Depois do trabalho elogiável da Polícia Federal na caça aos golpistas de 2022/23, fico pensando se é bom para o presente e o futuro caçar primeiro a raia miúda do golpe e só depois, muito depois, talvez tarde demais, pegar os arquitetos da empreitada e seus mandantes — de resto, todos já devidamente identificados no corpo da própria investigação.
Será que isso não estimula os maiorais da extrema direita a seguir em frente na sua sanha golpista? Será que isso não lhes dá a tão almejada impunidade? Será que isso não lhes dá de graça o espaço necessário para agir nas sombras?
Sem esquecer que os golpistas têm um braço político forte, o qual está sempre alerta para partir em defesa deles e, pior do que isso, espalhar mentiras e contrainformação para confundir a população.
Em claros exemplos dessa estratégia e dos vínculos umbilicais com o golpe, os filhos 01 e 02 do Abominável partiram para defender papai e os golpistas com argumentos (?) pífios. O primeiro dizendo que pensar não é crime, referindo-se à idealização do plano, e o segundo, mais assanhado, como de hábito, dizendo que seu grupo político vai aprovar a anistia e cassar o ministro Alexandre de Moraes.
O primeiro quer que alguém acredite que tudo não passou de um pensamento. Quer dizer, as coisas foram para o papel preto no branco numa impressora do Palácio do Planalto por obra e graça do Espírito Santo. A mesma entidade divina selecionou o armamento pesado que seria utilizado nos homicídios do presidente eleito, seu vice e o desafeto-mór, o ministro que está no pé deles. E o troço só não andou para as vias de fato porque o Demo adiou uma sessão do STF e o alvo não ia estar mais no local à hora combinada para o ataque…
O segundo quer dizer para a galera fã do quarteto pai e filhos 01, 02 e 03 que, também por obra do Espírito Santo, o Congresso vai dar a anistia aos abilolados do 8/1 — agora acrescidos dos kid pretos pegos com a boca na botija — e a cassação do odiado Xandão, agora mais forte do que nunca.
Curioso que o resto da corriola está quieto como jacaré chocando ovo. Nenhum governador amigo, nenhum deputado, nenhum senador, nenhum militar da reserva saiu no bloco do “aí, papai, tamos aqui”.
O silêncio nessa hora fala mais do que mil palavras. Eles estão numa sinuca de bico: se falam, vão para o pelourinho político; se não falam, vão para o brejo. O que preferem? Não sei, mas que estão pensando numa boa desculpa, não tenho dúvida.
Mas tá difícil! A investigação da PF foi impecável. Demorou um pouco, mas a demora é plenamente justificável. Tiveram que abrir os chips e hardwares de dezenas de celulares, conferir as chamadas nas antenas de transmissão e recepção de sinais, para rastrear datas e horários, juntar os cacos e encaixar todas as peças do quebra-cabeças.
O ninho da serpente abrigava-se no celular do kid preto Mauro Cid e no seu notebook, dos quais ele apagara toda a conversação golpista antes de ser preso pela primeira vez. E, maldição, todos os arquivos apagados foram recuperados pelos malditos investigadores da Polícia Federal!
A investigação também pegou celulares comprados em nome de terceiros para trocarem mensagens sem deixar rastros dos golpistas, que se identificavam com nomes fictícios, como marcas de carros e nomes de países.
Mas os malditos investigadores pegaram e ouviram tudo, mesmo depois de deletado. Danados!
Sinto no ar um cheirinho de que vem mais por aí. E sinto também que se não prenderem já os mandantes, eles vão pressionar testemunhas, destruir provas, melar o inquérito e tentar escapar como ratos pelas frestas debaixo das portas.
Afinal, o Congresso que temos não é de confiança e de lá pode vir um monstrengo chamado pacificação, com cara de Frankenstein e a sombra do capeta.
Oremos!
Nelson Merlin é jornalista aposentado e mais estupefato que na semana passada.
21/11/2024