Oba! Tá quase acabando! Os livros e a papelada das pastas suspensas já estão no lugar. Agora só falta arrumar as miudezas.
Cunhei a frase neste domingo bem cedo, depois que, irremediavelmente acordado pensando na casa toda ainda de pernas para o ar pós descupinização e ainda no meio da pintura (já que…), me levantei meio zonzo e juntei as miudezas espalhadas pela sala e pelo quarto da filha agora da neta e pus tudo na cama do escritório para ver onde raios vamos guardar cada coisa.
Ah… Tá quase acabando…
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O amigo que por acaso vier dar com esta anotação aqui já deve ter reparado, seguramente, com toda certeza: quando você vai arrumar uma gaveta, uma prateleira, é fácil arrumar as coisas principais. O duro é que sempre sobram três ou quatro miudezas que você simplesmente não sabe onde guardar. (Melhor não usar a expressão “onde enfiar”.)
Pois é: na arrumação da casa, não deu outra. As 25 toneladas de papel foram devidamente guardadas nas pastas suspensas, rigorosamente em ordem. Os livros todos foram reorganizados.
(E, sim, houve algumas doses de desapego, ingeridas como criança que bebe óleo de fígado de bacalhau, mas houve. Botei muito papel fora, separei vários livros para levar para o sebo. Quer saber? Mais do que eu imaginava que seria capaz. Como não tinha outro jeito, como definitivamente São Paulo não cabe em São Caetano, me desfiz, ainda que a duras penas, das minhas coleções das revistas Première francesa e da Premiere americana, que fui fazendo ao longo de anos e anos comprando do João da Livraria Roteiro.
Não houve desapego possível em relação à revista Studio, aquela maravilha. Essa, confinamos direitinho no Buraco 2, junto do meu pé esquerdo e do subwoofer do som Creative do computador.
Mary, por sua vez, parece ter tomado lições com os melhores budistas da praça, e se desapegou fácil de montanhas, montanhas, montanhas de papel e publicações. Aferrou-se como mãe judia aos papéis sobre os trabalhos da Constituinte, que cobriu como repórter com empenho e brilho para O Globo, mas aí quem há de reclamar? Guardo cada página do Jornal da Tarde com texto meu, desde o primeirozinho, de julho de 1970, cinco anos antes da mãe de Marina nascer. Estão no fundo mais fundo do Buraco 1 do escritório, dentro de uma das duas últimas caixas d’água Eternit que sobraram na casa, de todas as 495 que em 1988 ocuparam a sala.
Fecha parênteses sobre desapego.)
***
E então a papelada das pastas suspensas e os livros foram todos reorganizados – sobraram só as miudezas.
Mary e eu nos atracamos com as miudezas durante boa parte da tarde. Conseguimos algumas vitórias. Os papéis em branco, agendas em branco, agendinhas em branco, costas de blocos de trabalho em branco e assemelhados foram bem acondicionados nas gavetas embaixo da cama do escritório, assim como as pastas de plástico e as pastas de papel grosso e os envelopes de todos os tamanhos e tipos.
Uma das duas grandes latas do Empório Santa Maria, carregado de documentos de arquivo a rigor morto, mas sabe-se lá, foi quietinha para o Buraco 1, assim como a caixa-arquivo absolutamente estufada e absolutamente preciosa que contém toda a minha correspondência com Regina, mais diários dela da época do nosso casamento que ela me deixou.
Sobraram – e sobram ainda – umas 15 caixas com miudezas que nem tive coragem de abrir hoje, porque lá pelas tantas me ocorreu que o melhor seria ir ver exatamente o que ocupava a parte do alto do armário embutido do nosso quarto.
E lá – aleluia! – havia muita coisa fácil de a gente se desapegar. Recibos de contas pagas muito, muito antigas. Revistas e mais revistas que não víamos fazia anos e que não farão falta alguma. Montes de porcaria, que encheram mais um enorme caixote de coisas desapegadas.
No entanto, no meio de papelada que há muito tempo guardei como sendo arquivo morto, encontrei um monte de coisas interessantes.
Até no armário embutido do quarto de Indiana Jones há tesouros arqueológicos preciosos.
10/12/2017
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