Cagão é pouco

Um uppercut direto no queixo equivale ao coice de uma mula brava. Não há quem aguente, conta-me um amigo ex-pugilista dos anos 60. 

Com golpes como esse, um nanico como Éder Jofre nocauteou fileiras de candidatos ao cinto de ouro dos pesos galo e pena naqueles anos. O grandalhão Cassius Clay fazia o mesmo nos ringues olímpicos até ser campeão do mundo dos pesos-pesados, já como Muhammad Ali. E seguiu derrubando oponentes pela vida afora, intercalando uppercuts no queixo com ganchos e cruzados na cara e no fígado alheios. Até ele mesmo ser derrubado por Joe Frazier em 1971 com um uppercut que o pegou meio de lado, se não o teria matado. Zonzo, levantou em seguida, mas perdeu por pontos a Luta do Século, que aliás terminou com os dois no hospital. 

Desculpem se me estendi pelo boxe nacional e internacional dos meus tempos de telespectador de lutas memoráveis. 

Há muito tempo deixei de celebrar esse tipo de pancadaria. Mas não me contenho diante dos golpes certeiros desferidos por Xandão e a Polícia Federal na operação Tempus Veritatis, que os latinistas traduzem como Hora da Verdade. 

Bateram tão fundo em minhas memórias que na noite do mesmo dia 8 de fevereiro sonhei que dava socos e chutes em inimigos que me assombravam vindos de todos os lados e volta e meia ressurgem nos meus sonhos de idoso inconformado. 

Meu psicanalista me explicou e, realmente, preciso me conformar com a idade e acalmar. Mas o que posso fazer se o Xandão e a Polícia Federal não me dão folga? É toda hora um novo espetáculo e não sei mais se são catarses do meu subconsciente ou desejos de meu ego de ver os golpistas graúdos na cadeia antes que meus dias se findem neste mundo de leros e lorotas sem fim. 

Por meu desejo, bagrinhos e tubarões deveriam ser processados e sentenciados juntos. Mas o malvado Xandão prefere ir cevando os porcos grandes e só abatê-los quando já estiverem bem pesados, talvez com mais de 200 arrobas. Ou seria melhor com mais de 300? 

Não se sabe. São estratégias do relator do processo que não me cabe julgar. Mas por ora posso dizer que em matéria de arrobas o porco maior sabe mais do que eu. Quanto será que ele vale? Por enquanto, antes de ir para a balança, diz que não fez nada e, portanto, nada vale. Na melhor das hipóteses, sugerem seus advogados, vale menos que os bagrinhos camicases que foram pegos com a mão na massa no 8 de janeiro de 2022. 

Acho que estão diminuindo demais o chefe. Ele deve pesar, entre ossos, carnes e gorduras, algo como seis  arrobas, equivalente a uns 90 quilos em peso de gente, dado que se trata de um indivíduo de boa altura, principalmente se comparado com a estatura de seu ex-ajudante de ordens e, agora, seu algoz. 

A verdade dos fatos é que o uppercut pegou em cheio. Daqui para frente é a balança e o frigorífico. Não sem antes exibir, para vitimizar-se mais uma vez, como lhe convém, o queixo amassado ao público infantil que ele espera reunir na Avenida Paulista no próximo dia 25. 

Ele pede para não levarem cartazes de ataque às autoridades constituídas. Não sei que qualificativo o Praga Neto daria a esse pedido, mas acho que “cagão” é pouco. 

Nelson Merlin é jornalista aposentado e inconformado

15/2/2024

     

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