Em duas semanas seguidas, duas grandes festas foram realizadas no país. E o foco principal de ambas foi o mesmo: A Democracia.
Na primeira, milhares de brasileiros se reuniram em praças públicas para ouvir a leitura da Carta pela Democracia assinada por um milhão de pessoas que estão assustadas com as ameaças de perda da nossa liberdade conquistada a duras penas depois de 21 anos de ditadura.
A festa reuniu gente de várias classes, de várias idades, de vários credos, mas todos vestidos com suas melhores roupas de patriotas, reassumindo o Hino Nacional e a bandeira verde-amarela que estavam sendo usurpados.
O povo enfrentou o frio e foi pra rua de cara limpa ou pintada, cheio de orgulho de ser brasileiro e de viver numa democracia. A mesma que a extrema direita na voz do ilustríssimo senhor presidente quer derrubar com constantes ameaças às instituições transmitidas em suas falas. Insiste em que povo armado jamais será dominado, que as urnas eletrônicas são fraudáveis, que se não ganhar a eleição não vai deixar barato, incitando o povo a promover um quebra-quebra e insinuando ter apoio das Forças Armadas no caso de um golpe que ele tá doidinho pra dar. (Até talvez tenha apoio dos que estão sob as asas do governo usufruindo das benesses que contemplam alguns graduados do Exército – inclusive o candidato a vice-presidente Braga Neto – com uns premiozinhos que giram em torno de um milhão de reais num único mês. Afinal, quem largaria essa teta, némermo?
Foi bonita a festa e isso incomodou muito o nosso presidente. Ele não assinou a “cartinha” e ainda chamou o movimento de micareta do PT. Ficou mal na fita porque, com essa atitude, deixou claro que não tá nem aí com a Democracia. Que seu negócio é ganhar a eleição a qualquer custo, mesmo que isso lhe renda o apelido que ganhou nesta quinta-feira de um youtuber da direita, revoltado com a situação: “Tchutchuca do Centrão”.
A segunda foi uma festa restrita a 2.000 convidados para a cerimônia de posse do novo presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes.
Um encontro de autoridades de várias áreas, que foram dar apoio ao empossado. Apoio esse demonstrado várias vezes por palmas entusiásticas dos presentes.
Bem, nem de todos.
Ficou muito evidente que o presidente da República não tava gostando nadica de nada do discurso de Moraes que reiterava a eficácia das urnas eletrônicas e enaltecia a Democracia. Fez cara de paisagem enquanto ele discursava e no final ficou com cara de koo olhando a plateia em pé que disparava saraivadas de palmas.
Nem ele nem seus cupinchas aplaudiram. Uns em sinal de servilidade e de gratidão pelos cargos recebidos de mão beijada, outros porque eram da família e, portanto, não estão gostando da possibilidade de perder a mamata através do voto limpo, e outros ainda porque estão se beneficiando do puxassaquismo explícito.
Arthur Lira, por exemplo, disfarçando sua ausência de aplauso, ficou meio que olhando pro chão, talvez procurando o pano que costumar passar para o chefe em troca de milhões em emendas parlamentares secretas.
A primeira-nada também não aplaudiu nem deu seus habitais pulinhos típicos de posse de ministro. Esses ela reserva só para os da laia terrivelmente evangélica.
Carlos Bolsonaro, o único penetra da festa, não só não aplaudiu como permaneceu sentado enquanto Alexandre de Moraes era ovacionado de pé pelos convidados.
Amarrou a cara e se comportou como um menino birrento. Mas é compreensível. O pai deve ter prometido que o levaria a uma festinha infantil e acabou levando a uma festa de gente grande.
A vida é assim, Carlixo! Tem festa de arromba e tem festa que arromba. Quando você crescer vai entender isso melhor.
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 19/8/2022.