Palhaçada!

Mesmo que Xandão fosse o ditador do Brasil — como afirmam e reafirmaram na Avenida Paulista, com certa ou muita inveja, as hostes da desinformação e do golpismo —, leis existem para ser cumpridas e reclamações devem ser feitas ao Judiciário e/ou ao Legislativo e não às redes sociais e/ou à imprensa, que tanto atacam.

Desde a instalação dessa praga no Brasil, a internet-sem-lei serviu e ainda serve a bandidos, estupradores, pedófilos, feminicidas, homofóbicos, misóginos, racistas, nazistas, fascistas, políticos e ideólogos da extrema direita, corruptos, drogados, traficantes, golpistas, terroristas, escroques, assaltantes de contas bancárias (que até se candidatam a prefeito), enfim, marginais para todos os gostos de pseudo empresários da comunicação, que lucram com a esbórnia. 

Sobra uma minoria de idiotas como eu e outros, que acreditamos no valor da boa informação e do diálogo, e acabamos sendo buchas de canhão de uma marginália empresarial que precisa de nós, os idiotas, para convalidar suas redes de negócios e negociatas. 

Somos inocentes úteis dessa escória, que para continuar operando  precisa de uma internet sem lei, travestida de internet da liberdade de expressão — na verdade, internet da impunidade — para o cometimento de crimes de toda espécie. Os deles e os dos comparsas que correm para suas redes para se servirem delas, propagar seus crimes e ficar com uma fatia do bolo de publicidade — algo como bilhões/trilhões de dólares ao redor do mundo. 

Quando aparece um juiz disposto a dar um fim no esquema, gritam esganiçados que estão sendo censurados pela toga. Ora, o juiz apenas cumpre a lei que o Legislativo criou — ou recebeu do Executivo na forma de um projeto de lei, o qual virou, mexeu, revirou e aprovou. Por que não reclamam no Legislativo, que é o pai da matéria? 

Respondo: porque o Legislativo já fez sua parte, e quase sempre deixa o texto com brechas e buracos para a marginália agir nos desvãos da lei. E ai do Judiciário se interpretar as letras e as brechas contra o gosto da freguesia! Querem logo o impeachment do juiz/ministro, por meio de seus representantes no Legislativo — que não se fazem de rogados. 

Agora mesmo um improvável  senador eleito na última leva de patriotas jura de pé junto que vai dar voz de prisão em flagrante ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, se ele não der seguimento ao pedido de impeachment que encaminhou na outrora ilustre Câmara Alta, ora Senado Federal, contra o ministro Alexandre de Moraes. 

O tal senador, que é de Minas mas se apresenta comumente vestindo uma camiseta do Vasco da Gama, afirmava na semana retrasada que o fato ia se dar na semana seguinte, impreterivelmente, mas já estamos uma semana adiante e nada aconteceu. 

Vou pedir meu ingresso de volta! Mais uma vez, a bazófia ou o cagaço  dos extremistas estraga meu piquenique. Desculpem a palavra chula, mas estou indignado. E eu ainda espero aqui na minha poltrona, com meu chá e minhas bolachas, que a tevê me mostre o valente e nanico senador dando voz de prisão ao ponderado e grandalhão colega de Minas que preside o Senado Federal. 

Palhaçada tem limite, mas para  esses caras não tem: o limite é o céu! A eleição pela plebe ignara os catapultou ao infinito! Bem que eu gostaria que a Terra fosse plana e eles desaparecessem no horizonte. Mas não, infelizmente é redonda — aliás, meio oval, como aprendi no colégio — e esses zumbis ficam orbitando em torno de nossas cabeças sem darem a trégua que merecemos! 

Chego a pensar que sir Isaac Newton repousa arrependido em sua tumba ao ver tanta asneira e delinquência sem nada mais poder fazer, já que, por seus cálculos, a Terra é irremediavelmente rotunda, e ainda mais rotundo é o zero mental dos delinquentes que aqui habitam e dos zumbis que orbitam em torno deles. 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e indignado. 

10/9/2024

P.S. — Notícias mais recentes do que quando escrevi estas mal traçadas informam que o tal senador arregou em favor de um grupo de extremistas que decidiu apresentar em conjunto um pedido de impeachment do ministro Xandão ao Pachecão. E esse grupo não quer ordem de prisão contra o presidente do Senado devido ao risco de humilhação que correriam ante o ridículo da coisa. Minha indignação só cresceu! Cagão é pouco! 

     

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