Marina é uma criatura doce e fofa, e isso não é novidade alguma – mas há dias em que ela excede, que nem diziam os anúncios da Shell na época em que Os Mutantes gravaram aquele jingle, Em que exagera, que nem o Cazuza. Nesta quinta-feira, na telenetada número 82, estava assim – excedendo, exagerando a doçura, a fofuce.
Há dias em que ela tem momentos de irritação, de chatice, de ranhetice. Todo mundo tem. Até o papa tem – quem não lembra do tapinha que ele deu numa fanzoca na Praça São Pedro, naquele tempo em que ele ia à Praça São Pedro e ficava perto dos fiéis e das fanzocas? Não há registro do Dalai Lama demonstrando irritação, mas seguramente ele também tem lá seus momentos. Até Jesus Cristo teve…
Mas o texto tomou aí um caminho que não era exatamente o que eu queria. Há esse problema com os textos, eles às vezes insistem em se escrever por eles mesmos.
Eu queria dizer que Marina, como todo ser humano, tem seus momentos de irritação – e, diacho, como impedir que uma criança de 7 anos e quase 4 meses tenha momentos de irritação, depois de mais de 100 dias de quarentena, trancada em casa, sem poder brincar com as amigas, as vizinhas, as colegas?
Nesta semana mesmo comentei com a mãe dela sobre essa coisa de Marina, afinal de contas, estar alegrinha, bem disposta a grande maior parte do tempo, e aí a minha filha deu uma resposta ótima, deliciosamente bem humorada, de um bom humor inesperado vindo de quem tem que trabalhar num home office duro demais, fazer faxina, organizar a casa, cozinhar, cuidar da roupa a ser lavada e ainda tourear os 200 bilhões de watts de energia de uma criança de 7 anos e quase 4 meses trancada em casa:
– È o normal dela estar bem mesmo – tirando a hora de lavar os potes da gata, a hora de tomar banho e a hora de fazer qualquer uma das obrigações…
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Mas nesta quinta a criaturinha que sempre está bem – tirando a hora das obrigações e das coisas que ela não quer fazer – estava ainda mais doce e fofa que o normal.
Quis prosseguir a brincadeira iniciada no dia anterior: o casal Ken e Fernanda estava com a filha Miranda, 12 anos de idade, tirando uns bons dias de férias num maravilhoso hotel à beira-mar.
Ken, Fernanda e Miranda eram interpretados por bonecas/boneco Barbies, nossas velhas amigas.
Na brincadeira da quarta, tinham chegado ao hotel. Enquanto Ken ficava tirando uma soneca no quarto, Fernanda foi ao spa do hotel, e depois ao salão de beleza. E quem diria: a dona do spa, do salão, de todo o hotel, era ninguém menos que nossa velha amiga Luna, a que faz tudo, absolutamente tudo!
Na brincadeira desta quinta, teve festa à noite; papai e mamãe dançaram muito. Pela manhã, os três se prepararam cuidadosamente para o café da manhã, e, em seguida, foram para a praia.
O faz-de-conta que Marina cria é fascinante. As histórias dela sempre têm alguns elementos absolutamente simples, do cotidiano mais comezinho, como essa coisa da preparação da família para descer para o café da manhã. Marina levou uns bons 10, talvez 15 minutos para preparar os bonequinhos, perdão, o casal Ken e Fernanda e sua filha Miranda para irem para o café da manhã. Põe as roupinhas neles com extremo cuidado, com toda a atenção, super focada. Depois cuida dos cabelos, com a maior calma, o maior empenho.
Mas o dia-a-dia, o cotidiano que parece o dela, esse naturalismo de suas narrativas, isso se mistura, de maneira fascinante, com rasgos da mais solta fantasia. É algo assim, se me permitem, uma mistura do realismo absoluto de um Émile Zola, um Aluisio Azevedo, com momentos de um realismo fantástico de José J. Veiga, Gabriel García Márquez…
Ken, Fernanda e Miranda arrumaram as coisas de que iriam precisar na praia em uma maletinha. E foram do salão do café da manhã até a areia da praia voando sobre a maleta. Antes de se sentar na canga para se bronzear, Fernanda usou um protetor solar que, mágico, ele mesmo se passa na pessoa, voando em torno da pele do usuário. Sem necessidade de uma pessoa pedir à outra para passar o protetor nas costas, como a gente faz…
Ah…
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Marina não é um exemplo de pontualidade.
O combinado é que nossas brincadeiras comecem às 11h30 e terminem às 13h – mas é raro Marina estar rente que nem pão quente para ligar às 11h30.
Às quintas, no entanto, ela costuma ser britânica. Às quintas, como a mãe está ocupada nesse horário, toca um alarme – e hoje aconteceu que, quando a vovó e eu nos preparávamos para, como todos os dias, enviar um “Bom dia, Marina” exatamente às 11h30, fomos surpreendidos com uma mensagem dela. “Bom dia, vovô e vovó. Posso ligar”
Respondi imediatamente: “Claro!!! Pode ligar!!!”
E aí percebemos que ela retirou a mensagem que havia enviado. E mandou uma nova: ”Posso ligar?”
Depois que foi feita a ligação, nos demos bom dia, começamos a conversar, perguntei para Marina – antes mesmo de iniciar as brincadeiras –= por que ela havia retirado a primeira mensagem de texto enviado.
Explicou que percebeu que não tinha colocado o ponto de interrogação, e por isso retirou. E aí mandou uma nova mensagem com o ponto de interrogação.
Ah, meu…
O coração do velho copydesk sobe três oitavas e explode.
9/7/2020
Nas fotos – de Carlos Bêla -. Marina experimenta modelitos enviados pela Maîson Abuelita.
Eita amor que explode e escorre pelas palavras. Sentir assim, é bom demais! Esta capacidade de amar, ninguém leva da gente! E ela permanece firme mesmo na pandemia. Quer razão melhor para estarmos vivos?
Ps- Marina é quase uma modelo profissional ! Lindas fotos!
Marina domina com categoria a cena! Não é a toa que vovô baba e não para de se surpreender. Ela é mesmo uma doçura.
Olga e Valdir, caríssimos, obrigado pelos comentários deliciosos.
Grande abraço!
Sérgio
Está lindíssima a Marina, gostei muito de ver.