Velhos cadernos de receitas fazem bem ao paladar, ao afeto e à memória de uma família. Em nossa casa temos dois; um para salgados, outro para doces. Estão bem velhos, um deles sem a capa. As receitas, lançadas à mão, mostram caligrafias diferentes.
Muitas são da Haydèe. Já o Pão doce-Elza foi registrado por minha mãe, falecida há muitos anos (a família adorava, era um pão doce descomunal).
Os cadernos eram um espaço democrático. O Bolo Gelado foi registrado pela Conceição, nossa primeira empregada, que além de cozinhar mimava nossos filhos crianças. A filha, já crescida, lançaria um prato autoral, o Doce da Mônica. Pelos ingredientes (leite, açúcar, chocolate a gosto, manteiga, deve ser parente do brigadeiro).
Até nossa reportagem comparece com uma Lula à la mode – do que ou de quem não lembra, pois seguramente copiou de algum lugar. Minha irmã, Yara, deixou um harmonioso bolo de chocolate que além do próprio leva claras em neve.
Um dos pratos muito apreciados, nas festas em casa, era um vatapá que não se assemelhava inteiramente ao original baiano. Haydèe nos deixou sem registrar o prato nos cadernos. Mas a irmã dela, Dena, sabe preparar muito bem.
Recentemente, perguntei à Dena se ainda lembrava como fazer. Ela começou a recitar a fórmula, de memória. Quando percebi o que vinha, peguei o caderno e passei a anotar. É complicado. Fazem-se três outros pratos, enquanto a base da moqueca começa a ser preparada, em um panelão. Quando chega o momento, os três offside são incorporados ao panelão e toca mexer.
. Onde vocês acharam isso? – pergunto à Dena.
Resposta: no Suplemento Feminino do Estadão, vejam só. Há muito tempo.
Graças à minha diligência, agora a receita está no papel.
Julho de 2018