aos poucos, aquietamo-nos. ele separou-se e me olhou como olharia um pai saído da lenda. eu sorri e falei:
paz, paz, Mercutio, paz.
você fala sobre o nada!
ele, quase sem voz:
não é verdade! falo sobre o pesadelo!
lentamente, dirigimo-nos à casa. nesse momento, sem motivo algum, meu pai parou e olhou para o portão. estremeci e todo o meu corpo se arrepiou. o menino se apertou forte contra mim.
da rua vieram a correr três enormes cães pretos. iguais. pararam no portão e ficaram olhando. apoiando meu pai e ainda com o menino no colo, fomos até eles. e meu pai, com a voz por um fio, trêmula mas suavíssima:
criaturinhas da vida! que vieram fazer aqui?
os cães nos olharam fixamente e deram a volta, desaparecendo após uma corrida rápida e silenciosa.
vamos entrar. estamos cansados. antes do sol nascer, eu devo mesmo partir.
meu filho o olhou cheio de seriedade mas nada falou. fiz com que ele se deitasse no meu colo e o estreitei com carinho. ele segurou minha mão e apertou-a com toda a força.
A Espécie Humana, romance de Jorge Teles, está sendo publicado em capítulos.
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