Rosemary de Moraes deu anteontem e ontem provas de que é uma mulher de classe, elegante, uma pessoa da qual, em tempos idos, diríamos: que categoria!
Aliás, essa é a impressão que tenho dela desde o dia em que soube que ela pleiteava ser reconhecida como filha de José Alencar, na ocasião vice-presidente da República.
Todo seu silêncio desde então só reforçou essa impressão.
Ontem ampliada, pois era um momento em que todos os holofotes da mídia estariam divididos entre ela e o político velado no Palácio da Liberdade, em BH. Não lhe poderiam negar acesso, afinal, antes de ser ou não filha de José Alencar, ela é tão filha de Minas e do Brasil quanto ele.
Era tão fácil arrumar uma roupa negra, entrar na fila junto com os demais mineiros, chorar convulsamente diante do caixão do homem que julga ter sido seu pai – não é nada difícil chorar em velórios, é aliás um ambiente onde é dificílimo conter o choro.
Mas Rosemary de Moraes não fez isso.
Ela preferiu, como disse ao O Estado de S. Paulo, ficar em sua Caratinga: “Nem quis ir ao velório para não dar motivo, para não atrapalhar em nada, dizer que eu fui atrás de mídia. Estou quieta no meu canto.”
Eu não sei se ela é filha desse senhor recém falecido. Nem tenho como saber. Mas sei perfeitamente qual é o canto de Rosemary de Moraes.
Seu canto é o das mulheres com aquela elegância de maneiras que nasce com elas. Seu canto é o canto das mulheres com compostura, essa palavra tão fora de moda. É o das pessoas distintas no falar e no agir.
Vivemos no tempo da exibição completa, da alma e do corpo. No cabeleireiro, no restaurante, na condução, com um celular na mão, ou na Internet, as pessoas falam o que antes só falavam no quarto, nos confessionários, nos consultórios de um médico.
Por tudo isso, chamou minha atenção o comportamento de Rosemary de Moraes.
Sabemos que a cremação não impede o mapeamento do DNA pois o senhor José Alencar tinha filhos, netos, irmãos. Se não estou enganada, Thomas Jefferson, um dos Pais da Pátria americana, teve seu DNA todo mapeado com o material genético colhido em membros de sua família, e ele morreu em 1826!
A biociência progrediu de tal modo que possibilitou ao Homem saber sua origem: viemos todos da África. Até o senhor Bolsonaro.
Daqui do meu canto torço para que Rosemary de Moraes não esmoreça em sua luta, especialmente para honrar a mulher que foi sua mãe e de quem, naturalmente, tudo indica, herdou essas qualidades tão raras hoje em dia.
E também para que, seja qual for o resultado da ação que move, ela continue a se assinar Rosemary de Moraes. São meus votos.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 1º/4/2011.
Ao ler esse precioso texto de Maria Helena, não pude resistir à vontade de tê-lo aqui no site. Pedi a autorização dela para publicá-lo, e ela, gentilissimamente (Maria Helena é sempre gentil e elegante, exatamente como seu texto), concordou. É uma honra para o 50 Anos de Textos. (Sérgio Vaz)