Na entrevista, cercado à saída do gabinete.
– Deputado, o senhor foi gravado em vídeo pela Polícia Federal recebendo R$ 100 mil de um lobista, o que tem a dizer?
– O vídeo é falso, trata-se de uma montagem.
– Mas os peritos do Instituto de Criminalística confirmaram sua autenticidade.
– O meu perito de confiança vai comprovar, com novo laudo, que o instituto errou.
– E sobre o lobista, o que o senhor diz? Ele confirmou tudo em inquérito, para beneficiar-se da delação premiada.
– Mentiu! Eu nem sabia que estávamos na mesma sala.
– Mas a Polícia Federal apreendeu o dinheiro diretamente de seu bolso, na frente de testemunhas.
– Não havia testemunha nenhuma.
– Tenha dó, deputado. O delegado acha que o senhor foi descuidado. Na sala estavam um eletricista e a funcionária do cafezinho. Eles depuseram.
– O que houve foi uma ação orquestrada contra a minha carreira de homem público exemplar, alicerçada nos mais legítimos princípios da dignidade e da honra.
– A secretária do lobista, que preparou o maço com o dinheiro, passou a numeração das cédulas à polícia. São os mesmos números do maço pego em seu bolso. Há a gravação, testemunhas, o depoimento do lobista…
– Eu não sei de nada disso.
– Como, não sabe?
– Minha mente não registrou nada do que vocês estão falando. Não tenho consciência de nada.
– Deputado…
– Bem, se minha mão agiu de forma autônoma, fora do meu controle, eu não tenho culpa. O meu cérebro não sabia, portanto sou inocente. E agora, dão licença que eu preciso consultar um médico.
A historinha atrás do texto
Valdir me mandou a historinha nos primeiros dias de dezembro de 2009, quando o escândalo da vez era o de José Roberto Arruda, governador do Distrito Federal pelo DEM. Perguntei quando ele tinha escrito. “Escrevi a crônica há uns dois, três meses, quando um desses escândalos estava no auge. Mas, com tanto escândalo, como lembrar qual?”