Decidi ficar zen na quarta-feira porque era 20 de janeiro, dia de São Sebastião, o santo padroeiro da belíssima cidade do Rio de Janeiro. que foi fundada por Estácio de Sá em 1565 e batizada de São Sebastião do Rio de Janeiro. O nome do santo foi em homenagem ao patrono do jovem rei de Portugal, Dom Sebastião.
Sobre o santo propriamente dito, conta a história que teria se alistado no exército romano, lá pelos idos de 283, só para reacender a fé nos corações enfraquecidos dos torturados pela guerra. Foi considerado traidor e, por isso, flechado até quase morrer. Mas não morreu, foi salvo, voltou e aí sim, morreu espancado.
Como padroeiro não deve ter imaginado que, um dia, teria de cumprir missão muito mais árdua do que a que se propôs como soldado: a de zelar pela cidade maravilhosa enfrentando tantos milicianos, traficantes, políticos corruptos e toda sorte de bandidos, correndo o risco de levar balas perdidas em vez de flechas.
Também porque 20 de janeiro foi o dia da posse do Joe Biden lá nos Estados Unidos. E o que eu tenho a ver com isso? Nada! Bem, nada em termos, porque o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil, já dizia Juracy Magalhães, o primeiro embaixador brasileiro em Washington depois do golpe de 1964.
Será? Pela saia justa criada pelo nosso capacho de Trump, fazendo birra em não cumprimentar o presidente eleito, acho que pelos próximos dois anos (se Bolsonaro conseguir se sustentar no cargo esse tempo todo) vamos sofrer as consequências de mais um ato do inconsequente.
E tem outro motivo: porque 20 de janeiro era dia do meu aniversário e eu não queria me aborrecer com essa porcariada toda a que a gente assiste todos os dias.
Então tentei pôr em prática algumas técnicas de relaxamento que conheço. Comecei pela respiração que, dizem, acalma, quando se inspira pelo nariz e solta o ar vagarosamente pela boca. Na primeira inspirada me lembrei das centenas de doentes lá dos estados do Amazonas e do Pará, que morreram por falta de ar porque nossos governantes simplesmente ignoraram o alerta para a falta de oxigênio que iria acontecer com o aumento de casos de infectados pelo Coronavírus. Desisti dessa técnica.
Tentei uma música relaxante e fiquei imaginando um pássaro voando, mas logo esse pássaro se transformou no avião da Azul que ia buscar vacinas na Índia, mas que ainda estava lá parado no aeroporto porque na “logística” do nosso ministro da Saúde o transporte não poderia ser realizado naquele momento por causa do fuso horário entre o Brasil e aquele país — além do problema da língua, claro! (Será que ele acha que todo mundo é idiota como ele?)
Como não consegui relaxar, comecei a pensar no que faria pro almoço. Já sei! Vou ligar no China in Box e pedir um yakisoba. China? Ah, não. Já perdi o apetite. Lembrei que os insumos necessários à produção das nossas vacinas vêm de lá e as coisas estão meio mal paradas entre nós e eles, por causa do “brilhantíssimo” ex-ministro da Falta de Educação Abraham Weintraub que achou muito engraçado imitar o Cebolinha pra tirar um “salo” dos chineses, e também porque Eduardo Bolsonaro, o filho do homem, foi cutucar a onça com vara curta (será que é por isso que seu apelido é Edu Bananinha?) e publicou nas redes sociais que esse país estava praticando espionagem através da rede de tecnologia 5G.
Bom, mesmo não conseguindo realizar meu intento de ficar zen, me cumprimentei e me desejei muita paciência e saúde física e mental pra ir tocando esse barco e tentar atravessar a tempestade até chegarmos em terra firme. Pelas previsões isso deve acontecer daqui a dois anos, ou antes, se as autoridades decidirem que a negligência de um presidente em relação a vidas humanas, é, sim, um crime de responsabilidade.
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 22/1/2021.