Na caminhada de hoje, dia de escrever o texto, senti o clima um pouco diferente. Uma manhã com cara de outono, meio enevoada, escondendo o azul do céu que só apareceria mais tarde junto com um sol um tanto ou quanto opaco.
Pensei que esse clima meio cinzento seria para nos lembrar de que estamos na Semana Santa, período de reflexão para os cristãos do mundo todo, sobre a vida e a morte do enviado que Deus teria mandado à Terra para salvar a humanidade do Demônio, nos livrando do pecado e nos tornando seres verdadeiramente humanos.
A caminhada acabou depois de seis quilômetros e, com ela, a breve esperança de que isso poderia dar certo um dia.
Foi só chegar em casa e começar a ler as notícias que a desesperança bateu de vez.
A pior da semana, certamente, foi a que veio lá de Blumenau.
Não dá pra nem pra comentar essa barbárie porque não encontro no dicionário uma palavra que expresse o que eu e todos os seres que ainda têm um coração batendo no peito sentimos diante desse ato brutal.
Também não encontrei uma palavra para nominar a TV do Ratinho que, durante a cobertura dos ataques às crianças, fez propaganda de uma agência funerária.
Na falta de uma só palavra pensei em proferir todos os palavrões que conheço, mas ainda assim ficaria faltando um monte.
Em plena Semana Santa também descubro que, no caso dos padres americanos – que nada têm de santos – que abusaram sexualmente de mais de 600 crianças durante 60 longos anos, fizeram isso bem debaixo do nariz da Diocese.
Agora ela, a Diocese, vai ter de se explicar para a Justiça Divina e para a dos homens por que varreu todo o seu lixo pra debaixo das batinas.
Como se não bastassem todas essas desgraças, o sem graça do nosso ex-presidente voltou ao Brasil, sem a motociata que esperava e sem o grande público embandeirado no aeroporto (como disse o ministro Padilha, a recepção esperada “flopou” – miou, deu ruim).
Bom, pelo menos o PL do Valdemar o acolheu e deu até um emprego a ele. Mas como Bolsonaro, que passou 28 anos dormindo nas poltronas da Câmara, depois mais quatro sobre duas rodas, não é muito afeito ao trabalho, já faltou logo no primeiro dia.
Talvez estivesse se preparando para o depoimento que teria de dar à Polícia Federal na quarta-feira, sobre as joias que ele tentou surrupiar da União. Porém parece que o script não foi muito bem redigido e o que ele contou durante as três horas em que passou na PF não colou.
Como presidente da República ele sabia muito bem que não poderia ficar com presentes caros mas assim mesmo tentou burlar as leis pra ficar com elas. Só que para a Polícia tentou justificar dizendo que tentou reaver as joias para “evitar um vexame diplomático” com a Arábia Saudita, caso elas fossem a leilão.
Vexame, cara? Vexame é essa tentativa de contrabando da sua parte. Vexame é a mentira contada à polícia, de que ficou sabendo da existência dos presentes só um ano depois que chegaram ao Brasil. Vexame é a desculpa esfarrapada que você arrumou achando que todos seriam seus adoradores e que cairiam fácil nessa balela.
Pena que o depoimento esteja ainda sob sigilo porque seria bem interessante saber por que cazzo um príncipe árabe daria presentes tão caros para um chefe de Estado com o qual nem tem grandes negócios. Aí tem.
Alguém aqui pode querer saber como Jair Bolsonaro se encaixa numa Semana Santa, sendo ele um falso Messias.
Eu diria que se encaixa no Sábado de Aleluia, dia de espancar os bonecos do traidor Judas, amarrados ao poste. Afinal ele traiu a Pátria quando tentou dar um golpe e traiu os eleitores que acreditaram quando disse que era honesto.
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 7/4/2023.