E o Brasil?

Ora, o Brasil, quer dizer, nós, os que habitamos este imenso território, nós, que procriamos, trabalhamos, sofremos, pagamos impostos, assistimos em silêncio à tempestade que se forma sobre nossas cabeças e que a cada dia se avoluma, e que só temos voz na hora de votar, nós que nos danemos!

Assim pensam as autoridades deste país que só regride, regride, regride. Mas, como disse o pedreiro Antonio Furtado Costa, morador da Grande Belém, capital do Pará: “A gente é simples, mas não é besta” (O Globo, 12/11, pg. 3).

Pois é isso mesmo, Antonio. Bestas não somos. Os graúdos que se cuidem…

O jornalista Ricardo Noblat postou neste seu Blog, em 11/11, nota intitulada “Lula deve estar triste”. E explica qual o motivo, em sua opinião, para a tristeza do ex-presidente: o susto que levou ao ser informado dos descalabros do mensalão e do petrolão, pois o coitado, ingênuo, de todo inocente, não tinha a menor idéia do que se passava naquela empresa que já foi grande e que hoje é um camundongo acuado.

Pois ouso discordar do Noblat, meu mestre, cuja credibilidade é de tal ordem que digo claramente: ele forma minha opinião. Mas, como toda regra, há exceções e esta é uma delas: Lula está triste, sim, mas não pelo susto que não levou. Ele está amargurado por causa das agruras e desventuras do presidente da Câmara, o homem que tem em suas mãos a caneta que pode dar partida para o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Segundo o ex-ministro Nelson Jobim (de qual pasta? já nem lembro, foram tantas…), conselheiro do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para questões jurídicas e políticas, “o melhor cenário para Lula é o impeachment”.

Como Lula é uma metamorfose ambulante, pode ser que hoje a opinião de Jobim seja a errada, assim como é possível que o ex-presidente sinta tristeza pelos motivos citados por Noblat.

Mas, certamente, o Brasil não é o motivo principal de sua tristeza. Pois, se fosse, a cartilha assinada pelo PT e publicada ontem, teria sido rasgada em mil pedaços e engolida pelos que a assinaram.

Pelo menos é o que eu faria com um texto que acusa “a força-tarefa da Operação Lava Jato, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes e setores da imprensa de agirem deliberadamente, com base em ‘mentiras’, para ‘eliminar o partido da vida política brasileira’.”

Ao contrário do que diz essa cartilha que é uma ode aos malfeitos, nós, brasileiros, devemos aplaudir e honrar o bravo juiz Sergio Moro, o Ministério Público e a PF e resistir aos que tentam rotular de modo injusto o ministro Gilmar Mendes, do STF.

Porém, mais do que tudo, devemos ser gratos à imprensa, essa instituição que é a que mais pensa no país, já que é a que nos mantém, a nós, os indigitados cidadãos, informados de todas as patranhas perpetradas contra o Brasil.

Podem esquadrinhar todos os palanques de Lula e dona Dilma nestes últimos meses e verão que eles só sabem lutar por uma causa: a manutenção do poder. Governar o país é de somenos importância. O que importa é manter o leme em mãos petistas, agora e, se possível, por muitos e muitos anos!

Contudo, muita gordura nas mãos pode prejudicar as manobras e aí o leme, escorregadio, acaba levando a nave para o lado oposto do que querem seus comandantes.

Como não somos bestas, não é, Antonio?, recomendamos aos graúdos que lavem bem as mãos, retirem toda a gordura e segurem com firmeza o leme para que o Brasil volte a navegar para o futuro e deixe de vez a miragem do passado para trás.

***

Dentre os muitos golpes que sofremos nesta semana que se encerra um me tocou profundamente: perder Sandra Moreyra tão moça ainda. Herdeira do talento do avô Álvaro Moreyra e do pai Sandro, seu texto belíssimo, sua inteligência e sua alegria farão muita falta, por muito tempo.

Este artigo foi originalmente publicado no Blog do Noblat, em 13/11/2015. 

Um comentário para “E o Brasil?”

  1. Devemos ser gratos à imprensa…
    … mais do que tudo, devemos ser gratos à imprensa, essa instituição que é a que mais pensa no país, já que é a que nos mantém, a nós, os indigitados cidadãos, informados de todas as patranhas perpetradas contra o Brasil.

    Não existe jornalismo sem fonte. Nenhuma narrativa se sustenta apenas no que pensam e sentem os repórteres. É preciso recolher dados, comparar versões, checar, conferir, estabelecer conexões e apresentar contextos. Sem isso, o que se apresenta é meramente um conjunto de dados que podem estar incorretos, incompletos, imprecisos, viciados por interesses que se distanciem das expectativas e demandas do público. Por isso e por uma série de outras razões que não é fácil fazer jornalismo. Ele exige demais de quem se dedica a essa tarefa, e os públicos não devem exigir menos dos jornalistas.

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