Jornalistas analfabetos – ou pior ainda

A pessoa que escreveu o olho, o texto de abertura, logo abaixo do título da matéria de capa da revista São Paulo, da Folha de S. Paulo de 7 de junho, deveria ser demitida por justa causa.

O fato de ela não ter sido demitida, e de o erro crasso, absurdo, inominável que cometeu sequer ter sido motivo de comentário algum, comprova que a tal pátria educadora está cheia de analfabetos em todos os lugares. Há analfabetos até mesmo no posto de editor de um dos três grandes jornais do país, e justamente aquele que, cheio de empáfia, se considera o melhor, o mais perfeito.

A matéria de capa é “O sexo e a cidade”. O título da matéria é “Voo sobre o sexo”. Logo abaixo do título, vem a frase canhestra, grotesca:

“Apesar de informado e com mais parceiros, pesquisa da Secretaria Municipal da Saúde mostra que paulistano deixa prevenção de lado e assume risco nas relações.”

É um erro descomunal – mas ao mesmo tempo talvez não pareça tão óbvio para todas as pessoas que fizeram um curso básico com alguma seriedade.

O que o jornalista da Folha de S. Paulo pretendeu expressar foi o seguinte:

“Apesar de informado e com mais parceiros, paulistano deixa prevenção de lado e assume risco nas relações, segundo pesquisa da Secretaria Municipal da Saúde.”

Do jeito que o jornalista escreveu – e foi publicado! -, a pesquisa da Secretaria é que é informada e com mais parceiros.

Este é, infelizmente, um erro bastante comum. Costumo chamá-lo de falso aposto. Escrever uma frase com um falso aposto não indica apenas que a pessoa não conhece a língua, os instrumentos básicos da língua, os rudimentos da gramática. Não – é muito, muito pior. Indica que a pessoa não entende o que é a lógica. Indica que a pessoa não aprendeu a pensar de forma lógica, racional.

Muito provavelmente, se alguém mostrar esse erro absurdo, grotesco, primário, pro Otavinho Frias, e ele mandar alguém dar bronca no autor do olho, o sujeito (ou a moça) não conseguirá compreender que cometeu um erro.

Como assim que é o paulista e não a pesquisa que está mais informado e com mais parceiros?, perguntará o energúmeno.

Tadinho. A palavra é feia, mas é isso que ele (ou ela) é. Português a gente pode até aprender. Agora, aprender a pensar é um pouco mais difícil.

Eu mesmo tive experiências assim. Na Agência Estado, um belo dia uma redatora publicou os resultados errados de uma Quina ou sei lá o que dos muitos jogos da Caixa Econômica. Pegou números de outra extração, de outra data, e publicou.

Tive um ataque histérico, e, como fiz pouquíssimas vezes na vida, berrei sobre erro de subalterno. A moça ficou chocada com meus berros – e nisso ela tinha razão. Piscou os olhos, e disse que não compreendia por que tanta indignação diante do fato de a Agência ter divulgado para trocentos clientes números errados de uma loteria da Caixa.

Deveria ter sido demitida no ato, por justa causa, assim como o autor do olho da Folha criminosamente contrário à lógica.

Ah, bem, mas houve também o caso da moça (outra moça, não a mesma dos números errados da Loteria) que, como não havia recebido a tábua das marés daquele dia, divulgou uma tábua de um outro dia qualquer. Tadinha: ela não tinha idéia do que significa a tábua de marés.

Assim como o/a jornalista da Folha, tadinho/a, não tem idéia do que significa a lógica.

Era caso de demissão por justa causa. Mas, é claro, acompanhada de pedido de desculpas aos leitores.

10 de junho de 2015

6 Comentários para “Jornalistas analfabetos – ou pior ainda”

  1. Servaz, queria lembrar dessa história da tábua das marés. como por muitos anos eu e a Patrícia fizemos esse trabalho, não me lembro de em qualquer momento ter trocado as tábuas. Aliás, as tábuas não chegavam diariamente. Havia uma publicação de um órgão público que continha as tábuas do ano todo, dia a dia. Por isso, dificilmente alguém poderia alegar não ter recebido a tábua das marés do dia. bj.

  2. A maré astronômica é um fenômeno caracterizado pela subida e descida periódicas do nível do mar e de outros corpos de água que tem uma ligação com o mesmo (estuários, lagunas, etc.). A maré astronômica resulta da atração gravitacional exercida pela Lua e pelo Sol sobre a Terra. A tábua de marés fornece a altura da maré astronômica na baixa-mar (maré baixa) e na preamar (maré alta) e a hora em que elas ocorrem em um determinado local. em qualquer lugar do Brasil, a tábua de marés é elaborada pela Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha (DHN).

    O LUIZ CARLOS toda vez que vai para ALAGOAS pescar, consulta a tábua das marés.

  3. Na verdade, só consulto os índices de balneabilidade das praias, Miltinho. Sou ansioso demais para ficar sentado horas esperando os peixes morderem a isca. Prefiro pescar nos supermercados e peixarias de Maceió.

  4. ACUSO RECEBIMENTO!

    SERGIO amigo voce é o gato malandro que come peixe sem ir ao mar! Está cada vez mais tucano! Sua amizade, aqui, cada vez mais forte, autoriza a censura.

    O Brasil está triste, está pequeno, menor, e com o BRASIL minha alma triste com o falecimento de enorme homem, cabeça maravilhosa, jornalista e letrista que com textos e palavras marcaram a TRAVESSIA em minha vida. Quando ele foi embora fez-se noite em meu viver. Até Fernando Brant, breve pretendo conhece-lo pessoalmente e quem sabe pedir um autógrafo.

  5. Realmente, como bem citado, é “…um erro bastante comum”(sic). E não fica só na imprensa escrita. Hoje, acompanhando a GloboNews, senti-me envergonhado com a mediocridade dalgumas perguntas formuladas pelos jornalistas e repórteres, presentes ao esclarecimento da nova lei de Aposentadoria.
    Lamentável!

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