durante o café, o menino falou:
pai, eu esqueci de perguntar. onde está o morcego?
depois te mostro.
como descobriu que ele dorme atrás do espelho?
foi assim: sempre havia uns cocozinhos no meu presépio, embaixo do espelho. eu achava que era rato. um dia, eu estava limpando e ouvi um barulhinho. então eu pensei: vou levantar o espelho e o ratinho vai sair correndo. mas não, levantei o espelho e o barulhinho continuou. então eu olhei e vi o morcego. é bem miúdo.
quero ver agora.
acabe de comer.
pouco depois, foi que levantei o espelho.
fiquem aqui em baixo, fica mais fácil de ver.
nossa!, pai, que bicho feio!
passe a mão nas costas dele. parece de veludo.
eu, nunca!
o velho porém passou o dedo de leve sobre as costas do morceguinho. a cada toque ele abria a boquinha e se contraía.
é muito feio. parece com o capeta.
risos.
pai, outro dia os meus amigos entraram aqui pra beber água e me perguntaram por que é que no seu presépio tem um diabo.
não é um diabo. é um fauno.
ele tem pés de bode e chifre e está pelado.
e tem uma flauta de Pã nas mãos, veja.
mas nenhum presépio tem fauno!
eu quis fazer um presépio juntando todas as religiões, para o nascimento do Homem. não tive tempo de continuar, ou parei, não sei, e ficou só o fauno.
pô! um fauno no presépio e um morcego atrás do espelho. eu vou, mas é brincar.
saiu. meu pai pegou as ferramentas de jardim e saiu.
quer ajuda?
claro que não!
vou então lavar a roupa.
A Espécie Humana, romance de Jorge Teles, está sendo publicado em capítulos.
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