Dona Damares também está preocupada com a capacidade respiratória e a comida dele na cadeia. Deixei esses dois tópicos para tratar num artigo de suíte, palavra com a qual identificávamos, no meu tempo de jornal, a sequência ou repercussão de uma matéria publicada, geralmente, no dia anterior.
Então, eis a suíte. O apenado em questão mostra um quadro de soluços e ânsias de vômito ou vômitos de fato, daí a preocupação de dona Damares. E se, em consequência dos soluços, ele tiver uma crise respiratória, quem vai cuidar dele na cadeia? — é a pergunta aflita da nobre senhora.
Não vou responder que o caso não me interessa porque não sou coveiro. Eu tenho compostura. Por isso, não vou fazer como ele fez naquela live presidencial em que imitou um moribundo de Covid procurando ar em desespero para não morrer. Embora o dito cujo apenado mereça.
Eu, se estivesse nas proximidades, logo chamaria o rabecão para levá-lo, pois cadeia é um empilhado em cima do outro — como ele mesmo definiu certa vez — e menos um faz diferença.
Não se ofenda, não é juízo de valor de minha parte, mas só uma questão de física e aritmética. Dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo — reza a lei de Newton. E eu acredito nela, apesar de os físicos quânticos terem suas dúvidas. Já na Papuda não há dúvidas, o mesmo espaço abriga parece que três ou quatro ao mesmo tempo.
Portanto, meu conselho à nobre senhora é que para isso não tem remédio, tem é que se postar ante os portões e exigir que se cumpra a lei de Newton a qualquer preço. E não saia de lá enquanto isso, se não empilham!
Outra questão é a alimentação do apenado. Já vi presos reclamando de comida fria, de comida azeda, de comida sem gosto e outros dissabores. É uma coisa que ele poderia ter feito em prol dos presos, na sua (indi)gestão presidencial: comida ruim, mas pelo menos quentinha. Nem isso.
Deve ser um problema muito difícil de resolver, pois ele que tudo podia, até dar golpe de estado, nunca fez nada para melhorar a saúde alimentar dos presos. Ou vai ver que é parte do castigo, né? Afinal, a senhora quer o quê? Caviar com lagosta?
Falando sério, a comida podia ser melhor. E ele que já tem problemas porque certa vez comeu uns camarões a mais, vai estrebuchar na latrina.
Mas não tenho nada com isso, não sou cozinheiro!
A senhora que peça licença ao porteiro para entrar todo dia com uma quentinha pelando os beiços.
E peça também a dona Micheque que capriche no quatro bocas. O homem está anêmico por má alimentação dentro da própria casa e até tomou ferro na veia no domingo quando os médicos descobriram. Depois não venha dizer, como de hábito, que a culpa é dos outros, da cadeia, da Papuda, da PF, do Xandão, sei lá o quê. Nunca vi ninguém morrer de fome lá.
Comida de casa quentinha mas sem gosto de nada e sem sustança, não tem quem aguente nem um milionésimo da pena.
Morre antes, senhora. Como Noel cantou, sem foguete (isso eu duvido), sem bilhete, sem violão. Infelizmente.
Nelson Merlin é jornalista aposentado e nas horas vagas churrasqueiro dos bons, mas fraco no quatro bocas.
