Pior que uma janela indiscreta são duas janelas indiscretas. No novo sobrado em que moro, em um condomínio, meu quarto tem duas janelas que se encontram. Nessa esquina, uma delas abre para o sobrado em obras de um vizinho; a outra, para um fundo de casa. Então saio do banho mal enxugado e entro no quarto como vim ao mundo.
As duas janelas esquecidas abertas. Dou dois passos e ouço uma voz feminina vinda da primeira delas. “Oi, bonitão, desfilando?” No susto, ergo os olhos para ver uma senhora pelo menos sexagenária interessada no despudor de um septuagenário! Mas não, foi só pânico. A voz de timbre agudo era de um pedreiro que conversava com outro, em meio à obra da casa vizinha. Não me notaram, mas por via das dúvidas fechei a janela.
O sobrado é amplo, tem boa área externa. Foi trocado pela vida em dois apartamentos, o da filha e deste narrador. Família unida permanece unida. Mas… descendo dos quartos, estanco um momento na escada, diante da cena que se mostra embaixo, na sala. Dois sofás (vindos dos apartamentos), formam uma esquina. À frente deles, dominando a cena, uma televisão do tamanho de um outdoor!
Bem, não chega a tanto, mas é enorme, com uma definição de imagem espetacular. Nos tempos de hoje, a verdadeira Rainha do Lar. Na tela, um filme, uma história melosa sobre o Natal, reúne a família. Algum empedernido que não queira aderir à tal seção de cinema pode ligar a tevê do quarto e assistir à marcha incessante do noticiário. Se tiver estômago.
PS – A cena do nudismo no quarto realmente aconteceu, mas não houve atentado ao pudor. Ninguém estava vendo.
Dezembro de 2020