você conhece dele ou têm grande ênfase monumental ou são tardios – seus últimos trabalhos não são considerados geniais por qualquer pessoa com bom senso (o sr. incluído!). Agora, não foi por projetos como o Memorial paulistano que ele ficou famoso e foi influente. Se pesquisar sobre seu trabalho do período MODERNO (1936-1960), verá que sua produção é bastante exuberante, colorida e verde – junto com o grande Burle Marx, ele criou uma estética hedonista na qual explorou um novo material de maneira pioneira – leve, vazado, elegante e de acordo com nosso clima.

    O problema maior é que ele viveu muito e produziu obras sem a mesma qualidade. E pessoas que não estudam história mesmo, esquecem daquilo pelo qual ele ficou tão famoso.

    Sobre as críticas, algumas são bem fundadas – o Alvorada, como palácio, é muito grande para ser uma boa habitação (embora a parte íntima no segundo andar seja bastante confortável). Mas o Copan tem curvatura muito grande de modo que os apartamentos individuais não se comprometem por elas. No caso do edifício em Belo Horizonte, deixo a planta dele para o sr. ver como as curvas são resolvidas nos corredores e banheiros, de modo que as salas e quartos são surpreendentemente ortogonais!

    http://i1299.photobucket.com/albums/ag62/rpfigueiredo/Untitled-1.png

    Vou deixar alguns exemplos de obras aqui para o sr. entender quem de fato FOI Niemeyer.

    Um abraço!

    http://1.bp.blogspot.com/-TU_s0cTnsEw/T0fn1gm2n4I/AAAAAAAAAvU/9zpDWzNtIPk/s1600/4_Casa_das_Canoas_Rio_de_Janeiro.jpg

    http://ela.oglobo.globo.com/incoming/6966608-944-be0/FT942B/2012120357267jpg.jpg

    http://s2.glbimg.com/VDg4EsL8yMv4CFuGPkb5D-HsbeWt3fLp1QDI2Getf7hIoz-HdGixxa_8qOZvMp3w/e.glbimg.com/og/ed/f/original/2012/12/06/livro_de_casas_do_niemeyer_07.jpg

    http://2.bp.blogspot.com/-ukveMbCctRg/UGc54WaIeVI/AAAAAAAAGqA/Mr0TDT27SHM/s640/Oscar-Niemeyer-casa-cavanelas-araci-queiroz-a0.jpg

    http://imguol.com/2012/11/28/imagens-cedidas-para-conteudo-especifico-usar-apenas-no-respectivo-material-1354132935969_1920x1080.jpg

    http://4.bp.blogspot.com/_NQpph9gqN1c/TTLxEviol3I/AAAAAAAAAOA/Z82P_Niqbhw/s640/bienal.jpg

  8. Caro Rolando Figueiredo,
    Só posso agradecer a você pela mensagem, pelas informações, pela extrema educação.
    Um abraço.
    Sérgio

  9. Sem problemas. Apenas mencionei pois há uma grande lacuna de conhecimento pelo povo no geral sobre o trabalho de Oscar… Afinal, 1955 foi há muito tempo!

    E apenas uma correção – o projeto da ONU não é de Corbusier, é de Niemeyer! Corbusier apenas modificou a localização da assembléia, o que resultou num projeto pior, diz o concenso. Mas nota-se que a torre do secretáriado é mais Niemeyer, e a assembéia, mais Corbusier.

  10. Caro Sergio,

    Foi gratificante ver que alguém realmente sabe de quem foi o projeto urbanístico de Brasília. Quanto ao engenheiro estrutural das edificações projetadas por Niemeyer esse foi o engenheiro e poeta Joaquim Cardoso.

  11. Resido em Brasilia desde 1998 devido ao meu trabalho em uma autarquia. A sensação de morar nessa cidade é de convivência forçada. Todos enxergam todos o tempo inteiro. Os prédios parecem desenhados por crianças: são sempre retangulares e insossos. O isolamento acústico é deficiente. As fachadas são de vidro em grandes janelas de ferro. Nao houve visão de futuro no projeto da cidade. Falta espaço para tantos carros, o que faz com que as suoerquadras pareçam grandes estacionamentos com prédios no meio. A disputa por vagas de estacionamento é agravada pela presença dos comércios locais (lojas) ao lado de todas as quadras. Eles atraem pessoas de toda a cidade para fazer compras. A dubiedade é uma consequência do tipo de urbanização de Brasília. Então, ê como se cada uma acabasse fazendo suas proprias leis. Em suma, Brasília é uma sandice.
    Para piorar, temos um clima de deserto, onde não chove de maio a setembro. Se fosse hoje, haveria discernimento suficiente para não construir Brasília. É nisso que dá deixar os projetos para “iluminados.

  12. Concordo em partes. Soube recentemente que, bem antes de Lúcio Costa, um integrante da Missão Cruls, marechal José Pessoa, já havia traçado as linhas e projetado diversos detalhes como as tesourinhas, que depois foram adotados ou adaptados pela dupla Oscar Niemeyer / Lúcio Costa (que – descobriu-se depois –
    tinha sido patrão e já era amigo de Niemeyer, muito antes de ganhar o concurso pra desenvolver o projeto urbanístico de Brasília)

  13. Gostei do artigo. Havia estudado a história da construção de Brasília, é claro, outros governos já havia procurado uma forma de incentivar a ocupação do interior do país, por isso a expedição pioneira e depois de décadas a concretização com o governo JK. Torço que a administração pública encontre uma forma de manter o projeto original de Lúcio Costa com as necessidades da vida atual. Também espero que os moradores e os trabalhadores de Brasília deixem seu individualismo de lado e procurem dividir ou fazer rodízios de carros para amenizar o trânsito dessa cidade. Em países europeus, se o trabalhador chega bem adiantado em seu local de trabalho, ele estaciona seu carro em uma vaga longe pois as vagas mais próximas, por educação, são deixadas para aqueles colegas de trabalho que, por ventura, se atrasar e ter que sair correndo do carro para bater o cartão. Ou seja, devemos deixar de ser egoístas e pensar no coletivo. Aliás, esse foi um dos pensamentos de Oscar Niemayer ao projetar os prédios de Brasília. Devemos estudar a história do Planalto Central e da construção da capital federal pois informação é primordial para não escrevermos achismos.

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