Fora a tolice do slogan “Brasil, país rico é pais sem pobreza”, o enredo construído pela marquetagem oficial, João Santana à frente, é quase imbatível.
Conseguiu criar a imagem de gerente eficaz para Dilma Rousseff, escondendo-a do público por meses, e preparar a avenida para ela brilhar quando chegasse a hora.
Imaginou isso no anúncio do maior reajuste já concedido ao bolsa família, quando a presidente falou quase 40 minutos. Não causou frisson, mas ficou bem no filme, até porque o roteiro há muito estava desenhado. Não tinha como errar.
O primeiro comício foi milimetricamente planejado para acontecer um dia depois da gravação do programa Mais Você, em que Dilma conversa com Ana Maria Braga em tom confessional enquanto prepara a omelete que ela não conseguira fazer durante a campanha.
Depois, foi a vez do sofá da Hebe. Um programa de quase uma hora que vai ao ar depois do carnaval, no qual nem o melhor feiticeiro da propaganda poderia imaginar colher tantos frutos. Em sua estréia na Rede TV, Hebe antecipou sensações da entrevista, fez pouco do tucanato majoritário em sua platéia, falou maravilhas de Dilma e ainda pediu palmas para José Dirceu.
Para delírio dos patrocinadores dilmistas, criou constrangimento suficiente para que o ex-governador José Serra abandonasse o auditório antes do fim.
Se essa última parte veio de brinde, todo o resto foi pensado. E muito.
Era essencial humanizar e popularizar Dilma. Escolheram para tal a primeira semana de março, sob o invólucro do mês da mulher, perfeito para celebrar a primeira mulher eleita presidente no Brasil. Melhor ainda, estrategicamente fazê-lo antes dos 100 dias, fase simbólica para a medição de um governante.
Muito possivelmente, a combinação da Dilma-gerente-durona com a Dilma-mulher-humana-sensível deverá garantir o ibope da presidente. Coisa de gênio.
Um samba assim tão bem engendrado é difícil de atravessar.
Sem mostrar que apito toca, a oposição, se é que existe uma, faz-se de surda. Os acordes dissonantes insistem em vir dos que fazem parte do governo. Pequena amostra disso são as estripulias com passagens aéreas e diárias que bateram todos os recordes em janeiro e fevereiro.
Se nem em viagens nos meses mais mornos do ano segue-se o que a presidente determinou, o que dizer das demais contas?
Isso sem falar dos Haddads, Lobões, Mantegas, Orlandos e Pedros Novaes. Parece que ninguém dá a mínima bola para as ordens da presidente.
Haja alegorias marqueteiras para segurar o tom.
Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 6/3/2011.