Ah, o banco de praça… Cenas que atravessam os tempos. Lá estão os velhos, sentadinhos, vendo o tempo passar. Outros, piedosos, jogam alimentos aos pombos. Um casal de namorados, uma mãe com seus filhinhos…
Então vem um destrambelhado como o Lilico, aquele amigo do qual nunca nos livraremos, e diz que não aguenta mais. Passávamos pela bem arborizada praça do bairro em que moramos. Lugar perfeito para minhas caminhadas. E rota obrigatória para Lilico chegar à loja de parafusos onde trabalha.
— Esta praça merece um monumento – diz ele.
— Sim – concordo. – A que…
— Um monumento ao tédio! Não tem nenhum agito, gente passando, camelô vendendo quinquilharias, o cara do cachorro-quente… Vida, meu caro!
— Nenhum problema com a praça – rebato. – Se há alguma coisa errada por aqui, tem nome e sobrenome: Arlindo Gomes, vulgo Lilico. Seu lugar é na 25 de Março. Arranje um emprego lá… e seja feliz.
Dia destes, tive uma surpresa. Resolvi parar a caminhada e descansar um pouco. Pedi licença a um senhorzinho de cabelos brancos, sentei-me ao seu lado. Em dez minutos estávamos em um animado papo, iniciado por ele, sobre a situação do País, os ataques na Praça dos Três Poderes, Lula e a política fiscal. Fiz um amigo, a quem dedico um dedo de prosa, todo dia.
Também me é muito agradável encontrar uma vovó e seus dois netinhos, estes com um cachorrinho. Ao cruzar, trocamos cumprimentos. Às vezes abaixo e faço um carinho em Bidu, o cãozinho, o que agrada muito às crianças.
Eis senão quando, neste domingo, quase caio de costas com a cena à minha frente. Um casal de namorados sentado em um banco. Tão embevecidos um com outro, que não notaram minha aproximação. Quando deu por mim, Lilico reagiu como se tivesse sido pego em flagrante delito.
— Ah, é você? Estou aqui sentado no banco…
— Não diga! Pensei que fosse alucinação minha.
A moça não entendendo nada. Cutuca discretamente o namorado.
— Estou aqui dando um tempinho, quer dizer… com a minha namorada…
— Sou a Cláudia – apresenta-se, resolvendo a situação.
Ora, pessoa simpática.
— Mudei para o bairro há pouco tempo, na mesma rua do Lilico. Agora começamos a namorar. E temos uma praça para nós. Estamos adorando…
— Estão? O Lilico gosta?
— Ah sim. Ele tem muita sensibilidade, diz que isto é um paraíso verde.
Lilico faz de conta que não é com ele. Enfia a mão no saquinho que segura, retira-a e joga biscoitinhos para os pombos.
Este conto foi originalmente publicada no blog Vivendo e Escrevendo, em 30/3/2023.