“Os movimentos de tons anárquicos como o Ocupar Wall Street podem ser valiosos, na medida em que funcionam como faíscas. Mas eles não geram alternativas sérias no modo de vida predominante. A maioria dos americanos quer ser da classe média, e está irritada porque está sendo excluída pela plutocracia. Elas não querem uma alternativa ao consumismo – eles querem ser os consumidores!” ( Todd Giltlin, sociólogo e professor da Universidade de Colúmbia, em entrevista ao caderno Aliás, in O Estado de S. Paulo de 9/10/2011)
O movimento Ocupar Wall Street está se mexendo em camadas, ou em ondas, como todos os movimentos sociais que brotam espontaneamente fora dos aparelhos partidários ou organizações político-ideológicas organizadas.
O que os une, de um modo geral, é uma firme determinação em condenar com veemência o que não querem e nem sequer um vago aceno sobre aquilo que querem colocar no lugar daquilo que não presta.
Há um fio invisível ligando as manifestações da Primavera Árabe, dos Indignados da Plaza Mayor de Madrid, dos indignados de Atenas, dos revoltosos de Londres e os ocupantes de Wall Street.
O fio invisível é um sentimento vago, tênue, quase subjetivo, que une num mesmo caldeirão a luta pela liberdade contra regimes tirânicos, a raiva contra a incompetência da classe política em achar respostas aos problemas de corrupção, da estagnação econômica, de desemprego, do poder avassalador do capitalismo financeiro hipertrofiado – enfim, de um difuso sentimento de mal estar social cujas raízes são difíceis de precisar.
Esse sentimento difuso de “malaise” que se espalha pelo mundo tem razões concretas – a crise financeira para a qual os governos dos países ricos tardam em encontrar solução – e as profecias maximalistas de sempre, que saem dos centros acadêmicos de pensamento tradicional que ainda cultivam diversas poções do receituário mágico do marxismo como solução para todos os males, como se o remédio da engenharia social já não tivesse matado um número mais que suficiente de doentes.
As vozes do apocalipse profetizam mais uma “crise terminal do capitalismo”, como se não tivessem aprendido a lição de que o sistema, que não foi criado por nenhuma mente humana, mas se impôs naturalmente como um sistema de produção e trocas mais eficiente que qualquer outro, costuma autocorrigir suas imperfeições e seus erros.
Como ensinou Delfim Netto: “O capitalismo não vai acabar. Vai dar mais um passo na mesma direção do lento processo civilizatório, como tem feito nos últimos 170 anos…”
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 14/10/2011.