“Quando acabar a saliva, tem que ter pólvora”.
Entre outras merdas expelidas na semana e ao longo do seu mandato, o presidente Jair Bolsonaro soltou agora essa pérola, para, digamos, tentar intimidar o Joe Biden (deixe sua risada aqui) caso ele faça alguma retaliação ao Brasil, porque não foi cumprimentado por ele.
Para quem assistiu, é impossível desassociar a frase proferida pelo presidente do filme O Rato Que Ruge, com Peter Sellers.
A comédia conta a história de um paiseco bem pequeno e pobre, que resolve abrir guerra contra os Estados Unidos com a intenção de perder e, assim, conseguir uma ajuda financeira. Acontece que, na ficção, o “incrível” exército formado por soldados armados com arco e flecha ganha a guerra.
A frase deu muito pano pra manga: de um lado, os analistas políticos descendo o cacete no presidente pelo ato. Consideram que isso, além de não ser nada educado por parte do chefe da nação, também pode acarretar sérios atritos comerciais entre Brasil e Estados Unidos.
Já os internautas estão até agora nadando de braçada nas redes sociais, ridicularizando com palavras e memes mais essa estupidez dita pelo seu Jair.
No mesmo pacote de bobagens ele disse que precisamos deixar de ser “maricas” em relação à pandemia. Isso inclui seu ministro da Saúde, presidente? Aquele que posou em vídeo ao seu lado contando como ficou “zero bala” com a hidroxicloroquina e a invermectina no terceiro dia da doença? Sobre ele ter sido internado em dois hospitais por 20 dias e ter reaparecido nesta última quarta-feira dizendo que ainda não está totalmente recuperado, ninguém abriu o bico.
Depois da repercussão mais do que negativa dessas falas, Jair Bolsonaro fez uma live e disse que foi um “desabafo”, e que ele fala “com o coração”.
Não é por nada não, seu Jair, mas aí já é falar com o intestino mesmo!
Mas como ainda tem bolsonaristas espalhados por aí (parece incrível mas eles existem, assim como ainda existem lulistas), uma parte dos internautas defende que é issu memo. Que não tem nada de cumprimentar presidente que ganhou as eleições por “fraude”.
Esta afirmação sustentada pelo gado brasileiro veio do próprio homem cor de laranja, que, provavelmente, já prevendo que ia levar um ferro nas eleições, encarnou o ministro da Propaganda nazista Joseph Goebbels, e adotou sua tática: “uma mentira dita mil vezes torna-se verdade”.
Às vezes a frase funciona. No caso de Lula, por exemplo, mesmo com fotos tiradas dele e da família no sítio de Atibaia e no apartamento do Guarujá, ele e seu gado repetem: “não há provas”.
No caso do Trump, parece que ainda tem adoradores esperando germinar essa semente que ele espalhou no pasto: “vai ter fraude”.
Pra gente aqui é até meio difícil entender como funcionam as eleições nos Estados Unidos, mas sabemos que quem consegue formar mais delegados para o colégio eleitoral ganha as eleições. The rule is clear, diria Arnaldo César Rabbit.
Então, my son, enfia a viola no saco e cai fora. Quando você perdeu nas urnas pra Hillary Clinton e ganhou no colégio eleitoral, a palavra fraude nem passou pela tua cabeça, né?
Admita que o vocábulo que você tanto usou durante sua gestão, se referindo aos adversários, agora te serve como uma luva: LOSER!
Ah, e não se esqueça da lei do inquilinato. Quando você desocupa o imóvel tem de deixar exatamente como encontrou. Então, se for o caso, dê uma pintada nas paredes e deixe a Casa Branca bem branquinha, talquei?
Esta crônica foi originalmente publicada em O Boletim, em 12/11/2020.