Passei o feriado de quinta-feira como se fosse um sábado, com direito a pizza, vinho tudo o mais que um sabadão merece.
E aí não deu outra. Me esqueci de escrever o texto que entrego lido, relido e revisado pela minha “equipe” de revisores, impreterivelmente na sexta-feira, no horário do almoço.
Só me dei conta disso durante a insônia desta madrugada. Sem abrir os olhos, fiquei tentando imaginar que horas seriam e que dia da semana era. Ainda meio sonada, olhei o celular e, para minha surpresa, acordei numa sexta-feira e não num domingo.
Então me lembrei de que não tinha texto. Pensei: ainda dá tempo de escrever. São apenas cinco da matina, tenho um tempão até a hora da entrega.
Imediatamente meu cérebro começou a buscar os assuntos mais comentados na semana. O primeiro, claro, era sobre a barbárie cometida contra o indigenista Bruno e o jornalista Dom.
Bateu deprê. Não queria falar sobre o que aconteceu com eles, sobre o descaso das autoridades para iniciar buscas, sobre a falta de empatia do nosso presidente (esse não tem empatia, nem empavó nem empamãe), se referindo aos dois como aventureiros.
Muito menos falar do ministro da justiça Anderson Torres que foi, segundo ele, de livre e espontânea vontade, à Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara pra falar merda. Minimizando a morte dos dois “aventureiros”, disse que “a gente precisa medir as coisas, dar o mesmo valor a todas as vidas no Brasil”, e comparou essas mortes com as os dois policiais rodoviários assassinados por um indigente. Os policiais teriam tentado tirar o homem do meio da BR-116 em Fortaleza e, num momento de distração, perderam a arma para ele e foram mortos.
Esse ministro não tem noção do que fala ou, como todo pau mandado desse governo, foi lá falar o que mandaram? Porque para qualquer ser pensante fica evidente que a situação era outra. Ninguém premeditou a morte desses soldados e eles não foram mortos porque tinham histórias cabeludas pra contar.
Diante disso, achei melhor tentar dormir de novo e procurar um assunto mais leve quando acordasse. Não deu muito certo. Quando abri o celular mais tarde, alguém tinha retuitado o vídeo do delegado da Polícia Federal Alexandre Saraiva. Assisti de novo só pra ter certeza de que o que eu tinha ouvido era verdade. Na entrevista ele declara abertamente que criminosos que agem na Amazônia têm “boa parte dos políticos da região Norte no bolso”. Depois disse que o ex-ministro Ricardo Salles e a lambedora de saco e deputada federal nas horas vagas Carla Zambelli são assim com os homens que traficam madeira. É desanimador, porque se eles são, certamente não fazem escondido do chefe, o que piora ainda mais as coisas.
Outro que deu entrevista esta semana, ou melhor, ouviu perguntas dos jornalistas da Globo News sobre o alto índice de crimes de todas as espécies cometidos na Amazônia foi o vice-presidente da República. Com a desculpa da pressa em pegar um avião, escorregou que nem lesma pra não responder às perguntas. Ou por receio de se comprometer ou por não ter um argumento satisfatório, resolveu ficar em cima do mourão.
Como se vê, só notícia ruim nos chega da maior região brasileira que antes era o orgulho da nação. Triste saber que tudo mudou pra pior.
Bons tempos em que índios e animais dividiam o espaço em harmonia.
Esses selvagens que estão se apropriando da Amazonia são muito mais perigosos do que qualquer Juma Marruá quando fica com reiva!
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 17/6/2022.